Livraria da Folha

 
26/09/2010 - 16h21

Domadora de dragões deve superar inveja e desavença em romance teen

da Livraria da Folha

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A ginete Clara está de volta em aventuras emocionantes
A ginete Clara está de volta em aventuras emocionantes

Protagonista da série "Vale dos Dragões", Clara é uma ginete fabulosa. No primeiro livro da saga seu desafio é voar contrariando assim a vontade do pai, o Mestre dos Dragões, dono de um haras repleto destas criaturas, só que "domesticadas". Ela cumpre sua tarefa demonstrando certo talento e habilidade.

Em "Vale dos Dragões: Dominando a Tempestade" (Record, 2010) seus problemas, no entanto, tornam-se um pouco mais complexos. Sob suas costas está o peso de mostrar-se uma condutora de dragões tão eficaz quanto sua mãe foi em vida.

Não bastasse a pressão, a jovem heroína se vê às voltas em um desentendimento com sua melhor amiga, Breena. Enquanto as coisas dão certo para a protagonista, Bree atravessa uma maré de azar. Voo Lunar, seu dragão, por exemplo, está doente.

Além disso, Clara e Dançarino do Céu estão se saindo muito bem na competição pelas rosetas - prêmio do Campeonato das Ilhas. A desavença entre as amigas serve de combustível para os planos de Hortense, a arrogante filha do Grão-Lorde, que só pensa em se aproveitar desse clima entre ambas para disseminar seu veneno.

A história é escrita por Salamanda Drake, 16, que vive com seu pai nas Ilhas de Bresal, um mundo mágico encoberto por uma misteriosa névoa. "Vale dos Dragões" foi seu primeiro livro.

Leia o primeiro capítulo de "Vale dos Dragões: Dominando a Tempestade".

*

Capítulo Um

- Pulmões congestionados, tosse rouca, garganta inchada e mais fuligem do que uma chaminé entupida. - Alberico, o dragorinário, terminou o exame de Voo Lunar e se levantou.

- É carbonite mesmo. Ela precisa de paz e tranquilidade - continuou, sério. - Uma dose do meu xarope especial, três vezes ao dia: a minha preparação, veja bem, e não aquela mistura falsificada que a srta. Hildebrand valoriza tanto.

Voo Lunar deu um olhar triste para ele e tossiu de modo assustador.

- E, nem preciso dizer, nada de voar! - Alberico deu um olhar duro para Breena, como se suspeitasse de que no minuto em que desse as costas ela colocaria a sela instantaneamente em Lunar e faria o dragão doente voar até sofrer um colapso.

- Sim, mestre Alberico - disse Breena.

- Bom, terei que ir à exposição no Bosque dos Dragontários. Você vai?

Breena mordeu o lábio e balançou a cabeça.

- Não, acho que não. Adeus... e cuide do seu dragão.

Alberico assentiu e saiu do estábulo para o pátio calçado de pedras, com seu característico andar de garça. Breena o acompanhou até a porta e ficou parada, olhando enquanto ele montava num dragão quase tão magro e desengonçado quanto o próprio ginete. Ele se prendeu à sela e estalou as rédeas de mãos. O dragão desenrolou as grandes asas. Enquanto decolava, as abas do sobretudo de couro de Alberico se enfunaram atrás, balançando como se quisessem ajudar no voo do dragão. Quando o dragorinário e sua montaria estavam acima da aconchegante construção de pedras da sede do Vale dos Dragões, já era difícil dizer onde terminava dragão e começava ginete.

Breena retornou ao estábulo, ajoelhou-se e acariciou a crista nodosa acima do olho esquerdo de Voo Lunar. Naquela manhã, Lunar parecia um dragão arrasado. Seus olhos estavam remelentos e o nariz escorria. Ela se remexeu inquieta sobre a plataforma de pedra-pomes onde dormia, e fungou.

- Ah, Lunar - disse Breena, com tristeza -, o que vou fazer com você?

Clara enfiou a cabeça pela porta de cima do estábulo, que estava aberta.

- Como vai a paciente?

