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O Eleito

Oposição e guinada ao centro fazem Lula e PT vencerem a primeira eleição presidencial

da Folha Online

Após 22 anos de existência do partido, três derrotas e oito anos de oposição quase sistemática a Fernando Henrique Cardoso (com críticas ao modelo econômico e ao legado na área social), o ex-torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva, 57 (PT), chega à Presidência da República.

Lula venceu o economista José Serra, 60, candidato oficial, duas vezes ministro de FHC e uma das principais lideranças do PSDB. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Lula obteve cerca de 53 milhões de votos - 61% dos votos válidos.

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Lula beija a bandeira do Brasil
O petista chega ao cargo mais conservador, com inflexão ao centro e sem assustar a direita do país -com quem até se associou para atingir a vitória. O petista eleito no dia do seu aniversário assume o poder se dizendo disposto a firmar um pacto social com todos os setores da sociedade para resolver a crise pela qual o país atravessa.

Sinal da aproximação e do bom trânsito do PT com setores conservadores foi a escolha do empresário José Alencar Gomes da Silva, 71, a vice na chapa. Político mineiro do PL, o senador será um dos interlocutores do novo governo com setores empresariais e conservadores do "establishment".

Lula termina a campanha com o recorde do número de eleitores. É o primeiro líder de um partido de esquerda eleito presidente e, no cargo, o primeiro operário, o primeiro civil sem diploma universitário e o primeiro natural de Pernambuco a exercê-lo como titular.

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Lula cochicha com Itamar Franco durante encontro que marcou a aliança em 2002
Em três meses de campanha, Lula visitou 93 cidades, fez 103 comícios, 63 carreatas, permaneceu um total de 147 horas dentro de aviões e percorreu 61.127 km pelo país.

Foi a mais rica campanha presidencial petista. O custo final deve ultrapassar os R$ 35 milhões. O partido pediu autorização ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para gastar até R$ 48 milhões. A infra-estrutura petista contou inclusive com carro blindado, guarda-costas e jatinho.

Parte do dinheiro gasto foi destinado ao pagamento do marqueteiro Duda Mendonça. Também foram contratados estrelas do jornalismo, como Ricardo Kotscho, assessor de Lula, o cientista político André Singer, que atuou como porta-voz, o cineasta Paulo Caldas e outras 200 pessoas para a campanha.

Integrantes do PT [como o presidente do partido, José Dirceu, o prefeito de Ribeirão Preto (SP), Antônio Palocci, e o deputado federal e recém-eleito senador Aloizio Mercadante (SP)] também tiveram papel fundamental na eleição de Lula.

A vitória representa mudança do diálogo com setores antes refratários e combatidos pelo PT. Desde 1989, quando perdeu sua primeira eleição presidencial para Fernando Collor de Mello, o discurso, as propostas e, talvez, principalmente, a imagem do candidato e do partido vêm se tornando menos radical e mais próxima de setores mais ao centro.

Em um comício em Rio Branco, no dia 22 de agosto, o candidato do PT que acompanhava ao largo os violentos embates entre seus adversários, disse: "Lulinha não quer briga. Lulinha quer paz e amor". Estava criado o mote de sua campanha à vitória. Estava sintetizado o discurso político da conciliação, do entendimento e da negociação.

A guinada ao centro rendeu adesões à candidatura dos ex-presidentes José Sarney (PMDB-AP) e Itamar Franco (sem partido), do ex-governador Orestes Quércia (PMDB), dos empresários Eugênio Staub (Gradiente) e Josmar Avelino (ex-presidente da Klabin) e a declaração do ex-ministro do regime militar Delfim Netto (PPB-SP) de que o PT faria um governo social-democrata "de verdade".

Marketing vermelho

Tendo o segundo maior tempo de TV à disposição no primeiro turno (5min19s por bloco, ou 21,2% do total,atrás apenas do tucano José Serra, com 10min18s), Duda Mendonça trabalhou desde o começo do horário eleitoral gratuito (20 de agosto) para reduzir o índice de rejeição a Lula [historicamente maior entre as mulheres e os mais velhos].

Para isto, o marqueteiro criou as chamadas "pílulas", inserções nas quais falava diretamente a esses setores, e deu tom emocional aos programas.

