Participação
nos lucros e resultados chega ao "chão da fábrica"
Para elevar
a produtividade nas fábricas e manter empregados, empresas
estendem seus programas de incentivo profissional aos operários.
Os executivos deixaram de ser os únicos contemplados com
os bons resultados de sua empresa. Os funcionários de escalões
intermediários também têm sido, cada vez mais,
beneficiados com a Participação nos Lucros e Resultados
(PLR).
O incentivo
serve também como meio de complementação salarial.
Segundo sociólogo e analista da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), Marcos Medeiros, o mecanismo
consegue conciliar interesses divergentes, de patrões e empregados.
Diante disso, o gasto das empresas com o benefício vem crescendo.
Como é o caso da região do ABC paulista, onde se concentram
montadoras e autopeças. Em 2000, o montante desembolsado
por elas foi de R$ 92 milhões. Já no ano passado saltou
para R$ 110 milhões. O percentual da categoria coberto pela
PLR também cresceu, de 60% para 75% em 2001, de acordo com
o sindicato de metalúrgicos do ABC.
Outra tendência
de política salarial que vem agradando é o tempo de
casa. Estudo inédito do Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas (Ipea) indica que um trabalhador que tem três meses
de experiência numa empresa e lá permanece por mais
um ou três anos, terá um ganho salarial próximo
a 15%. E, quando passa para mais de cinco anos, o aumento chega
a 40,5%. A explicação é a briga por bons profissionais.
O resultado é fruto de uma maior pressão competitiva
pela qual as empresas brasileiras estão passando, o que as
obriga a oferecer um salário de mercado para reter um bom
trabalhador
Leia
mais:
- Mais empresas dividem lucros com trabalhadores
- Quem fica em um mesmo emprego acaba ganhando
mais aumentos
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Mais
empresas dividem lucros com trabalhadores
Os executivos
deixaram de ser os únicos contemplados com os bons resultados
de sua empresa. Os operários e os funcionários de
escalões intermediários também têm sido,
cada vez mais, beneficiados com a adoção de programas
de incentivo, como a Participação nos Lucros e Resultados
(PLR).
A intenção
é elevar a produtividade nas fábricas e manter empregados,
além de servir como meio de complementação
salarial. "O mecanismo consegue conciliar interesses divergentes,
de patrões e empregados", afirma o sociólogo
e analista da Confederação Nacional da Indústria
(CNI), Marcos Medeiros.
Diante disso,
o gasto das empresas com o benefício vem crescendo. Como
é o caso da região do ABC paulista, onde se concentram
montadoras e autopeças. Em 2000, o montante desembolsado
por elas foi de R$ 92 milhões. Já no ano passado saltou
para R$ 110 milhões. O percentual da categoria coberto pela
PLR também cresceu, de 60% para 75% em 2001, de acordo com
o sindicato de metalúrgicos do ABC.
"Nesse
ano, o valor deve ficar próximo ao de 2001, mas será
ampliado o número de empregados atingidos pelo programa",
estima o presidente do sindicato, Luiz Marinho. Ele comenta que
tem intensificado as conversas com pequenas empresas da região,
entre as quais encontra maior resistência.
Todas as montadoras
instaladas no ABC, como Volkswagen, Ford, Scania, Fiat, DaimlerChrysler,
negociam PLR com o sindicato. Na Volks, o benefício é
visto, pelo seu gerente executivo de relações trabalhistas,
Uwe Kraus, como "ferramenta de incentivo".
A partir de
1995, a montadora adotou o programa, que não está
atrelado a seu lucro líquido, como é mais comum, mas
a indicadores específicos sobre volume de produção,
produtividade, qualidade e absenteísmo.
Negociado por
fábrica, já está fechado o acordo em três
delas. Em Curitiba, os empregados receberão R$ 2 mil em PLR,
contra R$ 1,5 mil pagos no ano passado, por exemplo. Nas unidades
do ABC e de Taubaté, que ainda não definiram as regras,
a expectativa é de que sindicato e empresa cheguem a consenso
em junho.
Quem também
vem dando destaque a esses programas são as instituições
financeiras. Dados dos balanços dos bancos mostram que o
pagamento desses benefícios em 1998 chegou a R$ 525 milhões.
No ano passado, esse valor quase dobrou, aproximando-se de R$ 1
bilhão, segundo cálculos de Magnus Apostólico,
diretor da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).
Apenas o Itaú,
no ano passado, distribuiu R$ 189,6 milhões a seus empregados.
Mas, além da PLR, definida em convenção coletiva,
o banco adota um programa específico para cada área.
O trabalhador recebe o maior. O benefício, na visão
do diretor de recursos humanos do banco, Fernando Tadeu Perez, é
o mais democrático. "O bônus era distribuído
na ponta da pirâmide e a PLR permeia toda a atividade."
A maior concessão
do benefício acompanhou o aumento do número de instituições
financeiras que concede o mecanismo. "Enquanto em 1996 apenas
dois ou três bancos tinham esses programas, hoje mais de 60%
deles têm. E a expectativa é de que a médio
prazo todos o adotem", afirma Apostólico, da Fenaban.
Apesar da tendência
de aumento do valor concedido, as divergências entre trabalhadores
e empregadores não desapareceram. É o caso da Petrobras,
em que o sindicato pede o pagamento de um mesmo valor a todos os
funcionários. O que contraria a política atual da
estatal, em que a PLR é proporcional ao salário.
