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capital humano
23/06/2005
Hospital cinco estrelas

 

Suítes luxuosas, ambientes iluminados e planejados por decoradores e paisagistas, música ao vivo com pianista, serviço de concierge, cardápio elaborado por chefs de cozinha. Essas e outras comodidades já são encontradas, quem diria, dentro de alguns hospitais brasileiros e vieram para substituir as tradicionais paredes brancas, refeições insossas, enfermeiras carrancudas e quartos escuros e sem vida. Apelidados por alguns de Daslu da medicina, os hospitais cinco estrelas de São Paulo se desdobram para agradar aos pacientes. A diária de algumas suítes chega a custar o equivalente à do hotel Ritz, de Paris (cerca de R$ 1.500). "Todos os hospitais que querem melhorar dizem que desejam ser como hotéis. Daqui para a frente, são os hotéis que têm que morrer de inveja dos hospitais", provoca o arquiteto Lauro Michelin, sócio de uma empresa que trabalha com empreendimentos de saúde há 18 anos. Segundo ele, é "uma loucura" o fato de uma pessoa sadia ter todo o conforto em um hotel, enquanto um paciente que chega debilitado ao hospital fica num ambiente hostil, sem estímulo visual e sem ergonomia no mobiliário.

O arquiteto diz que os cuidados para projetar hospitais vão além dos que são tomados nos hotéis. "Soma-se a complexidade de uma hotelaria à complexidade da atenção médica. Até a luz, se não for adequada, interfere na visualização da cor da pele do paciente, que deve ser a mais fiel possível", exemplifica. As cores de um ambiente de saúde, segundo Michelin, devem ser amenas, com tons vivos em pequenos objetos, para que haja estimulação visual. "Não é porque é um hospital que tem que ser branco. Aliás, o branco, no Brasil, pode ser péssimo. É uma cor que faz a reflexão completa da radiação e, quando há muito sol, dá um excesso de claridade que pode causar até dor de cabeça."

Para o médico Milton Glezer, coordenador da organização de procura de órgãos do Hospital das Clínicas e vice-diretor clínico do hospital Albert Einstein, os mimos vêm para ajudar a justificar os gastos com equipamentos médicos de última geração "Todo o investimento em modernas aparelhagens não é visível para um leigo. O paciente não sabe se o tomógrafo é de primeira ou de quinta geração. Então, os hospitais investem em luxos, como TV de plasma, porque isso é mais palpável."

Alta Gastronomia
Vistos da rua João Julião, no bairro do Paraíso, os 51 mil m2 de terreno do Hospital Alemão Oswaldo Cruz não demonstram a suntuosidade intra-muros, obtida, principalmente, pelo espaço verde -são 355 árvores, plantas, flores e um carpete de grama minuciosamente cuidado, com casinha de beija-flor. Escolhido como o hospital do ano pelo Top Hospitalar 2004, o destaque do Oswaldo Cruz fica por conta da cozinha, que está mais para a alta gastronomia do que para a tão estigmatizada "comida de hospital". No dia em que a reportagem da Folha visitou o local, o prato servido aos pacientes era codorna assada, ovinhos da ave sobre cenouras fatiadas, dispostas em formato de ninho, e arroz com legumes. Em vez da gelatina de sempre, a sobremesa era um apetitoso merengue de morango.

Apelidados de suítes presidenciais, os quartos de luxo do Oswaldo Cruz impressionam: além do cômodo principal, são três TVs, duas ante-salas com sofá-cama, dois frigobares, dois cofres, viva-voz e dois banheiros, revistas e assinatura de jornal diário. As persianas podem ser manejadas via controle remoto da cama do paciente. Valor da diária da suíte presidencial: R$ 1.450 (o apartamento básico custa R$ 550). Muitos dos "hóspedes" dessas suítes não abrem mão de que seus seguranças também se "hospedem" nas ante-salas dos leitos ou em quartos separados, diz Márcia Oliveira Menezes, gerente comercial do Oswaldo Cruz.

Ferrari
O recém-inaugurado Higienópolis Medical Center veio se somar às opções que já existem para atender aos paulistanos mais endinheirados. O edifício espelhado, de 19 andares, lembra um centro comercial de alto padrão e contrasta com o entorno da rua, formado por casas antigas, um açougue, uma feira livre que ocorre uma vez por semana e, é preciso mencioná-lo, um cemitério (da Consolação).

