A
nova choradeira de Barrichello acabou sendo suplantada nesta
semana pelo teste de Antonio Pizzonia na Benetton.
Sim, o garoto parece ser bom, mas há tempos não se via tanta
expectativa em torno de um novato.
E, como não acontece há
anos, o combustível para isso não parece ser apenas a velha
ansiedade nacional por um bom piloto na principal categoria
do mundo.
A atenção dada pela mídia européia, notadamente a inglesa,
aos testes em Valência foi acima da média. Mas extrapola as
qualidades (que não são poucas) do piloto brasileiro.
E como jornalista inglês na F-1 não dá ponto sem nó, fica
fácil perceber que o excepcional tratamento dado a Pizzonia
tem uma razão de ser: Jenson Button.
Os ingleses descobriram, por acaso, uma nova estrela neste
início de temporada, um sujeito novo, simpático, enfim, uma
cara nova que pode render muitas páginas de jornais e revistas.
Melhor, anda bem, apesar da pouca experiência.
O futuro do rapaz, porém, depende de um outro inglês, excêntrico,
capaz das maiores barbaridades, sir Frank Williams. E o enredo
da novela se completa com a preferência declarada do nobre
dirigente da ascendente Williams pelo colombiano Juan Pablo
Montoya, a estrela deste fim-de-semana na América.
E onde entra Pizzonia na história? O amazonense é o sujeito
que irá confirmar que um piloto vindo da F-3 inglesa é capaz
de encarar um F-1 sem dificuldades.
É
o sujeito que irá confirmar que as categorias de formação
inglesas são capazes de formar bons pilotos, de que a F-3000
burocrática e pan-européia de Ecclestone é um degrau desnecessário
e que Button não é uma mosca branca no meio do grid, mas o
verdadeiro futuro da categoria.
Talvez não exista esporte mais europeu que a F-1. E quem olhar
de perto perceberá que aquele pequeno universo é reprodução
fiel do continente. E irá entender o porquê dessas diferenças.
Para encher ainda mais a bola de Pizzonia, a fúria inglesa
encontrou respaldo em outra figura incomum da F-1, Flavio
Briatore, que pode ser tudo, até um sujeito que nada entende
de carros, como muitos já afirmaram, mas não tem nada de burro.
Percebeu de cara o principal problema da Benetton, a apatia,
e foi seco: quem não se superar até determinada altura, está
fora.
Fisichella, outro italiano esperto, tratou de correr e já
pontuou em três corridas neste ano.
Wurz vacilou. E Briatore, o homem que não teve pudores de
demitir Moreno em plena temporada para contratar Schumacher,
sabe muito bem que para apertar piloto basta pôr outro ao
lado.
Sem falar que Pizzonia, como Button, se sobressai não apenas
na pista. Afinal, poucos são os que contam com apelido tão
chamativo (os ingleses adoram), "Jungle Boy". Perfeito para
um time que faz seus pilotos confraternizarem com aborígenes
na Austrália, passearem em mercado central em Kuala Lumpur
e desfilarem ao lado de modelos famosas.
Neste ou no próximo ano, Pizzonia parece ter lugar garantido
no futuro time da Renault.
E, enquanto isso, Barrichello reclama e leva pito.
NOTAS
Marmelada
Sem fazer muito barulho, a FIA enterrou nesta semana o processo
sobre o time que trapaceou o regulamento em 1999, tornado
público por Mosley em Imola. A alegação é falta de provas.
Como bom advogado, o presidente da FIA foi, no mínimo, leviano
ao levantar tal acusação. O que reforça a tese de que o episódio
só serviu mesmo para fazer barulho e justificar as mudanças
que a entidade deseja no regulamento.
Fumaça
A recente investida do Ministério da Saúde contra o cigarro
promete causar reflexos no automobilismo nacional.
Bridgestone
A empresa afirmou que deixará a F-1 no final do ano se os
pneus com sulcos acabarem, como reivindicam os pilotos. Não
quer começar do zero com a Michelin na pista.
E-mail: mariante@uol.com.br
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