- Ainda tossindo que nem uma cabra - respondeu Breena.

Voo Lunar soltou uma tosse rouca, como confirmação. Um fio de fumaça saiu de suas narinas.

- Será que ela gostaria de um belo pernil de peryton?

Breena balançou a cabeça.

- Alberico disse que ela não pode comer carne.

- Ah mas, pode comer isto então.

Clara entrou na baia e remexeu num bolso de sua jaqueta de voo. Pegou uma maçã e ofereceu a Lunar, que, parecendo ofendida, enterrou o focinho sob a cauda.

- Lunar! Que modos são esses! - Breena deu um olhar de desculpas para a amiga.

- Não se preocupe - disse Clara. - Sempre fico arrasada quando estou com dor de garganta, e veja que a minha é bem curta, comparada com a de Lunar.

Breena suspirou.

- Coitada dela.

- Coitada de você. Você teve um tremendo azar nesta temporada: ficou doente demais para voar em Asa Alta, e, agora que ficou boa, Voo Lunar pega carbonite. Não é justo.

Breena suspirou.

- Bom, coisas piores acontecem no mar. De qualquer modo, você não deveria estar a caminho da exposição no Bosque dos Dragontários? É melhor você dar um bom tempo para Dançarino do Céu descansar antes da competição de Voo Limpo. Você já não deveria ter ido?

- É por isso que estou aqui - disse Clara rapidamente. - Você vem comigo.

- Ah, Clara, eu adoraria, mas não posso. Preciso ficar com Lunar...

- Ela só quer dormir, não alguém ciscando por aí feito uma galinha velha.

- Mas preciso dar as doses de xarope para carbonite.

- Bran pode fazer isso. - Clara balançou a cabeça para a porta do estábulo, por onde o chefe de estábulo do Vale dos Dragões podia ser ouvido dando ordens aos funcionários. - Ele já deu mais remédio a dragões doentes do que Gerda preparou jantares. De qualquer modo, nunca estive no Bosque dos Dragontários, você não iria querer que eu me perdesse, não é?

- Mas...

- Chega de discussão! Você não sai desde que Lunar ficou doente. Daqui a pouco acaba pegando carbonite também. Todo mundo vai. Papai foi ontem, Wony partiu com a srta. Hidebrand hoje cedinho e Drane está indo num dos dragões de bagagens. Estou com seu equipamento de voo aí fora e Céu está selado, esperando para ir.

- Parece que você pensou em tudo - disse Breena, parecendo infeliz. Depois riu. - Certo! Eu odiaria perder a segunda exposição seguida, mesmo não participando da competição. E você está certa: não suporto ouvir Lunar tossindo o tempo todo. Sou uma enfermeira terrível. Só me deixe trocar uma palavrinha com o Bran e já vamos.

Dançarino do Céu voava pelo desfiladeiro do Rio Revolto, acima do amontoado de rochas que se erguiam da torrente furiosa como dentes enegrecidos. O dragão se inclinava de uma ponta de asa à outra enquanto seguia o curso sinuoso do rio, as asas poderosas varrendo as brilhantes cortinas de borrifos e deixando para trás redemoinhos de vapor.

Breena, montada no assento traseiro da sela dupla, tirou o capacete - desafiando todas as regras de segurança - e espiou por cima do ombro de Clara, com o cabelo escuro balançando às suas costas. Rindo, fechou os olhos por causa da ardência dos borrifos d'água e abriu a boca para sentir as gotas frias na língua.

- Estamos ficando encharcadas!

- Não faz mal! - gritou Clara de volta. - Vamos secar logo. - Mas puxou para trás as rédeas de mãos. - Subindo, Céu!

Dançarino do Céu trinou em resposta e subiu obediente, afastando-se da água espumante. Chegando à borda do abismo, elevou-se num céu azul pintalgado de nuvens brancas e fofas e virou à esquerda, para voar baixo sobre os lagos escuros e sinistros e o capim duro de Clonmoor.

- Vá mais para o sul - gritou Breena, afivelando de novo a tira do queixo. - Vamos chegar ao litoral na Angra Espumosa.

