Pigmeus fogem de guerra no Congo e relatam casos de canibalismo
da Reuters, em Mangina (Congo)Nas montanhas das densas florestas do nordeste do Congo, Amzati Njogi viu rebeldes comerem sua mãe, seu irmão, sua irmã e seus dois filhos pequenos.
Quando os rebeldes chegaram, Njogi, um pigmeu da região de Ituri, estava fora, caçando.
"Vou lhes contar o que vi exatamente", disse, enrijecendo o corpo de 1,2 metro de altura. "Vi coisas más acontecendo. Ouvi pessoas gritando. Minha mãe, minha irmã. Decidi me aproximar para ver o que estava acontecendo. Tudo estava quieto."
Ao se aproximar da casa de sua família, Njogi viu homens armados. "Vi-os com facões cortando a garganta de alguém. E havia uma grande fogueira. Pedi a Deus que me salvasse."
Para ver melhor, o pigmeu aproximou-se ainda mais.
"Observei tudo por um tempo. Então vi que eles os estavam cozinhando no fogo e jogando sal", declarou. "Vi-os matá-los, dividi-los e comê-los. Corri por um dia inteiro até chegar à casa de meu tio."
Njogi é uma das muitas testemunhas de atrocidades que aconteceram na região de Ituri nos últimos meses. Muitos contam casos de estupros, de meninas de 12 ou 14 anos, e histórias de saques em grande escala.
Os rebeldes que atravessam o nordeste do Congo aterrorizaram a população civil, obrigando milhares de pessoas a abandonar suas casas e passar meses nas estradas.
As histórias sobre casos de canibalismo, dos quais seriam vítimas apenas os pigmeus e os membros da tribo banto Nande, habitantes da região, viajaram o mundo. É difícil confirmar essas histórias ou determinar em que escala o canibalismo acontece.
Autoridades enviadas para investigar os abusos de direitos humanos em Ituri disseram acreditar que o consumo de carne humana acontece em razão de motivos ritualísticos, e não por causa da falta de alimentos.
Mas os relatos são assustadores o suficiente para colocar em fuga centenas de pigmeus. Acredita-se que há 40 mil deles vivendo em Ituri.
A guerra no Congo, que envolveu seis Forças Armadas, vários grupos rebeldes e muitas milícias, começou em 1998 e já matou cerca de 2 milhões de pessoas.
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