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De Garanhuns a Brasília

Lula demorou 13 dias para ir de PE a SP e quatro eleições para chegar à Presidência

da Folha Online

A cidade de Garanhuns (230 km a sudoeste de Recife), no agreste nordestino, é a terra natal do novo presidente da República. Conhecida como a "Suíça Pernambucana", o município de 110 mil habitantes espera atenção especial a partir de 2003.

Luiz Inácio Lula da Silva, 57, viveu na localidade de Vargem Grande, em Caetés, então distrito de Garanhuns, até os 5 anos, quando migrou com a mãe, Eurídice, para Vicente de Carvalho (SP), onde o pai, Aristides, já trabalhava na estiva do porto de Santos. A viagem de pau-de-arara durou 13 dias, em que se alimentou de farinha, rapadura e queijo. No litoral, vendia amendoim, tapioca e laranja.

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Lula articula com FHC a criação de um partido em 1975
"A gente tem a esperança de que ele ajude o lugar onde nasceu e onde moram seus parentes", diz o primo Florêncio de Melo Neto, 68, mais conhecido na cidade pelo apelido de "Lola".

Situada entre sete colinas, a cerca de 900 metros acima do nível do mar, Garanhuns chega a registrar 5ºC nos meses mais frios (maio a agosto).

O município está encravado em uma reserva hidromineral. Mas falta água para garantir o consumo da população e viabilizar a irrigação na agricultura _a população espera a construção de uma barragem.

"Não temos saneamento básico. O esgoto corre para o rio. O hospital atende mal. Não há emprego", afirma outro primo, o comerciante João Florêncio de Melo, 63.

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Quando foi preso, Lula recebe apoio de Tancredo, Brizola e Ulysses em 1981
Este, que também deixou a terra natal e só voltou há 15 anos, jogava futebol com o petista quando ele já morava na Vila Carioca, região do Ipiranga (zona sul de São Paulo). Na infância, o sonho de Lula era virar jogador do Corinthians.

Em Garanhuns (69,5 mil eleitores), Lula teve 63% dos votos válidos no primeiro turno, desempenho bem superior à média nacional (46%).

Na última visita ao município, antes do início da campanha eleitoral, Lula comeu o prato típico da região: carne de bode com fava.

Sul maravilha

Ao chegar a São Paulo, Lula começou a trabalhar, aos 12 anos, como engraxate e entregador de roupas em uma lavanderia. Em 1963, formou-se torneiro mecânico no Senai e, em 1964, transferiu-se à metalúrgica Aliança. Foi aí que perdeu o dedo mínimo da mão esquerda, em acidente.

A passagem da vida de operário para a de político aconteceu com a atividade sindical, para a qual entrou em 1966, por intermédio de seu irmão José Ferreira da Silva, o Frei Chico, militante do extinto Partido Comunista.

Em 1972, foi eleito primeiro-secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Em 1975, elegeu-se presidente da entidade. Lula compareceu à posse de terno, gravata e colete. O traje virou alvo de comentários. Nunca um sindicalista havia se vestido assim.

Engana-se quem pensa que o atual figurino de Lula é apenas resultado da ação de marqueteiros. Em uma entrevista ao programa "Vox Populi", da TV Cultura, em maio de 1978, o então sindicalista disse que a classe trabalhadora não gosta de miséria e que tem o direito de consumir tudo o que produz.

"É o mínimo a que nós podemos aspirar ou iremos apenas fazer os outros se vestirem, assistirem TV em cores e viver bem", dissera.

Nessa mesma entrevista, Lula afirmava que não tinha pretensões políticas futuras depois que deixasse o sindicato e que para isso havia sindicalistas mais capacitados. "Jamais participarei disto [política partidária].

Na época, ele surgia como uma nova liderança no país. O Brasil vivia sob o regime militar, e os sindicatos dos metalúrgicos do ABC desafiavam o poder constituído na luta por melhores salários.

Eram movimentos de massa com piquetes nas ruas, assembléias em estádios de futebol e greves com prazos indeterminados.

Na paralisação de 1979, o sindicato de São Bernardo e Diadema sofreu intervenção do governo federal, e Lula foi destituído do cargo. Em 1980, mais de 100 mil trabalhadores aderiram ao que foi considerado pela imprensa na época de "a maior paralisação operária da história do sindicalismo brasileiro".

Lula e mais sete sindicalistas _entre eles o ex-presidenciável do PSTU José Maria de Almeida_ foram presos pelo Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) como forma de pressionar a volta ao trabalho.

Enquanto estava preso, a mãe de Lula, Eurídice Ferreira de Mello, morreu de câncer aos 65 anos. Assim que soube da morte da sogra, Marisa Letícia entrou em contato com o então delegado Romeu Tuma, senador reeleito do PFL-SP, para permitir que o marido acompanhasse o velório e o enterro.

