REFLEXÃO


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urbanidade
16/07/2008

Arte dá água na boca

Professora uniu arquitetura e artes plásticas com a culinária e ensinou estudantes a criar pratos com nome de artistas


A receita profissional de Fernanda Assumpção é uma mistura de arquitetura, artes plásticas, licenciatura e, enfim, culinária. "Tentei estimular pelo paladar o prazer dos estudantes com as artes plásticas." Literalmente.

Depois de passar por todos esses cursos, ela resolveu ensinar crianças a cozinhar, inspirando-se em grandes mestres da pintura -e, assim, foram inventadas a pizza Mondrian, a gelatina Gaudí, o patê Monet, o biscoito Volpi, o suspiro Pollock e o pastel Tomie Ohtake.

Fernanda entrou no curso de arquitetura do Mackenzie. Provou e não gostou. Foi então estudar artes plásticas na Faap -mais uma vez, não se sentiu satisfeita. Não se via nem como arquiteta nem como pintora ou escultora. Imaginou que fosse gostar de dar aulas e ingressou num curso de licenciatura, mas toda essa mistura só ficou no ponto e saiu do forno quando foi adicionada ao seu prazer de cozinhar, certamente herdado dos tantos mestres que, desde menina, teve na família -nenhum dos quais, porém, tão importante como a sua avó, Paulina, uma italiana que vivia, sorrindo, na cozinha. "Adorava acompanhá-la. Aquilo era melhor do que qualquer parque de diversões."

A avó Paulina deixou em Fernanda a suspeita de que os segredos da comida fossem além do sabor ou da aparência. "Ela dizia que se podia conhecer o caráter de alguém pelo jeito como cozinhava. Jurava, por exemplo, que um bolo que, por acaso, não crescia era sinal de que a pessoa que o tinha feito não era generosa."

Enquanto fazia faculdade, Fernanda começou a dar aulas de culinária para crianças em uma escola privada (Alfa). As aulas eram até divertidas, na sua opinião, mas convencionais: faltava a elas uma pitada de novidade.

Daquela mistura de cursos que ela foi fazendo, veio a inspiração para fazer uma experiência batizada de "Comendo arte". Falaria sobre os pintores, mostrando suas obras -e, com base naqueles jogos de cores e formas, os alunos inventariam seus pratos. Depois, todos comeriam as iguarias, lambuzando-se nas cores. "Assim, todos os sentidos são estimulados."

Fernanda não sabe dizer se seus alunos ganharam mais estímulo para cozinhar, mas está convencida de que muitos deles mostraram mais interesse em visitar os museus.


PS- Veja as imagens de uma aula do "Comendo arte":

Rosquinhas Andy Goldsworthy Gelatina Gaudí
Pizza Mondrian Patê Monet
Macarrão Tomie Ohtake Biscoito Volpi
Panqueca Vik Muniz Doce Regina Silveira


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
   
 
 

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