Foi Duda o principal responsável pela linha de comportamento adotada por Lula durante a campanha. O petista evitou entrar em embate com seus adversários e procurou não abordar diretamente temas polêmicos, que pudessem lhe tirar votos.

Ao mesmo tempo, o petista contou com uma equipe de articuladores que costurou apoios antes considerados inimagináveis. Primeiro silenciou a ala mais radical do partido. Depois, fez visitas à Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), à Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), à Fierj (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) e à Escola Superior de Guerra. Em todos os encontros, recebeu elogios e aplausos.

As reuniões, aliadas à propaganda sob a assinatura de Duda, tentaram passar a imagem de um candidato negociador e estadista. O discurso também se uniu à tentativa: por mais de uma vez na campanha se ouviu o petista dizer que seria o "presidente das negociações", que faria uma reforma agrária sem mortes no campo, que era preciso estabelecer um novo contrato social no país.

Vencida a eleição, Lula terá a mais difícil tarefa em sua trajetória política: reunir uma base de apoio sólida no Congresso Nacional, capaz de votar reformas importantes para o Brasil, e que possa sustentá-lo diante da crise econômica e de credibilidade junto a setores do mercado, que se colocam à frente do país.
 

O vice

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O eleito vice-presidente José Alencar, durante discurso










Lula compara a aliança com José Alencar a "Romeu e Julieta"


da Folha Online

Na festa que organizou para comemorar seus 50 anos de vida empresarial, em dezembro de 2000, dificilmente o senador José Alencar Gomes da Silva (PL-MG) poderia imaginar que dois anos depois estaria eleito vice-presidente da República.

Na ocasião, a simpatia de Alencar pelo líder petista ficou evidente: "Está aqui, nada mais nada menos, o grande brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva", anunciou aos convidados. Na época, o petista ainda evitava falar na quarta candidatura.

Graças ao perfil simples e empreendedor, às críticas ao governo federal e à proximidade com o empresariado, foi muito disputado e alçado à condição de vice ideal de oposição. A posição auto-declarada de centro, facilitaria a adaptação.

Antes de entrar para o PL, em outubro de 2001, Alencar foi assediado também pelo PTB e manteve conversas com Anthony Garotinho, do PSB. O PMDB, do qual se desfiliara no mês anterior, ofereceu-lhe a presidência do Senado.

Às vésperas da aliança entre PT e PL em junho de 2002, Lula comparou ele e Alencar ao par shakespeariano "Romeu e Julieta", que para se casarem dependiam do consentimento familiar.

O mineiro de Muriaé nasceu em 17 outubro de 1931, 11º filho de um pequeno comerciante e uma dona-de-casa. Começou trabalhar aos 15 anos e estudou só até a 5ª série. Com dinheiro emprestado de um irmão, abriu em 1950, aos 18 anos, a loja de tecidos "A Queimadeira", em Caratinga, no interior mineiro.

Em 1953, vendeu a loja e virou vendedor atacadista de tecidos. Depois, foi comerciante de grãos e sócio de uma empresa de macarrão.

Com empréstimos da extinta Sudene e o apoio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, fundou em 1967 em Montes Claros a Companhia de Tecidos Norte de Minas, a Coteminas.

A estréia política foi em 1994, como candidato ao governo estadual. Ficou em terceiro lugar, com 10,71% dos votos válidos. Em 1998, foi eleito para o Senado com quase 3 milhões de votos, com uma das campanhas mais ricas do país.

Alencar financiou 99% de sua campanha. Segundo informação dada ao TRE-MG, foram gastos R$ 6,4 milhões na campanha. Como comparativo, Itamar Franco gastou no mesmo ano R$ 2,8 milhões para se eleger ao governo do Estado.

No Senado, defendeu o empresariado nacional e criticou o governo pela não-realização das reformas e pela política econômica que barrou o desenvolvimento.

Antes de entrar nas disputas eleitorais, presidiu por 15 anos (1989-1994) a Federação das Indústrias de Minas Gerais e passara pela direção da Associação Comercial de Minas e pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte.

Em 2001, foi um dos senadores que assinou o pedido de abertura de CPI para investigar as acusações de corrupção em órgãos ligados ao governo federal, o que valorizou sua condição de oposição ao governo.

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