Cerca de 2.000 pessoas se aglomeraram nas proximidades do cemitério da Vila Paulicéia, em São Bernardo, para saudar o sindicalista e pedir sua libertação. Lula foi solto após um mês de prisão. Em 1981, foi condenado pela Justiça Militar a três anos e seis meses de detenção por incitação à desordem coletiva, mas a sentença acabou anulada no ano seguinte.

Ao ser solto, o ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo, Erasmo Dias, um dos personagens mais representativos da repressão política no regime militar em São Paulo, foi profético em relação ao destino do sindicalista. "Ele tem agora um futuro político garantido e se elege tranqüilamente deputado ou senador", dissera Dias em entrevista após a libertação de Lula.

Em fevereiro de 1980, Lula participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo e, em 26 de maio, sua chapa foi eleita para comandar a executiva da sigla.

Em 1982, Luiz Inácio da Silva acrescentou o apelido "Lula" ao nome e disputou o governo de São Paulo. Em 1986, foi eleito com a maior votação do país para a Assembléia Nacional Constituinte. Em 1989, disputou pela primeira vez à Presidência da República e foi derrotado por Fernando Collor de Mello no segundo turno.

Decidido a disputar novamente o cargo, Lula cruzou o país do Oiapoque (AM) ao Chuí (RS) nas "Caravanas da Cidadania". Em 1994 e 1998, no entanto, perdeu a eleição no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Agora, Lula chega a presidência de República no dia que completa 57 anos de idade.

 

Primeira Dama

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Marisa sorri durante debate do marido Lula na TV










Marisa, a "galega" de Lula


da Folha Online

Marisa Letícia da Silva, 52, mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chega ao Palácio do Planalto com o desejo de imprimir um novo perfil ao posto de primeira-dama do Brasil, ocupado hoje pela antropóloga Ruth Cardoso.

Pela primeira vez nas quatro campanhas de Lula, Marisa esteve ao lado do marido o tempo todo, em palanques, comícios, debates e caminhadas, principalmente pela necessidade de conquista do voto feminino. Antes, ficava de fora dos holofotes e do burburinho da mídia.

Chamada carinhosamente de "galega" por Lula, teve participação importante na história do PT. Em fevereiro de 1980, foi ela quem confeccionou a primeira bandeira do partido: vermelha com uma estrela branca. "Eu tinha um tecido vermelho, italiano, um recorte guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca no fundo vermelho. Ficou lindo."

Casada há 28 anos, Marisa viu com naturalidade sua casa se transformar em QG primeiramente de discussões sindicais e mais tarde de contestações políticas. Os almoços de domingo em casa sempre estiveram abertos a metalúrgicos, militantes e amigos de partido.

Na época das grandes greves, ajudou a organizar passeatas de mães e filhos de metalúrgicos, em 1980, quando os líderes estavam presos e o sindicato sofreu intervenção.

No mesmo ano, quando o PT foi fundado, o endereço do casal passou a ser do partido. Para ajudar a arrecadar dinheiro à legenda, a casa era usada para confeccionar camisetas vermelhas com estrelas brancas.

Desde então, junto com o crescimento do PT, Marisa passou por um processo de mudança, sob a orientação do publicitário Duda Mendonça, que comandou o marketing da campanha eleitoral do PT em 2002. Ganhou um guarda-roupa novo, recheado de terninhos modernos e um corte de cabelo que valoriza as feições italianas.

A primeira-dama diz não se deslumbrar com a chegada ao poder. Para ela, será mais um trabalho, como todos os que já fez desde os 9 anos, quando começou a trabalhar como pajem. Aos 13, ainda sem carteira de trabalho, foi embalar bombons na fábrica Dulcora, em São Bernardo, onde ficou até os 21 anos.

Antes de Lula e Marisa se conhecerem, os dois eram viúvos. Foi a viuvez que os aproximou. Para receber a pensão do marido morto, Marisa precisava protocolar um documento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na época dirigido por Lula.

Depois de Lula insistir muito, Marisa acabou cedendo aos apelos e aceitou um encontro. O cenário do almoço foi o restaurante São Judas, no bairro Demarchi, em São Bernardo. É lá que vários dirigentes petistas se encontram para discutir assuntos políticos, pessoais e aproveitar para comer o frango com polenta, especialidade da casa.

Entre o primeiro encontro e o casamento foram sete meses. Casada com Lula, Marisa tornou-se funcionária da rede municipal de ensino. Largou o emprego para cuidar dos filhos. Além de Marcos (do primeiro casamento de Marisa), eles tiveram mais três.

Entre os hábitos de Lula que mais irritam Marisa, está a bagunça que costuma deixar na cozinha.

Ela promete inovar no posto de primeira-dama. Diz não fazer parte de sua personalidade passar a tarde em eventos beneficentes ou sociais.


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