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Tons de azul e laranja chegam para desbancar a hegemonia branca nos carros

O azul está chegando aos carros brasileiros, acompanhado de tons alaranjados. A tendência aparece tanto por fora quanto por dentro dos veículos.

A influência são os apetrechos tecnológicos e a decoração de interiores. O movimento foi detectado pelas fabricantes de tintas. Andre Oliva de Palma, gerente do laboratório de desenvolvimento de cores da Basf, afirma que a indústria automotiva acompanha a evolução dos gadgets e de suas cores.

Andre lembra que o branco, cor predominante hoje, apareceu como tendência para automóveis em 2006. A origem estava nos equipamentos da moda naquela época, com destaque para o iPod.

Esses aparelhos misturavam leveza e tecnologia, e as montadoras seguiram esse caminho para tentar mostrar que os carros podiam ter as mesmas características.

"Com o tempo, o branco começou a ultrapassar o prata, antes também ligado à tecnologia", diz Andre, que vê a perpetuação do branco em suas variantes peroladas.

A busca constante da indústria por parecer moderna e até futurista, que levou ao branco, repete a trajetória rumo ao azul.

"Tenho visto um caminho muito interessante para essa cor, em várias tonalidades, desde o mais profundo. As tendências de consumo se entrelaçam, e enxergamos essa cor na tela dos gadgets, na luz que emitem", afirma Isabella Vianna, designer do grupo FCA Fiat Chrysler.

O azul tem sido a cor escolhida pelas montadoras ao apresentar um novo modelo.

A Fiat lança a picape Toro 2020 pintada de "azul jazz", nome fantasia para azul-marinho metalizado. Na Honda, as linhas 2019 do hatch Fit e dos sedãs City e Civic foram apresentadas em variações desse mesmo tom.

A Citroën chama de "azul esmeralda" a cor de lançamento do jipinho urbano C4 Cactus.

"Ela começa a aparecer firme e forte, com personalidade, em uma paleta esticada que vai até tons com pérola e alumínio", diz Fabien Darche, gerente de cores e materiais do grupo PSA Peugeot Citroën na América Latina.

Já o laranja vem do design de interiores e é mais comum na parte de dentro dos carros.

A Nissan, no entanto, levou a cor para o lado de fora. No jipinho Kicks, o tom aparece no teto, com carroceria em cinza –a pintura em duas cores é outra tendência detectada pela Basf. Na Renault, ela está em detalhes na cabine do compacto Kwid Outsider.

Variações que tendem para bronze e marrom surgem no interior de carros da Volkswagen e da Ford, sempre com estilo fora de estrada.

Apesar de serem oferecidos por todas as montadoras, os tons de azul estão longe de tomar as ruas brasileiras. Branco, prata, cinza e preto dominam o mercado. Na América do Sul, segundo a fabricante PPG, 88% dos motoristas preferiram essas cores em 2018.

Fabien explica que essa predominância está relacionada com a forma de comprar automóveis e o histórico econômico do Brasil. Nos tempos de hiperinflação, por exemplo, adquirir um veículo novo era uma maneira de preservar o capital.

"O carro é um bem de consumo ainda visto por muitos como poupança. Não é mais o caso. Tivemos o mesmo problema na Europa. Não escolhiam algumas cores por medo de desvalorização", diz.

Para atender os desejos de consumidores que sonham com o azul, mas compram o prata, a Basf desenvolveu uma coleção em que o cinza predomina, mas com pigmentos que o deixam mais azulado.

É uma combinação que tem sido vista em protótipos elétricos, como o Mercedes EQC, que precisam passar o aspecto futurista tão perseguido pelas montadoras.

São as marcas premium como a Mercedes que mais ousam nas escolhas das cores. A companhia tem pinturas foscas que parecem mudar de cor com a incidência da luz. São tintas caras, vendidas sob encomenda em carros cujo valor ultrapassa R$ 1 milhão.

"Trabalhamos com duas vertentes, mantendo as cores tradicionais que agradam grande parte dos clientes. Ao mesmo tempo, oferecemos pinturas mais vibrantes, seguindo uma tendência de mercado e do consumidor", diz Evandro Bastos, gerente de marketing e produto da Mercedes-Benz do Brasil.

Essas decisões sobre a paleta são o resultado de estudos contínuos que buscam fazer previsões para períodos de três a cinco anos, diz Andre, da Basf. Do lado das montadoras, as decisões passam por consultas feitas com potenciais clientes, chamadas clínicas.

"Uma pergunta básica em toda clínica para novas cores, especialmente as mais fortes, é 'você gosta desta cor?'. A resposta muitas vezes é 'sim, adorei'. Aí perguntamos se o entrevistado compraria um carro naquela cor, e a resposta é não", diz Luiz Alberto Veiga, designer que trabalhou por 40 anos na Volkswagen.

De acordo com Luiz, o desenvolvimento de uma cor leva cerca de 18 meses.

Além de destacar as formas do veículo e atender aos desejos de quem vai comprar, a pintura precisa ser resistente. O custo é alto, o que acaba levando a escolhas conservadoras por parte das montadoras. "Há uma questão financeira na inovação. Por isso a maioria dos novos tons é reprovada", diz Luiz.

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38%
Percentual de compradores na América do Sul que preferiram veículos em tons de branco no ano passado, de acordo com levantamento da fabricante de tintas PPG. O prata apareceu em segundo lugar, com 30%, seguido pelo preto e pelo cinza, ambos com 10%

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