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Nadadores americanos ficam retidos por quatro horas e não depõem

A Polícia Federal impediu, na noite desta quarta (17), o embarque para os Estados Unidos dos nadadores Gunnar Bentz, 20, e Jack Conger, 21. A dupla teve os passaportes apreendidos e foi levada para a delegacia da Polícia Civil do aeroporto, mas não prestou depoimento.

Os nadadores ficaram retidos por mais de quatro horas, após serem impedidos de embarcar no voo 128 da United Airlines com destino a Houston (EUA). Três funcionários do consulado americano e um advogado orientaram os dois a permanecerem em silêncio.

Tasso Marcelo/AFP
Os nadadores americanos Gunnar Bentz (esq.) e Jack Conger (de cinza) ao deixar delegacia do aeroporto
Gunnar Bentz (esq.) e Jack Conger (de cinza) ao deixar delegacia

No final, a dupla se comprometeu a se apresentar nesta quinta-feira (18) na Delegacia de Apoio ao Turista, que cuida do caso.

"Eles ficaram muito assustados, sem entender por que foram impedidos de embarcar", disse o advogado Sérgio Guerra.

"Meus clientes foram retirados do avião e conduzidos para depor coercitivamente, o que é uma aberração jurídica. Mas o que mais causa espécie é a retenção do passaporte de testemunhas", protestou.

Segundo a defesa, haveria uma contradição entre a postura dos agentes e a ordem judicial para encontrá-los, e os atletas só devem cooperar quando o episódio for esclarecido.

Bentz e Conger estavam juntos com os nadadores Ryan Lochte, 32, e Jimmy Feigen, 26, quando disseram que foram assaltados no domingo (14) na Barra da Tijuca.

A PF atendeu determinação da Justiça que impede os americanos de viajar até prestarem esclarecimentos à Polícia Civil.

Quando o suposto assalto veio à tona, eles não quiseram depor a respeito na polícia.

"Nós podemos confirmar que Jack Conger e Gunnar Bentz foram retirados de seu voo para os Estados Unidos por autoridades brasileiras. Estamos coletando mais informações", disse Patrick Sandusky, porta-voz do comitê olímpico americano.

A embaixada americana divulgou uma nota nesta quinta-feira (18) sobre o caso.

"Tomamos ciência de reportagens na mídia sobre dois nadadores americanos que foram detidos. Estamos prontos para prestar qualquer assistência consular que seja apropriada. Devido a considerações sobre privacidade, não temos mais nenhuma informação a fornecer. Pedimos que contatem as autoridades brasileiras para mais informações sobre este caso. Quando num país estrangeiro, um cidadão americano é sujeito às leis e regulamentos daquele país. Pedimos que contatem as autoridades brasileiras para mais informações sobre este caso", informa.

JUÍZA VÊ DIVERGÊNCIA EM RELATOS

Na quarta-feira, a Justiça do Rio determinou a apreensão dos passaportes dos nadadores norte-americanos Ryan Lochte e James Feigen, que relataram terem sofrido um assalto à mão armada no Rio na madrugada de domingo (14).

Com a medida, os dois atletas estariam proibidos de deixar o país.

Ryan Lochte, porém, já tinha embarcado na segunda (15) para os Estados Unidos. Jimmy Feigen foi procurado pela polícia nesta manhã de quarta e não foi encontrado. O comitê dos EUA explicou que não informa o paradeiro de seus atletas por motivo de segurança.

Na decisão, a juíza Keyla Blanc De Cnop, do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, aponta possíveis divergências nos relatos dos nadadores.

Em nota, o comitê olímpico dos EUA informou que a polícia do Rio esteve na Vila Olímpica na manhã desta quarta-feira (17). A entidade disse que os atletas não estão mais na vila e que não informará para onde eles foram.

"A polícia chegou à Vila Olímpica nesta manhã [quarta] e solicitou um encontro com Ryan Lochte e James Feign e o recolhimento dos passaportes a fim de garantir mais um depoimento dos atletas. O time de natação dos EUA deixou a vila após o final da competição, então não conseguimos colocar os atletas em disposição", afirmou Patrick Sandusky, dirigente do comitê dos EUA.

"Além disso, como parte do nosso protocolo de segurança, não divulgamos os planos de viagens dos atletas e, portanto, não podemos confirmar a localização atual deles", completou.

