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16/02/2007
Carta da semana
No Brasil tudo acaba em carnaval
”O carnaval de hoje não é melhor nem pior
do que o de antigamente. É certamente diferente. Já
vivi o suficiente para me atrever a comparações.
Cada um deles tem as suas especificidades e o seu brilho.
Há muitos anos a imprensa divulga
que o carnaval de rua morreu. Aliás, morre todos os
anos, num fenômeno que não sei explicar. De ressurreição
em ressurreição a animação dos
paulistas, baianos, pernambucanos e cariocas sobrevivem, sobretudo
nos bairros mais populares.
Tivemos os tempos gloriosos dos fantasiados
de pierrô e colombina, que passeavam pelas ruas da Tijuca,
por exemplo, jogando confete e lança-perfume ( na época,
um ato inocente). Lembro de um lanterninha do cinema Arte
Palácio, na avenida São João, que fazia
dos três dias de Momo o seu período de glória.
Saía fantasiado de Carmen, com castanholas e tudo,
colorido a mais não poder, encantando o bairro com
o seu passeio bem-humorado.
Com o passar do tempo, o carnaval
de rua ganhou outras características, com a valorização
do fato político. Segundo Mário de Andrade,
são certas deformações que rolam, mas
isso é parte da dinâmica da cultura. Hoje é
muito mais comum encontrar-se pelas ruas, com o bom humor
tradicional dos cariocas, os que, a seu modo, criticam usos
e costumes depolíticos como Zé Dirceu, Delúbio,
Silvinho e Valério, os preferidos da massa. Na irreverência
que acompanha nosso povo, até mesmo a figura do presidente
da República não escapa das fantasias, com os
exageros naturais.
O carnaval de rua é uma imensa charge, executada pelo
povo na sua simplicidade e no seu desejo de participação.
E isso não se exaure nunca, pois a despeito de uma
idéia de descrença generalizada, o que sinto
não é bem isso. Os blocos sujos, as fantasias
originais, a alegria solitária dos que saem às
ruas contando apenas com a sua criatividade - tudo isso dá
vida ao carnaval, enriquecendo a festa principalmente em regiões
onde, de outra forma, o povo não teria o que comemorar.
E isso, felizmente, não morre nunca.
No Brasil tudo acaba em carnaval
e, tudo começa depois do carnaval”,
Nelson Valente - nelsonvalenti@hotmail.com
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