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estudo
27/09/2004
Gravidez cresce entre adolescentes da elite

O aumento da gravidez na adolescência verificado na década de 90 não é restrito às classes menos escolarizadas e mais pobres.

Estudo do Instituto de Medicina Social da Uerj mostra que, no Rio e em São Paulo, houve aumento em quase todas as classes sociais e, no caso de São Paulo, o aumento verificado entre as adolescentes de famílias mais escolarizadas e de maior renda foi até superior ao verificado entre de famílias menos escolarizadas e mais pobres.

Em 1991, o Censo do IBGE apontou que a taxa de filhos nascidos vivos por mulher de 15 a 19 anos no segmento específico das meninas cujas mães tinham ao menos 11 anos de estudo era de 58 filhos por grupo de 1.000 mulheres em São Paulo. Em 2000, subiu para 86, uma variação de 48%.

Já a variação dos casos de gravidez entre as jovens de famílias de maior renda (mais de 15 salários mínimos de renda média familiar) foi de 43%.

No grupo de menor escolaridade (adolescentes cujas mães tinham menos de quatro anos de estudo), essa variação foi de 11%. Passou de 282 filhos por 1.000 nascidos vivos para 314 filhos por 1.000 nascidos vivos.

Esses dados não negam que a renda e a escolaridade são fatores que influenciam, e muito, a decisão sobre o número de filhos que a adolescente quer ter ou sua capacidade de evitar uma gravidez não prevista. Mas eles mostram que o aumento da gravidez precoce não pode ser atribuído à pobreza ou à falta de escolaridade.

O pesquisador Mário Francisco Giani Monteiro, autor do estudo apresentado no 14º Encontro Nacional da Abep (Associação Brasileira de Estudos Populacionais), fez a mesma tabulação para o Rio e comparou, tanto no Rio quanto em São Paulo, também a variação da taxa de acordo com o rendimento.

O resultado mostra que em todas as classes de rendimento e de escolaridade foi verificado aumento da fecundidade precoce. A única exceção foi entre as adolescentes em São Paulo com rendimento familiar inferior a dois salários mínimos. Esse grupo continua tendo a taxa mais alta, mas ela foi reduzida em 11%, de 392 por 1.000 para 349 por 1.000.

Tanto no Rio quanto em São Paulo, os maiores aumentos percentuais foram verificados entre os grupos médios de escolaridade (mães entre quatro e sete anos de estudo ou de oito a dez anos).

Aborto e costumes
A pesquisadora Suzana Cavenaghi, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, diz que, no caso das jovens de classe mais alta, o dado de filhos por mulher não reflete o número real das que engravidaram: "Há muitas meninas de classe alta que fazem aborto. Nas classes de menor renda, o acesso à prática é mais difícil".

"Adolescentes de todas as classes estão iniciando sua vida sexual mais cedo. Além disso, valores como preservar a virgindade antes do casamento foram gradualmente perdendo a importância", afirma Monteiro.

Segundo Cavenaghi, a tendência de aumento da gravidez na adolescência é mundial:
"O problema é que essa mudança no comportamento sexual dos adolescentes nem sempre é acompanhada de uma mudança nas atitudes das famílias e da preparação do sistema público de saúde".

Para o demógrafo Humberto Corrêa, da Unicamp, que também apresentou um estudo sobre mães adolescentes no encontro da Abep, a questão da gravidez na adolescência não deve ser vista apenas como problema. "Se a mulher já está preparada, do ponto de vista biológico, para ter um filho, e isso faz parte do projeto de vida dela, não há problema."

Cavenaghi concorda que, principalmente quando a adolescente tem 18 ou 19 anos, nem sempre a gravidez é indesejada. Ela afirma, no entanto, que esse fenômeno deve ser visto como possível problema quando se analisa o impacto na escolaridade da mulher, já que uma gravidez precoce pode interromper os estudos e prejudicar a inserção no mercado.

Nesse sentido, outro estudo apresentado no encontro da Abep mostra que o impacto, do ponto de vista econômico, de ter um filho antes de 20 anos de idade, varia muito de acordo com o nível de escolaridade da mulher.

Estudo de Ivo Chermont, Alinne Veiga e Adriana Fontes, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, mostra que, nas classes mais escolarizadas, o impacto negativo na renda da mulher que teve gravidez precoce é maior.

Os autores compararam, a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) de 2002, do IBGE, a renda média de mulheres entre 24 e 40 anos que tiveram filhos antes ou depois dos 20 anos. No grupo com mais de 12 anos de estudo, mulheres com gravidez precoce apresentavam uma média de rendimento de R$ 877, enquanto as que não tinham tido filhos antes dos 20 anos ganhavam R$ 1.290. No grupo de mais baixa escolaridade, praticamente não houve diferença.

Segundo o relatório "Situação da População Mundial 2004", elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a População, a taxa de 86 filhos por grupo de 1.000 mulheres em São Paulo (no grupo mais escolarizado) é bastante superior à média verificada na Europa em todas as classes sociais (20 nascimentos por grupo de 1.000 mulheres de 15 a 19 anos) e semelhante à média da América Central (76 nascimentos por 1.000 mulheres de 15 a 19 anos).

A taxa encontrada entre as meninas paulistas e fluminenses menos escolarizadas (314 por 1.000) é superior até mesmo à taxa mais alta encontrada entre os 153 países que constam desse relatório. Essa taxa na África Central (a maior entre todas as regiões comparadas) foi de 200.


ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo

   
 
 
 

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