Livraria da Folha

 
20/08/2010 - 17h35

Na Bienal do Livro de SP, editores procuram delegacia para registrar furtos

PAULA DUME
FELIPE JORDANI
colaboração para a Livraria da Folha

Dezesseis câmeras --oito móveis e oito fixas. Cinco delas estão dentro da 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, posicionadas em globos de iluminação no pavilhão do Anhembi. A Bienal seria o cenário perfeito para o romance "A Menina que Roubava Livros".

A lotação do evento --principalmente no sábado (14) e domingo (15)-- e o grande número de visitantes em cada loja permitem que mãos ágeis e sacolas bem posicionadas sirvam de instrumento para aumentar bibliotecas pessoais de forma não lícita, além do desaparecimento de câmeras fotográficas, celulares e outros equipamentos eletrônicos.

A palavra "furto" parece ser um tabu no Anhembi. A direção do evento, o responsável pela segurança e a maioria das editoras consultadas pela equipe da Livraria da Folha se negam a falar no assunto. Quando o fazem, dizem que só contabilizam as baixas de obras ao final do evento, e os informantes não deixam divulgar seus nomes.

Furto de livros

Nelo Vicentini Neto, 58, gerente comercial da Academia do Livro e responsável pelo estande da Publifolha vai no caminho oposto e explica que cerca de 2% dos livros colocados à venda são perdidos para os "dedos leves". Há 42 anos no ramo de livros, disse que furtos ocorrem em todas as Bienais.

Neto descreve o procedimento adotado diante do flagrante. "Quando pego, levo para o caixa e faço pagar. Algumas vezes, chamo a polícia e tiro do local", diz o profissional que sentiu a falta de 15 exemplares e de um notebook. A subtração do item eletrônico foi registrada como queixa na direção da Bienal, no dia 17.

Ele nota que os preferidos ainda são os livros de lazer e não os de estudo. "Ninguém [organização da Bienal e estandes] comenta, a gente pergunta e eles falam 'Só depois saberemos, ao final'", afirma.

Neto não registrou os furtos de livros na central de segurança do evento. "A responsabilidade de deixar que isso não aconteça é minha. Não tem seguro que pague isso. Eles vão registrar e só", reconhece. Ele esclarece como se deu o furto. Uma mulher o chamou para consultar guias espanhóis. "Fui com ela até o local onde estão os guias do Egito e Cuba. Estavam juntos, muita coincidência. No que ela me tirou do local, entraram e levaram o notebook. Outra pessoa me chamou a atenção para outro livro, eu virei e ela sumiu. Saiu na corrida."

O gerente acredita que o furto ocorre pela ocasião. "Às vezes, a pessoa faz por brincadeira, outros porque têm problema de doença, se for criança é por inocência e sai pra mostrar pra mãe e não é por maldade. Mas 99% do público vem para comprar. É importante para nós."

Aguinaldo Pedro/Oficio da Imagem
Bienal do Livro, no Pavilhão do Anhembi, conta com dezesseis câmeras de segurança; Distração facilita furtos
Bienal do Livro, no Pavilhão do Anhembi, conta com dezesseis câmeras de segurança; Distração facilita furtos

Eletrônicos também são alvos

A editora da Vale das Letras, Patrícia Mara de Amorim, 38, concorda com a estimativa traçada por Neto. Como sua editora é direcionada para o público infantil, crianças e pré-adolescentes são público cativo em seu estande.

"Acontece de alguma criança colocar um livro na sacola, sem ser por maldade", diz Patrícia. Na última sexta-feira (13), ela foi vítima de um furto em seu local de trabalho. Após chegar ao estande com seu filho Eduardo, 12, e colocar a mochila do garoto em um espaço reservado na sala de reuniões, a mala sumiu em menos de cinco minutos.

A mochila de Eduardo tinha um iPod, um notebook, um relógio, um óculos de sol e um de grau. No dia, Patrícia registrou o sumiço dos objetos na central de segurança, porque a mala tinha um logotipo específico, e ela pensou que seria fácil de localizá-la.

A editora disse que não recebeu orientação da central de segurança. "Não me orientaram em nada. Foi mais ou menos 'Te enfia no meio da multidão e procura a mochila'. Quando procurei pela segurança falaram 'Não posso abordar uma criança se vê-la com a mochila'. Se eu achasse, era para chamar um deles [segurança] para falar com a pessoa."

Elias Paschoal Jr., 49, editor da DCL (Difusão Cultural do Livro) e marido de Patrícia, fez um boletim de ocorrência, no sábado (14), no posto avançado da Deatur (Delegacia Especializada em Atendimento ao Turista), localizado próximo à entrada principal da Bienal. Na data, havia mais 12 casos registrados na base policial.

Após o furto, Patrícia se sente insegura, com medo de fechar o caixa da nona Bienal do Livro que participa. Já o gaúcho Nelson Hoffmann, editor da Mediação, recebeu tratamento diferente quando procurou a segurança do evento, indicado pelo Caex (Centro de Atendimento ao Expositor).

A equipe de reportagem da Livraria da Folha encontrou Hoffmann, às 11h30 de ontem (19), no Deatur. O editor registrava a ocorrência do furto de seu notebook, que aconteceu na quarta-feira (18).

"Mostraram-se muito interessados e solidários, como não poderia deixar de ser para uma organização desse porte. Lá [central de segurança], fui encaminhado para este [Deatur] posto policial. Eles perguntaram se eu tinha mais notebooks e se prontificaram a me ceder cabos que fixam o computador. O atendimento foi profissional e gentil, não há queixas."

Segundo o editor, a ação foi estudada, planejada e executada por mais de uma pessoa. "Eu diria que foi um furto profissional, porque não havia maneira de fazê-lo sem que algumas pessoas nos distraíssem", notou.

Conforme apurou a Livraria da Folha no posto da Deatur, o perfil dos assaltantes destoa conforme o caso e se torna impreciso. Há relatos, por exemplo, de menores de 9 a 12 anos, enviados por gangues de chilenos e bolivianos para realizarem as ações no meio da multidão.

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, a polícia possui os dados, mas para uso interno estratégico. Os números das ocorrências --na capital, Estado, interior e grande São Paulo-- serão computados com as estatísticas do terceiro trimestre de 2010, previsto para ser divulgado no final de outubro de 2010.

 
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