Livraria da Folha

 
06/08/2010 - 17h03

"Dicionário do Palavrão" coloca Jorge Amado no topo da literatura "boca-suja"

da Livraria da Folha

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Brasileiros acreditavam que escritor baiano Jorge Amado usava palavrão na hora certa
Brasileiros acreditavam que escritor baiano Jorge Amado usava palavrão na hora certa

Entre os escritores mais lidos da literatura brasileira, o romancista baiano Jorge Amado (1912-2001) é um dos que mais usa o palavrão em sua vasta obra literária.

A informação, obtida pelo folclorista pernambucano Mário Souto Maior (1920-2001) durante sua pesquisa para elaborar o "Dicionário do Palavrão e Termos Afins" (Editora Leitura), consta no glossário.

Souto Maior percorreu várias regiões do país para ajudar o brasileiro a entender a origem dos vocábulos impróprios. Distribuiu 8.000 formulários para penetrar em todos os cantos do país e consultou pessoas de diferentes níveis intelectuais, das mais variadas idades e condições econômicas.

Cinco anos de pesquisa renderam mais de 3.000 verbetes, tidos como chulos. O pernambucano entrevistou várias fontes e leu mais de 200 romances para finalizar o exemplar.

Falando em romances, Amado não é o único intelectual que tem lugar garantido em cada letra do alfabeto. José Lins do Rego (1901-1957), Gilberto Freyre (1900-1987) e Oswald de Andrade (1890-1954), por exemplo, também figuram entre os "bocas-sujas" letrados.

Divulgação
Folclorista pesquisou mais de cinco anos e leu mais de 200 romances
Folclorista pesquisou mais de cinco anos e leu mais de 200 romances

Publicado originalmente em 1974, com prefácio assinado por Freyre, o dicionário sofreu censura dos militares. O compêndio foi lançado na década de 1980, durante o governo de João Figueiredo (1918-1999). A primeira edição esgotou rapidamente. O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) chegou a defender o glossário publicamente na edição de 20 de março de 1980 do "Jornal do Brasil".

À época, a pesquisa revelou que muitos brasileiros acreditavam que o escritor baiano usava o palavrão no momento certo, sem abusar. "Merda", o palavrão mais utilizado pelos franceses, também era o mais utilizado pela população do país.

A Livraria da Folha selecionou cinco palavrões colhidos por Souto Maior na obra literária de Amado. Reproduzimos conforme o "Dicionário do Palavrão e Termos Afins".

*

- Dar a maricotinha: O mesmo que dar o cu, ato de pederastia passiva (Bahia). "O demais que tinha praticado Severina exatamente para impedir que ele lhe tirasse os tampos: onde o reverendo Frei ouvira dizer que tomar no cu era o mesmo que dar a maricotinha?" [AMADO, Jorge. Tocaia Grande. Rio de Janeiro, Record, 1984, p. 457].

- Fechar a cancela: Aposentar-se sexualmente (Nordeste). "Já fechou a cancela, Boa Vida" [AMADO, Jorge. Capitães de Areia, (3ª ed.). São Paulo, Martins, 1945, p. 93.]

- Levanta cacete: Mulher bonita, benfeita de corpo, sexy (Nordeste). "Até onde a memória alcança, as mulheres da família eram de encher o olho e de levantar cacete de morto" [AMADO, Jorge. Tereza Batista Cansada de Guerra. São Paulo, Martins, 1972, p. 43].

- Papar: Comer, ter relações sexuais (Nordeste, Sul). "Os aposentados e retirados dos negócios a viam e desejavam: - E o senhor, comandante, papou?" [AMADO, Jorge. Os Velhos Marinheiros (9ª ed.). São Paulo, Martins, 1961, p. 109].

- Zebedeu: Órgão sexual masculino (Bahia). "As raparigas, à la vontè, umas seminuas, outras em pelo, esfregavam trapos, banhavam-se, esquecidas em vadio converse. Atarantado, o adolescente não soube o que fazer nem como impedir o zebedeu de crescer sozinho na braguilha" [AMADO, Jorge. Tocaia Grande. Rio de Janeiro, Record, 1981, p. 241].

 
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