Conheça a Folha   Folha Online
 Português | Español | English  
Projeto Editorial 1986-1987, Setembro de 1986

Metas para um estilo marcante

Vamos manter o pluralismo como característica marcante do perfil da Folha. Vamos insistir na necessidade de modernizar o estilo jornalístico e de abordar assuntos sob pontos de vista que correspondem às necessidades emergentes na vida do leitor. Vamos procurar enfoques originais e diferenciados. Vamos preservar a atitude editorial de apartidarismo. Vamos manter a preocupação com o didatismo.

Mas é preciso evitar a aplicação formal, mecânica, desses princípios. Impedir que as etapas anteriores à edição resultem em desatenção quanto às informações concretas ou negligência quanto ao espírito crítico que o jornal deve manter diante delas. Só assim se evitará que a edição se veja compelida, como atualmente, a fazer malabarismo de titulagem, a escrever boxes críticos apressados a fim de corrigir artificialmente um defeito que poderia ter sido evitado durante o processo de produção do material jornalístico.

Precisamos de maior empenho na realização de um jornalismo didático e de serviço, assim como de mais velocidade no processo de especialização profissional. Cada texto publicado na Folha deve ser claro e explicativo o bastante para ser lido com utilidade pelo leigo, sofisticado o bastante para ser lido pelo especialista e enriquecido sempre por uma dimensão de serviço que o fará lido por ambos. É importante indagar-se sempre onde está o interesse direto, imediato do leitor, e procurar por todos os meios atendê-lo. É necessário apresentar os assuntos de forma lógica, clara e fácil para quem vai ler.

É preciso empregar soluções de edição que sejam plasticamente boas e, ao mesmo tempo, suscetíveis de aplicação rápida e prática. Precisamos melhorar a utilização que fazem do modelo gráfico atualmente adotado pela Folha. Precisamos aumentar a presença e a qualidade técnica, estética e de legibilidade de fotos, gráficos e ilustrações no jornal, terreno em que obtivemos progressos mas onde ainda há muito trabalho a fazer. Precisamos de títulos mais inteligentes, menos óbvios e mais criativos do que temos feito até aqui.

O ano de 1987 será dominado pela presença do Congresso constituinte. A cobertura de suas atividades será um dos temas essenciais para a Folha no período de vigência desta versão do Projeto Editorial. A Folha deve revelar ao seu leitor, sem receios, os interesses corporativistas que serão mascarados em propostas com retórica de defesa da sociedade como um todo. Deve evitar o tom técnico-jurídico pouco acessível e interessante que provavelmente prevalecerá nos debates. Deve obedecer sempre às propriedades da informação completa, exclusiva, comprovada e bem redigida.

O outro foco de atenção editorial prioritária para a Folha neste período será a discussão em torno da reforma tributária. O jornal deve manter o assunto em pauta, em coerência com sua preocupação editorial de contribuir para que a sociedade brasileira possa eliminar a miséria e diminuir os desníveis sociais e regionais. Ao mesmo tempo, o jornal deve manter uma atitude de verificação constante e implacável do grau de eficiência dos mecanismos estatais na aplicação dos recursos públicos.

Esses princípios de comportamento jornalístico diante de dois temas que estarão entre os mais importantes nestes doze meses no Brasil são congruentes com a atitude do jornal em favor de uma sociedade de mercado dotada de instituições políticas que possam viabilizar as pressões dos grupos excluídos das vantagens do desenvolvimento.

Até aqui, muito do esforço na Folha tem sido dedicado a suprir lacunas estruturais da Redação ou a organizar melhores condições no interior da estrutura. O que se propõe agora é uma ofensiva no domínio da informação a ser publicada do dia seguinte. É preciso que as equipes atuem com agilidade, sofisticação e espírito de iniciativa, que as antigas divisões entre trabalho de reportagens, redação e edição desapareçam em favor de um tipo de profissional dotado de conhecimentos especializados mas nem por isso confinado a um compartimento de atividade jornalística. Todos devemos participar do trabalho de pauta e de levantamento de informações, todos devemos trabalhar junto à edição do material informativo, todos os profissionais que exercem cargos de comando devem redigir habitualmente e todo repórter deve ter texto final, de preferência no próprio terminal de vídeo. Até agora tratou-se principalmente de lançar as bases de um jornalismo que se destaque como o melhor do país. Agora, trata-se de fazê-lo.

Leia também:

Outros projetos
1981 - A Folha e alguns passos que é preciso dar
1984 - A Folha depois da campanha diretas-já
1985 - Novos rumos
1986 - A Folha em busca da excelência
1988 - A hora das reformas
1997 - Caos da informação exige jornalismo mais seletivo, qualificado e didático

 

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).