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Perguntaram
o que ele fará assim que o campeonato acabar.
"Vou embora."
Mesmo que seu time levante o título?
"Sim."
E o que você vai fazer? "Nada."
Sei... um sujeito competitivo como você vai ficar longe das
quadras...
"Sim."
Sem fazer nada?
"Vou me preparar para a morte."
Um cidadão como Larry Bird nada tem a perder. A mãe
morreu com ele pré-adolescente. O pai, deprimido e alcóolatra,
se matou com um tiro enquanto conversava com o filho ao telefone.
Aprendeu a jogar só, no celeiro do sítio de que precisou
tomar conta. Foi tricampeão da NBA e eleito um dos cinco
melhores jogadores da história, com uma doença coronariana
delicada.
Agora como técnico, o homem que nunca ri está de volta
ao palco principal do basquete.
Em apenas três anos no comando do Indiana Pacers, o legendário
ala do Boston pavimentou seu retorno às finais da NBA.
Pegou um time que, em 1997, nem tinha se classificado aos playoffs
e reergueu-o na base da paciência, da simplicidade e da "adição
pela subtração.
Antecipou os jogos noturnos em Indianápolis, "para os
sonecas, como eu, conseguirem dormir. Aboliu as pranchetas
nas preleções, já que "ninguém
presta atenção à geometria. Deixou
de lado puxões de orelha, uma vez que "um profissional
não gosta de ser humilhado. Enxugou o staff para
apenas dois assistentes, quando pelo menos quatro escoltam a maioria
dos treinadores da NBA (no Dallas, eram dez...).
Por todos estes motivos, o Indiana chega às finais da temporada
99/00 como um "outsider" - ao contrário de seu
adversário pelo título a partir de quarta-feira, o
espetacular Los Angeles Lakers.
À exceção do matador Reggie Miller, os Pacers
nem de longe lembram o estereótipo agressivo do jogador da
NBA. À primeira (e segunda, e terceira...) vista, parecem
um bando de pipoqueiros.
O pivô, Rik Smits, é um branquelão molenga.
Seu suplente, Sam Perkins, prefere os tiros de três pontos
às cotoveladas sob a tabela. O armador, o tampinha Mark Jackson,
traz no currículo duas demissões porque marca mal.
O ala titular, Jalen Rose, ficou quatro anos no banco, tachado de
dispersivo na defesa. Seu reserva, o veterano Chris Mullin, é
(ou foi) um arremessador nato, e só. Ora, até o principal
"stopper" do Indiana, o ala Derrick McKey, é um
jogador de finesse...
Qual não foi a surpresa, então, quando Bird deu sinal
verde para a saída do ala-pivô Antonio Davis, que,
ao lado de Dale Davis (sem parentesco), se encarregava de todo o
trabalho sujo.
Hoje, decantados três campeonatos, está bem claro o
que o técnico imaginava. O Indiana hoje é um time
lento e pouco explosivo, mas muito inteligente, aplicado e técnico
- e capaz de fazer cestas de todos os cantos da quadra, raridade
na NBA do fim do século.
Para quem ainda não sacou, ou não teve a felicidade
de ver a "Lenda" com a bola laranja, os Pacers de 2000
são a encorporação coletiva do jogador Bird.
Na opinião do treinador, faltava à equipe apenas o
instinto assassino. "Precisamos de 12 transplantes de coração
no vestiário", diagnosticou em 1998. Larry Bird, 43,
sem frescuras, doou o seu.
NOTAS
Pássaro 1
Larry Bird volta às finais depois de 13 anos. Coincidentemente,
à sua espera, estará o LA Lakers, histórico
rival de seus tempos de jogador do Boston - que, aliás, retorna
à decisão após 12 anos.
Pássaro 2
Bird contraria a máxima de que supercraques não se
transformam em grandes técnicos (só seis foram campeões
como atleta e treinador). Ele venceu quase 69% de seus jogos no
Indiana, o que o põe entre os três mais eficientes
da história da NBA. A primeira posição, ocupa
Phil Jackson, dos Lakers...
Pássaro 3
Os Pacers torram as férias em ginásios, a pedido de
Bird. Os Lakers, por sua vez, seguem "reféns" de
Hollywood. O elenco angeleno já atuou em 17 filmes de cinema
e 50 shows de TV e gravou 4 CDs.
E-mail:
melk@uol.com.br
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