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Nadadores dizem em depoimento que não houve assalto a Ryan Lochte

O chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, afirmou que os nadadores americanos que prestaram depoimento nesta quinta-feira (18) confessaram que não houve assalto ao grupo de atletas do país, na madrugada do último domingo (14). A versão de que eles foram vítima de roubo foi divulgada pelo campeão olímpico Ryan Lochte.

Os nadadores americanos Gunnar Bentz, 20, e Jack Conger, 21, foram ouvidos na Delegacia Especial de Atendimento ao Turista, na zona sul do Rio.

Bentz e Conger foram impedidos pela Polícia Federal de deixar o país na noite de quarta (17). Os policiais retiraram a dupla do voo para os Estados Unidos. Inicialmente, eles se recusaram a depor.

Ueslei Marcelino/Reuters
Jack Conger e Gunnar Bentz são levados à delegacia
Jack Conger e Gunnar Bentz são levados à delegacia

A dupla prestou depoimento por mais de 3h. Eles saíram sem dar declarações aos jornalistas.

A polícia ainda aguarda o depoimento do nadador Jimmy Feigen, 26, que também estava com o grupo que alegou ter sido assaltado. Ryan Lochte, 32, campeão olímpico no revezamento 4 x 200 m livre, afirmou no domingo ter sido abordado quando retornava para a Vila Olímpica após deixar uma festa na casa da França, na zona sul do Rio.

A versão é contestada pela polícia do Rio, que acredita que os atletas se envolveram em uma briga quando retornavam à Vila Olímpica, na manhã de domingo (14), e que não houve um assalto. Segundo relatos de testemunhas os nadadores se envolveram em uma confusão em um posto de gasolina na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Eles teriam urinado nas paredes e depredado o banheiro do local.

O chefe de polícia disse que os nadadores podem responder por falsa comunicação de crime e dano ao patrimônio, se for comprovado que eles depredaram o sanitário do posto.

Falsa comunicação de crime implica em detenção de um a seis meses, ou multa.

"Ainda é prematuro atribuir os crimes a eles. A investigação ainda não foi concluída", afirmou Veloso.

Até o momento, ele disse não saber por que Lochte teria mentido em seu depoimento.

"Talvez para preservar um relacionamento. Não sei. Ainda não há essa informação nesta investigação", afirmou o chefe de polícia.

Ryan Lochte deixou o Brasil na segunda (15) e retornou para os Estados Unidos.

ENTENDA O CASO

A polêmica envolvendo quatro nadadores dos EUA começou no domingo, quando Ryan Lochte, 32, afirmou ter sido assaltado na madrugada , no Rio de Janeiro, quando voltava à Vila Olímpica depois de sair de uma casa temática da França na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ele estava acompanhado por outros três nadadores: Gunnar Bentz, Jack Conger e Jimmy Feigen.

Nesta quarta (17), a Justiça do Rio entendeu que havia divergências nos relatos dos atletas e determinou a apreensão dos passaportes dos nadadores norte-americanos Ryan Lochte e Jimmy Feigen. Com a medida, eles estariam impedidos de sair do Brasil. Lochte, porém, já havia deixado o país 24h antes do impedimento da Justiça.

A Polícia Federal, então, impediu o embarque de dois nadadores americanos, Gunnar Bentz e Jack Conger, em um voo com destino aos Estados Unidos. Eles foram impedidos de deixar o Brasil até prestarem esclarecimentos à Polícia Civil sobre o suposto assalto. Eles ficaram detidos por quatro horas e optaram por não depor —só depuseram na tarde desta quinta (18).

A Folha esteve no posto de gasolina em que os atletas disseram ter sido assaltados e entrevistou o dono do estabelecimento, que pediu para não ser identificado. Ele afirma que os americanos "não entraram no banheiro. Começaram a urinar no jardim e na parede na lateral da loja".

Investigação da polícia do Rio apontou que os atletas não foram vítimas de um roubo, mas protagonistas de uma confusão no local.

"Nenhuma imagem mostra atos de violência contra os atletas que justifique qualquer problema" disse o chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Fernando Veloso. Ele afirmou também que a polícia apura os relatos de depredação por parte de Lochte.

Câmeras de segurança do posto gravaram o ocorrido. As imagens foram exibidas pela TV Globo.

Advogados dos atletas americanos foram procurados pela Folha, mas não se pronunciaram até a publicação da reportagem.

Veja

O QUE JÁ SE SABE, O QUE FALTA ESCLARECER

1 - Quem são os dois homens que detiveram os quatro nadadores no posto de gasolina?
Em depoimento à Polícia Civil do Rio, ambos disseram ser agentes da Secretaria de Administração Penitenciária de Minas Gerais; a polícia afirmou que seriam seguranças do posto, e ao menos um dos funcionários confirmou, declarando que um dos agentes era "vigilante do posto". O dono do estabelecimento, no entanto, negou, dizendo que eram clientes

2 - Eles estavam armados? Tinham autorização para isso? Usaram suas armas?
Sim, e, como agentes penitenciários, têm porte de arma. Eles afirmaram ter sacado suas pistolas calibre 380 quando acharam que seriam atacados por Lochte e Feigen, e ordenaram que os quatro sentassem; o chefe de Polícia Civil disse que "não houve qualquer violência ou abuso no uso da arma". Lochte disse que um dos homens apontou uma arma para sua cabeça, mandando que ele sentasse

3 - O que os nadadores quebraram no posto?
Segundo funcionários do posto, os americanos arrancaram uma placa de publicidade, quebraram a saboneteira e a papeleira do banheiro e urinaram num canteiro

4 - Quanto dinheiro eles deixaram, e em que condições?
Segundo os funcionários do posto e os agentes penitenciários, um dos nadadores, Gunnar Bentz, deu uma nota de US$ 20 e duas de R$ 50 para pagar pelo prejuízo causado, em negociação intermediada por um outro homem, brasileiro, que estava no local e falava inglês; em depoimentos à polícia, Lochte disse que um homem armado lhe pediu todo o dinheiro que tinha (US$ 400) e Feigen disse que perdeu US$ 300

5 - O que Gunnar Bentz e Jack Conger, os dois nadadores que foram tirados do avião na quarta (17), contaram à polícia?
Segundo a polícia, os dois nadadores afirmaram que não houve assalto, mas uma confusão no posto; eles são tratados como testemunhas do caso

6 - Que punições os nadadores podem receber?
Lochte e Feigen podem responder por falsa comunicação de crime, cuja pena é detenção de um a seis meses ou multa. Os quatros podem ser indiciados por dano ao patrimônio, mas, segundo o chefe da Polícia Civil do Rio, "ainda é prematuro atribuir os crimes a eles", pois a investigação não foi concluída.

Em termos esportivos, não há risco de que percam suas medalhas olímpicas; o Comitê Olímpico dos EUA não informou se eles seriam punidos.

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