O complexo é formado por um hospital-dia (indicado para procedimentos com prazo de recuperação não superior a 12 horas), um centro de diagnósticos e 18 andares de consultórios médicos. Na entrada, uma galeria comercial abrigará lanchonete, farmácias, ótica, doceria e outras lojas de apoio. O estacionamento tem mais de mil vagas. Alguns consultórios já estão funcionando, mas o hospital-dia e o centro de diagnósticos (ambos administrados pelo Laboratório Fleury) serão abertos ao público em julho.

De acordo com Fábio Navajas, diretor comercial do International Medical Center (grupo responsável pelo empreendimento), a idéia é, em primeiro lugar, simplificar a vida do médico. "O objetivo é que ele não precise se deslocar dentro da cidade, perdendo tempo e qualidade de vida. O paciente também sai beneficiado, porque pode se consultar, fazer exames de laboratório e passar por intervenções cirúrgicas em um só local." Navajas define o Higienópolis Medical Center: "É como se fosse uma Daslu para os médicos. É o top dos consultórios. Podemos dizer que fabricamos consultórios "Mercedes" e "Ferrari'".

Happy Hour do Bebê
Cromoterapia, aromaterapia e música ambiente embalarão os recém-nascidos no novo edifício do Hospital São Luiz, com inauguração prevista para hoje. Os apartamentos para a internação contam com récamier (um tipo de divã) e TV a cabo com um canal que transmite dicas de cuidado com o bebê. No "delivery room" -quarto de pré-parto que se transforma na sala de parto-, a gestante poderá usar o serviço de cromoterapia e banheira de hidromassagem.

Por menos de uma semana, o ator Rodrigo Faro, 31, e sua mulher não receberam sua filha Clara com os recursos do novo edifício do São Luiz. "Estávamos planejando o parto nesse novo prédio, mas Clara antecipou sua chegada", diz o ator, pai pela primeira vez, que até arriscou notas no piano do American Bar da maternidade. O hospital tem um "happy hour do bebê", em que um pianista, violinistas e flautistas tocam para pais e visitantes. "Nem parece que é uma maternidade. A pessoa só percebe que é um hospital quando entra na sala de operações", afirma Faro.

Na maternidade Pro Matre, se o parto for normal, nem para a sala de operações a paciente precisa ir. O local tem "unidades de suítes para parto", ambientadas para reproduzir o conforto de casa. Uma banheira de hidromassagem ajuda a relaxar durante as contrações leves. Os armários e a cabeceira da cama em madeira clara em nada lembram um centro cirúrgico convencional. Na hora H, o local fica irreconhecível: equipamentos e utensílios médicos embutidos saem dos nichos para auxiliar na realização do parto.

Com exceção de 10% do espaço, a Pro Matre foi toda reformada. Segundo o folheto publicitário do local, lá, pai e mãe também ganham "colinho". Há vários modelos e tamanhos de quartos: em todos, os banheiros são em mármore branco. A suíte master, também conhecida como "suíte dos famosos" -várias celebridades, diz-se, já tiveram filhos lá-, tem 70 m2 e custa R$ 1.530 a diária, o triplo de um quarto standard. Além do quarto, há banheiro, sala de estar e terraço climatizados. Os móveis de uma das melhores lojas de decoração do país, o piso em madeira clara e o teto rebaixado lembram um charmoso apartamento. Duas televisões de plasma ajudam a distrair paciente e acompanhantes durante a estadia. Logo acima da TV, um monitor mostra o recém-nascido no berçário. Para as mulheres que não querem aparecer descabeladas nas fotografias de família, há um serviço delivery de beleza: se a paciente desejar, cabeleireiro, maquiador, massagista e manicure vão até ela.

A empresária Taciana Veloso, 30, teve seu filho na Pro Matre, há um ano e meio, na época da redecoração da maternidade. "Ficou outra coisa. A estrutura é novinha, clarinha, super moderna. Parece um hotel, um apartamento que acabou de ficar pronto." Para Taciana, esses luxos são importantes numa maternidade, mas, em um hospital comum, não devem ser priorizados. "Quando você vai ter filho, quanto mais bonito for tudo, melhor. Mas, num hospital comum, não dá para dar muita bola para isso." Ela relata que não usou o serviço de beleza porque passou por cesariana e pôde se preparar para o momento. "Lembro de outras mães que estavam lá e usaram. Uma delas me disse que já saiu dali pronta para a festa de Natal."

