Número
de pacientes hospitalizadas pelo SUS cresceu 46% de 1997 a
2007 no Brasil, diz pesquisa
Tempo médio de internação
é de sete dias e taxa de mortalidade em decorrência
do ataque cardíaco chega a 16,8% entre as mulheres
O número de internações de mulheres por
infarto agudo do miocárdio subiu 46% (de 15.672 para
22.910) entre 1997 e 2007, segundo levantamento realizado
pelo INC (Instituto Nacional de Cardiologia) nos hospitais
conveniados ao Sistema Único de Saúde em todo
o país. Os dados foram retirados do Datasus (banco
de dados do Ministério da Saúde).
De acordo com o trabalho, o tempo de internação
é de sete dias, em média, e a taxa de mortalidade
em decorrência do ataque cardíaco chega a 16,8%.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o infarto
é a segunda causa de morte entre as brasileiras -a
primeira é o AVC (acidente vascular cerebral).
"Essa pesquisa só vem acrescentar à preocupação
da cardiologia em nível mundial, que é a saúde
cardiovascular da mulher. A moléstia que mais mata
mulheres são os problemas cardiovasculares", diz
o cardiologista Antônio Carlos Chagas, presidente da
Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Entre as explicações para o aumento no número
de mulheres internadas por conta de infarto, estão
o envelhecimento da população e as mudanças
no estilo de vida (estresse, tabagismo etc). Até a
menopausa, as mulheres são mais protegidas contra eventos
cardiovasculares pela ação dos hormônios.
Depois dela, os riscos crescem.
Especialistas avaliam que contribuem também para as
internações o maior acesso a métodos
diagnósticos e a maior disponibilidade de leitos.
"A mulher trabalha fora e continua tendo as funções
de dona de casa. Logicamente tem uma sobrecarga de trabalho,
passou a ser mais hipertensa. Além disso, infelizmente
as mulheres fumam mais do que os homens", alerta Chagas.
O cigarro, sozinho, causa lesões nos vasos sanguíneos,
que aumentam as chances de ocorrer um evento cardiovascular.
Mas o efeito negativo é multiplicado ao combiná-lo
com pílula anticoncepcional -estudos anteriores mostram
que a combinação aumenta os riscos em até
39 vezes.
O excesso de trabalho também favorece o sedentarismo,
a alimentação inadequada e o consequente sobrepeso
-outros fatores relacionados a problemas cardiovasculares.
O infarto ocorre quando há redução do
fluxo sanguíneo nas coronárias (artérias
que irrigam o coração) por causa de um bloqueio
nesses vasos. Parte do músculo cardíaco pode
sofrer necrose por falta de oxigênio.
Sintomas atípicos
Especialistas também alertam para os sintomas do ataque
cardíaco em mulheres, que são pouco associados
ao infarto.
No lugar da conhecida dor no peito que irradia para os membros
superiores, é mais comum que a mulher sinta náusea,
sensação de cansaço extremo, dor na boca
do estômago (facilmente confundida com gastrite), pontadas
também no estômago e falta de ar.
"É preciso chamar atenção para as
manifestações atípicas. Isso é
fundamental não só para reduzir a incidência
do infarto como também para evitar complicações",
diz o cardiologista Marco Antônio de Mattos, diretor
geral do Instituto Nacional de Cardiologia.
Apesar de os homens enfartarem três vezes mais do que
as mulheres, elas morrem mais e, em geral, são submetidas
a menos procedimentos do que eles, pois há maior demora
para identificar o problema. A maior espera por uma intervenção
pode ser decisiva para a recuperação da paciente.
"Precisamos de uma política de atenção
cardiovascular específica para a mulher, como campanhas
para prevenir infarto, para que haja prevenção
secundária [quando há histórico de ataque
cardíaco], esclarecimento à população
feminina sobre os sintomas diferenciados", sugere Mattos.
Prevenção
secundária
Após o infarto, a mulher deve monitorar e procurar
eliminar os fatores que a levaram a sofrer do problema, o
que é chamado no meio médico de prevenção
secundária. Normalmente, existe mais de um fator associado
ao evento.
Descontados histórico pessoal e familiar e envelhecimento,
é preciso investir na prevenção das causas
controláveis, como sedentarismo, tabagismo, má
alimentação, pressão alta, níveis
de colesterol e açúcar no sangue, estresse e
sobrepeso.
O mais indicado, no entanto, é monitorar esses fatores
antes de o infarto ocorrer -após o primeiro, a mulher
tem mais riscos de sofrer um outro ataque cardíaco.
"As doenças cardiovasculares representam 20% dos
gastos do SUS. Esses gastos estão em segundo lugar
entre mulheres, só perdendo para gravidez e complicações
do parto. Boa parte desses gastos poderiam ser evitados",
afirma Mattos.