Autor de livro sobre Paraisópolis diz que região é privilegiada

Confrontos entre a Polícia Militar e moradores de Paraisópolis (zona sul), em 2009, geraram a Operação Saturação, ocupação ostensiva da área por policiais. Ao ver a repercussão do caso, o ainda estudante de jornalismo Vagner de Alencar decidiu escrever sobre o bairro pelo ponto de vista dos moradores.

Já formado, o baiano de 26 anos acaba de lançar o livro "Cidade do Paraíso - Há Vida na Maior Favela de São Paulo" (Primavera Editorial, 176 págs., R$ 54), escrito em parceria com a jornalista Bruna Belazi.

Após 12 anos morando no local, ele agora vive no Campo Limpo e escreve periodicamente sobre a favela para o blog Mural.

sãopaulo - Qual a sua visão sobre Paraisópolis?
Vagner de Alencar - Embora morasse sempre perto de venda de drogas e percorresse todas as vielas, nunca vi um assassinato ou qualquer violência explícita. Os grandes meios de comunicação não veem o preponderante. Há violência como em outros bairros.

Como você viu o crescimento do bairro nos últimos anos?
Antes era um emaranhado de barracos de madeira e hoje existe um comércio superaquecido. Desde 2005 há um projeto de reurbanização para que Paraisópolis deixe de ser favela e vire bairro, com ruas asfaltadas. A valorização imobiliária também aumentou, e o metro quadrado tem se equiparado ao do Morumbi. Casas que valiam R$ 20 mil passaram a custar R$ 120 mil.

Com o aumento do aluguel, muitos moradores têm saído do bairro?
No meu círculo de conhecidos, não. Oitenta por cento dos moradores são de origem nordestina. Normalmente o migrante vive com parentes e, quando aluga um espaço, é perto dessa casa de origem. É uma região privilegiada, perto do hospital Albert Einstein, do Palácio dos Bandeirantes, do estádio do Morumbi. Vejo que os moradores estão perdendo o medo de falar que moram em Paraisópolis.

Do que mais o bairro necessita?
Hospitais. Embora haja postos de saúde, o hospital mais próximo é no Campo Limpo. Outra coisa que falta é aparato cultural. Tem a Etec (Escola Técnica Estadual), mas sobram vagas e muitas são ocupadas por gente de outros bairros.

E por que sobram vagas na Etec?
Talvez o jovem não se identifique com os cursos oferecidos. O bairro tem escolas de baixa qualidade e, se o aluno tem deficiência em matemática, ele não vai se sustentar num curso de contabilidade. Paraisópolis tem, em média, dez salões de beleza por rua e nenhum curso de empreendedorismo ou de estética.

Sente falta de Paraisópolis?
Todos os fins de semana vou pra lá. Paraisópolis é música: forró, funk, hip-hop.

Gabriel Cabral/Folhapress
"Paraisópolis é uma região privilegiada", diz Vagner de Alencar
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