Assim como a Pro Matre, o Hospital Santa Rita, também tradicional na cidade, está mudando para se adaptar às novas exigências do mercado. Na ala nova, que será inaugurada na próxima quarta-feira, os banheiros são amplos, com pia de granito e pequenos azulejos coloridos completando a parede branca. A campainha, que comunica o quarto com o setor de enfermagem, funciona com comando de voz. A fachada, em estilo neoclássico, e as portas antigas de madeira foram preservadas. "Há alguns anos, era normal um paciente ficar na enfermaria, com outras pessoas. Agora, os clientes estão muito mais exigentes", afirma Carlos Lichtenberger, diretor do hospital.

Cooper

Com o conceito de que, para uma melhor reabilitação, o paciente precisa sair de seu quarto, o Hospital Sírio-Libanês mantém até uma pista de cooper. Há também um centro de medicina esportiva em que é possível ao acompanhante do paciente se exercitar. "Quando não tem entretenimento, a pessoa se torna uma péssima acompanhante", diz Marcia Caselato, gerente de hotelaria do local. Entre outras opções de lazer, o hospital oferece passeios culturais.

No saguão, é possível observar a luz natural vinda do solário -às quintas, ao final da tarde, um pianista faz as honras do hospital. Para quem chega, a recepção é como a de um hotel de alto padrão: há um concierge e um bellboy, que carrega as malas do paciente até o quarto. São duas suítes "cinco estrelas" por andar, cada uma com frigobar, TV, DVD, livros e revistas. Além do preço (a suíte "presidencial" custa R$ 993,41 por dia, a básica, R$ 685,21), a diferença fica por conta do espaço e do conforto.

As refeições são elaboradas por dois chefs -em 2003, a cozinha do hospital ganhou o prêmio Nestlé Hospital Gourmet. No hospital Albert Einstein, o cardápio também é preparado por uma chef de cozinha. Outro serviço oferecido pelo Einstein atende "pedidos especiais" -uma paciente que quer um serviço de beleza ou uma criança internada que deseja ver seu cachorro, por exemplo. Três vezes por semana, há um happy hour com pianista, contrabaixista e guitarrista.

Na ala infantil, uma brinquedoteca ajuda a distrair os pacientes mirins. Além dos brinquedos coloridos, há oficinas diárias de arte. Na maternidade, há o Chá das Avós, que reúne as mães das pacientes com a equipe de enfermagem. No setor de geriatria, os quartos foram adaptados para esse público: as cores são pouco reflexivas para evitar confusão sensorial, o piso reduz o impacto no caso de quedas, a cama se transforma em poltrona e há barras ao longo das paredes.

HC ou EINSTEIN?
Segundo Milton Glezer, do HC e do Einstein, os melhores profissionais de hospitais públicos como HC ou Hospital São Paulo também participam do corpo clínico dos hospitais mais caros de São Paulo. Não é aí, portanto, que reside a diferença. "Mas, se a pessoa quiser um bom serviço de hotelaria, vai para o Einstein." Segundo ele, a busca pelo luxo é cultural em nosso país. "Se um executivo está acostumado com o luxo, é provável que ele também vá querer essa suntuosidade quando estiver doente." Ele conta que, em outros países, "hospital é hospital, e não um hotel cinco estrelas. Quando precisam ir a hospitais daqui, muitos estrangeiros se espantam até com o fato de ter telefone e TV no quarto".

O médico lembra que o luxo de um consultório não reflete o nível do profissional atrás da mesa. "Não se pode acreditar que uma clínica luxuosa terá o melhor profissional."

O arquiteto Lauro Michelin afirma que o ambiente desempenha papel importante para melhorar a qualidade de vida do paciente enquanto ele estiver doente e cita pesquisas na área de psicologia ambiental que mostram como a cor afeta o metabolismo.

"Várias pessoas foram colocadas olhando para uma superfície vermelha e tiveram sua pressão arterial e seus batimentos cardíacos medidos. Depois de um tempo, aquela contemplação provoca um estímulo que acelera os batimentos e a freqüência cardiorespiratória. Também está provado que alguns azuis tendem a diminuir a freqüência cardíaca e respiratória", diz.

ANA PAULA DE OLIVEIRA
FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S.Paulo

   

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