Colunas

Destaques GLS

24/10/2007

Sonho de gogo boy

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

O que você espera de um gogo boy? Um corpão, um volume na sunga, botas de couro, pele bronzeada, enfim, tudo para inspirar desejo, erotismo e fantasia do homem perfeito, de músculos definidos. O gogo boy tem de ser liberal, sem frescuras. Na pista, o rapagão não deve se incomodar se alguém estender as mãos para tocar suas pernas, suas coxas, seu traseiro. De um gogo boy, algumas bichas só querem saber uma coisa: é michê? Quanto cobra?

Conheci Rodrigo Naves, 27. No início da conversa, ele evita falar com todas as letras a palavra "gogo boy". Prefere eufemismos como "trabalho com dança" ou "artista da noite". Nijinsky?!

[Preciso evitar a tentação diabólica de entrevistá-lo com idéias pré-concebidas, como se o fato de trabalhar como um "gogo boy" fosse motivo para tratá-lo com sarcasmo e estigmas. Vamos tentar humanizar o "personagem", oops, o entrevistado]

Rodrigo nasceu na pequena cidade de Três Corações, no sul de Minas Gerais. Ele migrou para São Paulo há quatro anos. Com 1,84 m de altura e 80 kg, ele vai representar o Estado de São Paulo no Mr. Gay Brasil. O concurso só aceita candidatos gays assumidos. Rodrigo é casado com o DJ Cabranaves, sarado como ele. Os dois estão na expectativa: se vencer, Rodrigo disputará o Mr. Gay mundo em Los Angeles, em janeiro.

"Falo inglês com fluência. Acho que isso é uma vantagem", conta o rapaz, que também aposta no seu jeitão de moreno másculo e agreste.

Será a primeira vez que o Brasil vai indicar um candidato para o Mr. Gay. Rodrigo vai concorrer com outros 12 rapazes. A escolha será no teatro Fábrica, no início da madrugada, de sábado para domingo. Depois, a festa será no clube Flexx, na Barra Funda (zona oeste).

Agenda à parte, é hora de descobrir o que esse mineirinho já aprontou. Ele conta que, na noite, já recebeu muitos convites de sexo, mas jura que recusou todos. Afinal, é casado há quatro anos ("No começo do relacionamento, havia muito ciúme").

Rodrigo malha desde os 18 anos. Admite, sim, que já tomou bomba para ficar mais musculoso. Sua mãe, que é enfermeira, ficou brava quando descobriu o truque do filho para ficar parrudo. O rapaz passou pela crise que toda barbie esculpida por anabolizantes enfrenta: uma explosão de espinhas e acnes por todo o corpo.

"Já fui Barbie. Hoje estou mais para Susi."

[Idéia pré-concebida: lá no interior de Minas, o rapaz deve ter sofrido --por ser gay-- o "pão de queijo" que o diabo amassou. Será?]

"Tive sorte: cresci em uma família compreensiva, sem preconceitos. Quando contei a minha mãe que eu era gay, ela me deu apoio e disse que o mais importante era a minha felicidade."

Ainda bem. Talvez uma mãe enfermeira que lida diariamente com a dor e a morte tenha uma visão menos rasteira da homossexualidade. Ou isso também é uma idéia pré-concebida?

De volta ao corpo: nos últimos dias, Rodrigo radicalizou na malhação. Ele encanou que precisa secar mais a barriguinha. O rapaz culpa os doces e a cerveja e "insulta", digamos, todos os jornalistas sedentários e fora de forma do planeta: "Tenho muita facilidade para emagrecer."

Ok, é realmente difícil competir com o corpo de um gogo boy. Mas vamos aos fatos: na boate mais bagaceira da cidade, um gogo boy recebe R$ 30 por uma exibição de três horas. Em um clube mais metidinho, esse valor pode chegar a R$ 100, e ainda um rola esquema mais "humano" --tipo assim: dança uma hora, descansa outra e volta para se requebrar por mais uma hora em cima do queijinho da pista.

Com os 30 anos na esquina, Rodrigo sabe que o corpo envelhece, e que as boates gays da cidade procuram garotos cada vez mais jovens. Por isso, ele tem se dedicado a outras atividades ("Sou webmaster, formado em ciência da computação"). Boa sorte, Mr. São Paulo.

Divulgação
Mineiro Rodrigo Naves vai representar o Estado de São Paulo em concurso de beleza gay neste sábado (27)
Mineiro Rodrigo Naves vai representar o Estado de São Paulo em concurso de beleza gay neste sábado (27)

###TEXTO###

FolhaShop

Digite produto
ou marca