05/12/2002
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08h16
Filme do sequestro do 174 choca mais que a cobertura da TV
MARCELO BARTOLOMEI Editor de Entretenimento da Folha Online
Falta um aviso médico no início do documentário "Ônibus 174", de José Padilha, do tipo "Este filme não é recomendado para cardíacos, gestantes e pessoas com problemas nervosos". Reencontro das imagens geradas pelos noticiários das TVs no dia 12 de julho de 2000, o filme choca muito mais.
Nele, Padilha entrelaça o crime à história do sequestrador, o ex-menino de rua Sandro do Nascimento, 21, que viu a mãe ser degolada quando tinha 8 anos, foi um dos sobreviventes da chacina da Candelária, em 93, e morreu asfixiado por policiais no desfecho da operação de dois anos atrás.
O sequestro, durante toda a sua duração, foi acompanhado por praticamente todo mundo. Na época, ele já chocava. Nas TVs, no entanto, ninguém ouviu o que realmente aconteceu na negociação com a polícia, tampouco o que as reféns gritavam do interior do ônibus e muito menos o que as pessoas que estavam em volta do veículo diziam a cada avanço do sequestrador.
Mesmo com a cobertura ao vivo e com as imagens transmitidas diretamente do local do sequestro, a dimensão do crime fica muito maior no filme, que se transforma numa espécie de "bastidores", com imagem e som brutos, sem cortes.
E as verdades aparecem: o Sandro violento que todo mundo conheceu naquele dia era um sequestrador com medo.
Por causa disso, pediu desesperadamente às reféns que simulassem todo aquele desespero, por mais que -como dizem nos seus depoimentos- não soubessem como aquilo poderia terminar.
A população, que cercou o ônibus para acompanhar de perto o desfecho do crime, aparece revoltada. Questiona as atitudes da polícia e sugere até o linchamento do sequestrador quando ele se entrega.
Filme social
Muito mais que a história de uma vida, faz um paralelo da situação em que os menores de rua do Rio de Janeiro se encontram, lembra do episódio da Candelária e relaciona tudo à violência ocorrida não somente naquele dia, mas em todos os outros casos quem envolvem adolescentes e crianças que vivem nas ruas.
"Ônibus" é um filme violento, mas social, e chega num momento pós-"Cidade de Deus" (sem querer comparar com sua ficção, até porque ela é baseada na realidade). Talvez seus longos planos aéreos e as entrevistas com os meninos e meninas de rua sejam questionáveis, mas tudo se encaixa de uma maneira correta no final. As aéreas ajudam a reduzir a tensão. As entrevistas, situam o principal foco do filme: alguém precisa olhar para o problema e oferecer soluções.
O mais engraçado do "Ônibus 174" é que todo mundo já sabe seu desfecho. Nem é estragar o prazer contar que a refém Geísa Gonçalves, 21, morre com três tiros, e o próprio sequestrador é asfixiado pela polícia. Mesmo sabendo isso, ele não perde a graça. Deixa, como o próprio diretor diz, as pessoas "na ponta da cadeira".
Veja fotos do sequestro do "Ônibus 174"
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"Ônibus 174" Produção: Brasil, 2002 (128 min) Direção: José Padilha Onde e quando: ABC Plaza Shopping 2, às 13h20, 16h20, 19h05 e 21h55; Cinearte 2, às 14h, 16h30, 19h e 21h40; Cineclube DirecTV 1, às 14h20, 16h40, 19h10 e 21h40; Internacional Guarulhos 15, às 19h10 e 21h50 Distribuição: Riofilme
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