A decisão da juíza atende a um pedido do Ministério Público do Rio, que solicitou a realização de novas diligências para apurar possível prática do delito de comunicação falsa de crime por parte dos nadadores.

Segundo a juíza, os depoimentos contraditórios levam a conclusão prévia de que as informações prestadas pelos atletas são inverídicas.

Veja vídeo

Crédito vídeo: Daily Mail

Ryan Lochte disse em depoimento à Polícia Civil que os esportistas teriam sido abordados por um assaltante armado, que exigiu a entrega de US$ 400.

James Feigen deu declarações diferentes aos policiais. Ele afirmou que os atletas foram surpreendidos por alguns assaltantes, mas que apenas um deles estava armado.

Na decisão, a juíza aponta ainda o comportamento dos atletas na chegada à Vila dos Atletas, depois de supostamente terem sido assaltados após saírem uma festa na zona sul do Rio.

"Percebe-se que as supostas vítimas chegaram com suas integridades físicas e psicológicas inabaladas, fazendo, inclusive, brincadeiras uns com os outros", afirma a magistrada, com base nos registros das câmeras de segurança da Vila.

De acordo com o chefe da Polícia Civil do Rio, Fernando Veloso, o nadador Ryan Lochte pode responder por falsa comunicação de crime e dano ao patrimônio, se for comprovado que ele depredou o sanitário de um posto de gasolina na Barra da Tijuca.

Falsa comunicação de crime implica em detenção de um a seis meses, ou multa.

Ueslei Marcelino/Reuters
Os nadadores americanos Jack Conger e Gunnar Bentz são levados para a polícia no Rio
Os nadadores americanos Jack Conger e Gunnar Bentz são levados para a polícia no Rio

O QUE JÁ SE SABE, O QUE FALTA ESCLARECER

1 - Quem são os dois homens que detiveram os quatro nadadores no posto de gasolina?
Em depoimento à Polícia Civil do Rio, ambos disseram ser agentes da Secretaria de Administração Penitenciária de Minas Gerais; a polícia afirmou que seriam seguranças do posto, e ao menos um dos funcionários confirmou, declarando que um dos agentes era "vigilante do posto". O dono do estabelecimento, no entanto, negou, dizendo que eram clientes

2 - Eles estavam armados? Tinham autorização para isso? Usaram suas armas?
Sim, e, como agentes penitenciários, têm porte de arma. Eles afirmaram ter sacado suas pistolas calibre 380 quando acharam que seriam atacados por Lochte e Feigen, e ordenaram que os quatro sentassem; o chefe de Polícia Civil disse que "não houve qualquer violência ou abuso no uso da arma". Lochte disse que um dos homens apontou uma arma para sua cabeça, mandando que ele sentasse

3 - O que os nadadores quebraram no posto?
Segundo funcionários do posto, os americanos arrancaram uma placa de publicidade, quebraram a saboneteira e a papeleira do banheiro e urinaram num canteiro

4 - Quanto dinheiro eles deixaram, e em que condições?
Segundo os funcionários do posto e os agentes penitenciários, um dos nadadores, Gunnar Bentz, deu uma nota de US$ 20 e duas de R$ 50 para pagar pelo prejuízo causado, em negociação intermediada por um outro homem, brasileiro, que estava no local e falava inglês; em depoimentos à polícia, Lochte disse que um homem armado lhe pediu todo o dinheiro que tinha (US$ 400) e Feigen disse que perdeu US$ 300

5 - O que Gunnar Bentz e Jack Conger, os dois nadadores que foram tirados do avião na quarta (17), contaram à polícia?
Segundo a polícia, os dois nadadores afirmaram que não houve assalto, mas uma confusão no posto; eles são tratados como testemunhas do caso

6 - Que punições os nadadores podem receber?
Lochte e Feigen podem responder por falsa comunicação de crime, cuja pena é detenção de um a seis meses ou multa. Os quatros podem ser indiciados por dano ao patrimônio, mas, segundo o chefe da Polícia Civil do Rio, "ainda é prematuro atribuir os crimes a eles", pois a investigação não foi concluída.

Em termos esportivos, não há risco de que percam suas medalhas olímpicas; o Comitê Olímpico dos EUA não informou se eles seriam punidos.

Colaborou PATRÍCIA CAMPOS MELLO, enviada especial ao Rio

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