Para o diretor-gerente
de recursos humanos da Petrobras, José Lima de Andrade, essa
desavença deve-se também ao fato de não haver
regras prévias que definam o valor do benefício, que
só é discutido após a divulgação
do balanço da empresa. Nesse caso, a PLR - negociada em acordo
específico e não na convenção coletiva
- corresponde a um percentual de seu lucro líquido, fixado
pela assembléia de acionistas todo ano.
Em novembro,
a Petrobras fez o pagamento da primeira parcela dos R$ 380 milhões
referentes ao seu desempenho em 2001, no valor de R$ 140 milhões.
Agora, a estatal discute como pagar os outros R$ 240 milhões.
Em 99, o montante recebido pelos empregados foi de R$ 92 milhões,
já em 2000 chegou a R$ 290 milhões.
A PLR teve uma intenção a mais para a Petrobras, que
passou a adotá-la em 1995, quando a empresa assistiu à
abertura do setor. "Faz parte de um conjunto de esforços
para reter talentos."
Nas empresas
de alimentação, ela também é usual.
Com a troca de direção, no fim de 1999, a Chapecó
criou dois benefícios: a PLR, voltada à fábrica,
e a avaliação de resultado de gerentes. Antes, só
existia bônus a executivos.
Apesar do salto
no faturamento, de R$ 170 milhões em 99 para R$ 680 milhões
em 2001, a empresa continuou a amargar perdas. "Mas 99% do
prejuízo foi conseqüência da desvalorização
cambial e não da operação", diz o diretor
de RH da Chapecó, Antonio Ballerine. Por conta disso, pagou
uma PLR "simbólica" de R$ 80 para cada um. Nem
tão simbólica diante do salário médio
do trabalhador, de R$ 350.
A Sadia, que
também tem dois programas - um para executivos e outro para
os empregados da fábrica - distribuiu no ano passado R$ 9,9
milhões a 21 mil funcionários. Em 2000, havia pago
R$ 5 milhões a 19 mil pessoas. A empresa já acertou
as regras para o pagamento de PLR, que equivale a 5% do lucro líquido
da empresa, para este ano e 2003.
O benefício
também ganha terreno no varejo. O sindicato de comerciários
de São Paulo criou há um ano um departamento com três
diretores só para o tema. Nesse ano, mais de cem mil trabalhadores
devem ser contemplados com o mecanismo. Em 2000, foram 60 mil. Há
cerca de 400 mil filiados à entidade.
(Valor Econômico)
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Quem fica em um mesmo emprego
acaba ganhando mais aumentos
O aumento da
concorrência na última década acarretou mudanças
na política salarial das empresas. O tamanho da companhia
e a região em que está instalada deixaram de ser um
diferencial ha hora de contabilizar a remuneração.
O que mais importa agora é o tempo de casa.
Estudo inédito
do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) indica
que um trabalhador que tem três meses de experiência
numa empresa e lá permanece por mais um ou três anos,
terá um ganho salarial próximo a 15%. E, quando passa
para mais de cinco anos, o aumento chega a 40,5%.
"Este resultado
é fruto de uma maior pressão competitiva pela qual
as empresas brasileiras estão passando, o que as obriga a
oferecer um salário de mercado para reter um bom trabalhador",
explica Carlos Henrique Carlos Corseuil, autor do estudo "Determinantes
da Renda no setor formal da economia", com Daniel Santos, da
Diretoria de Estudos Sociais (Disoc), do Ipea.
A pesquisa foi
realizada a partir de dados da Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), que as empresas entregam ao Ministério do
Trabalho. É uma base pouco usual entre os pesquisadores brasileiros,
que preferem trabalhar sobre os dados fornecidos pelas famílias,
como os reunidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(Pnad).
Corseuil lembra
que nos anos 80, graças à ausência de concorrência
em muitos setores, as empresas que tinham altos lucros pagavam um
salário diferenciado. Hoje, elas não têm mais
esse privilégio. "A capacidade de produzir, adquirida
com escolaridade e com aprendizado na própria empresa, é
que vai premiar o trabalhador", continua.
O estudo mostra
ainda que há uma bipolaridade salarial entre os setores de
atividade. Construção civil, transporte e comunicações
e serviços de saúde e educação compõem
um grupo bem remunerado. Na outra ponta, estão serviços
técnicos e financeiros, administração pública
direta, comércio e serviços de hospedagem, alimentação
e agricultura.
Mas se um trabalhador
larga um emprego numa companhia que pertence ao grupo com remuneração
menor e vai para o primeiro, seu aumento salarial é pífio,
sendo em média de 5%. "Pensava-se que alguns setores
industriais pagavam melhor que outros, mas isso hoje está
relacionado à experiência e, não mais, ao ramo
de atividade", analisa Corseuil.
Além
disso, se um dos quatro trabalhadores de uma micro empresa é
contratado por outra, com 500 funcionários, a "migração"
não vai ter efeitos sobre seu bolso. O estudo sugere que
nem mesmo há distinção significativa entre
os salários em estabelecimentos de controle público
e privado.
No caso de um
trabalhador de São Paulo que aceita uma proposta de emprego
em outra região, ele só terá ganho salarial
se for para o Rio de Janeiro ou para o Mato Grosso do Sul. "E,
provavelmente, se não mudar de empresa, mas for transferido
para uma filial", observa Corseuil.
Ao se dirigir
para os demais Estados, o aumento é mínimo. Mas, se
um empregado de outra região vem a São Paulo, principalmente
do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte
a diferença salarial varia de 16% a 27%. Agora, se a migração
ocorre entre estados do Sudeste (Minas Gerais e Espírito
Santo), o ganho não ultrapassa a casa dos 14%.
(Valor Econômico)
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