Clara assentiu, bem-humorada, e fez o que foi pedido. Adorava montar Céu, mesmo sobre aquela paisagem monótona. Mas o litoral parecia mais promissor. Poucas vezes voara sobre o mar - a maioria dos treinos de voo do Vale dos Dragões acontecia sobre charnecas ou sobre a terra ondulada das fazendas nos Walds. Sabia que o litoral sudoeste de Portomar tinha algumas das paisagens mais espetaculares de todas as Ilhas de Bresal.

Voou mais alto. Em pouco tempo surgiu um brilho prateado a distância, que se alargou numa faixa, depois maior - e em seguida numa vastidão de água azul brilhante estendendo-se até o horizonte.

Breena apontou para baixo.

- A Angra Espumosa!

Roçaram sobre penhascos de granito e sobre uma praia de areia branco-amarelada cujas ondas de cristas brancas quebravam preguiçosas.

- É lindo! - gritou Clara. - E Céu adora o mar, não é, garoto? - Ela estendeu a mão e coçou o pescoço com prido do dragão. Dançarino do Céu deu um trinado afirmativo. - Gostaria que a gente tivesse tempo para parar e dar uma olhadinha.

- Talvez outro dia. Eu adoraria trazer Lunar para cá, quando ela estiver melhor. É esquisito voar sem ela. - Breena deu um tapinha no flanco de Dançarino do Céu. - Sem ofensa, Céu. - Em seguida, agarrou o braço de Clara e apontou para o mar: - Olhe lá! O que são aquelas formas na água?

Clara levou Dançarino do Céu na direção em que o dedo de Breena apontava. Logo ela também via as formas escuras nadando sem esforço abaixo das ondas.

- Ah, olha, Clara, são golfinhos. - Várias formas escuras saltaram da água. - Não... são botos.

Clara suspirou.

- É só isso?

- Só isso? Desde quando você vê botos todo dia?

- Desculpe. É só que... achei que poderia ser o povo do mar.

- Ah, o povo do mar, não é? - A voz de Breena soou engraçada. - Você e suas histórias. Você teria sorte: o povo do mar não gosta de ser visto. De qualquer modo, a maioria deles vive ao redor da Baía do Povo do Mar.

Clara assentiu, desapontada. Adorava as histórias do povo do mar desde que era pequena, sempre quis ver um deles. Mas eles eram tímidos e pareciam ter pouco tempo para os humanos. Ah, bom, pensou ela, talvez um dia...

- Vamos, Céu. - Clara puxou rapidamente as rédeas.

- Não queremos nos atrasar para a exposição.

Dançarino do Céu girou baixo, piando uma despedida para os botos que saltavam, e foi em direção à costa.

Voaram ao longo do litoral. Em pouco tempo as areias da Angra Espumosa deram lugar a penhascos altíssimos. Aves marinhas, fazendo ninhos nas lajes de rocha, saltavam no ar enquanto eles passavam e voavam atrás, gritando insultos roucos. Clara adorou o ar puro e limpo e a paisagem gloriosa. Acima dos penhascos pretos e cinzas ficavam campinas salpicadas com tojo amarelo e com os muitos tons das flores silvestres; abaixo, as ondas incansáveis se chocavam contra as rochas, lançando plumas brancas finas como fumaça.

Depois de um tempo, Breena deu um tapinha no ombro de Clara.

- Hora de ir para o interior. Agora não falta muito.

Clara lamentou que a viagem estivesse chegando ao fim. Voando com Céu, sentia-se mais livre do que em qualquer momento no chão: sua mente ficava mais alerta, o corpo em total equilíbrio, os sentidos mais afinados. Tudo no voo deles era mágico - o sol no rosto, o sopro do vento ao redor, as batidas fortes das asas de Dançarino do Céu, o brilho de suas escamas. E o Elo de Confiança entre dragão e ginete, intangível, mas forte como aço, que os unia com mais firmeza do que os laços de sangue ou amizade, de um modo que quem não era ginete jamais entenderia.

- Chegamos!

O grito exuberante de Breena interrompeu o devaneio de Clara. Instantes depois, estavam rodeados por bandos de criaturas pequenas, de duas pernas, parecidas com dragões, que irromperam das árvores enquanto Dançarino do Céu passava por cima.

- Dragontários! - gritou Clara.

Breena riu.

- O que você esperaria no Bosque dos Dragontários?

Puxando de leve as rédeas da mão direita e do pé direito, Clara fez Dançarino do Céu dar um giro da vitória, por pura empolgação. O dragão flexionou as grandes asas em resposta e Clara riu enquanto a paisagem e as nuvens pareciam girar ao redor.

- Uaaaaau! - Breena segurou mais firme na jaqueta de voo de Clara. - Avise quando for fazer uma coisa dessa!

- Desculpe, não pude resistir! - Clara olhou para baixo. - Olhe, ali está o Drane!

Ela se desviou de lado para perder altura, de modo a poderem voar ao lado de um dragão de bagagem que seguia lentamente, logo acima da copa das árvores. O dragão piou de desprazer e lançou um olhar azedo para Dançarino do Céu, como se dissesse: "Esses jovens de hoje, saltando feito loucos pelo céu!" Seu ginete riu e acenou para Clara e Breena. Clara acenou de volta.

- Olhe, Drane! Ali está! O Bosque dos Dragontários!

O garoto, boquiaberto, montado no assento traseiro do dragão de carga, balançou a cabeça.

- Não estou vendo!

Breena se ergueu na sela e pôs a mão em concha em volta da boca.

- Abra os olhos, então, seu filhote sem cérebro!

- Só quando a gente descer! - gemeu Drane. - Odeio dragões... odeio altura... odeio montar... odeio a vida...

Clara riu da ladainha de reclamações e puxou as rédeas das mãos. Céu fez uma curva fechada e começou a planar.

Breena se inclinou adiante.

- Há um bom comparecimento - gritou no ouvido de Clara.

Estava certa. De repente o céu parecia cheio de dragões. Ainda que o Bosque dos Dragontários fosse o haras de treinamento de dragões mais ao sul dentre os cinco de Portomar, e o mais distante da capital insular de Pouso Sul, claramente não faltavam visitantes para sua exposição anual. Dragões e seus ginetes chegavam de todos os cantos da ilha para assistir e competir.

Clara sentiu a empolgação de Dançarino do Céu crescendo na presença de tantos dragões desconhecidos.

- Calma, garoto. - Ela olhou para baixo enquanto voavam por cima das construções do haras. - É muito diferente do Vale dos Dragões, não é? A sede e o estábulo são separados, e não juntos como lá em casa.

- E olha a torre de guarda deles. Tem que ser alta, para que enxerguem acima das árvores.

Breena apontou para uma plataforma elevada, sobre uma estrutura aberta, de madeira, mais parecendo um andaime do que uma torre, de onde os vigias do Bosque dos Dragontários podiam observar os dragões visitantes (bem-vindos), os fachos de emergência convocando a Guarda de Voo (menos bem-vindos) e predadores que vinham das charnecas e dos morros (nem um pouco bem-vindos).

Enquanto voavam em direção à torre, um jorro de bandeirolas de sinalização coloridas brotou no mastro do topo. Clara leu-as com cuidado; elas instruíam a aguardar permissão de pouso. Obedientemente, fez Dançarino do Céu balançar as asas em resposta, depois, uma curva à direita para se juntar à cerca de uma dúzia de dragões que giravam acima da floresta, esperando que a equipe de terra os chamasse.

- Espero que não mantenham a gente esperando muito tempo. Ah, olhe aquilo!

A voz de Breena assumiu um tom escandalizado quando uma recém-chegada, vinda do noroeste, recebeu sinal para descer imediatamente. Clara olhou a ginete imaculadamente vestida com roupa de montaria azul-pólvora e com as mãos apertando as rédeas com força.

- Hortense!

*

"Vale dos Dragões: Dominando a Tempestade"
Autor: Salamanda Drake
Editora: Galera Record
Páginas: 272
Quanto: R$ 29,90 (veja preço especial)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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