Maior bloco do Carnaval de São Paulo 'aluga' bateria carioca

Há duas semanas, 70 músicos cariocas embarcaram na linha Arcos da Lapa-Rua Augusta a bordo de dois ônibus. Sua missão era garantir ritmo ao maior bloco de rua de São Paulo, que até hoje não tem bateria própria.

Criado em 2009 com inspiração no sucesso dos blocos do Rio, o Acadêmicos do Baixo Augusta arrastou público recorde de 40 mil pessoas no domingo anterior ao Carnaval (23).

Mas quem garantiu cuícas e tamborins foi a bateria do Quizomba, bloco que desfila na Lapa carioca há 13 anos.

"Existe um cachê, claro, mas não é visando lucro. É muito mais pela realização", diz André Schmidt, 47, diretor do Quizomba.

Baterias contratadas não são novidade no cordão paulistano. Em edições anteriores, os foliões do Baixo Augusta requebraram graças a blocos como a Orquestra Voadora, também carioca.

Alexandre Youssef, 39, presidente do Acadêmicos do Baixo Augusta, adianta que o bloco terá uma bateria para chamar de sua a partir do ano que vem.

"Vamos começar em abril um trabalho de produção a longo prazo para que toda a parte musical do bloco seja 100% nossa."

Ele diz que a contratação de baterias é comum.

"Não acho irônico. Cada Carnaval tem suas características. O Cacique de Ramos, tradicionalíssimo no Rio, saiu este ano com a bateria da União da Ilha."

Para o Quizomba, tocar no Baixo Augusta é "um encontro entre as cidades" e "bom para os dois lados".

O bloco só esperava mais exposição.

"Ficamos um pouco chateados porque não ficou muito claro durante o desfile que a bateria era do Quizomba. Mas tudo bem, é o Carnaval", diz Schmidt.

"É ERRADO COMPARAR"

"Os blocos do Rio já têm história e tradição. É errado comparar Carnavais. Os paulistas viram agora que é possível ocupar as ruas e o maior bloco da cidade tem essa característica de valorizar a cultura alternativa e a revitalização da região central. Isso são marcas bem paulistas", diz Youssef.

A direção do bloco da rua Augusta assegura que não pagou cachês para a atriz Alessandra Negrini, rainha de bateria, nem para outras presenças ilustres como as cantoras Tulipa Ruiz (madrinha) e Roberta Sá (convidada especial).

"Nós as homenageamos sem nenhum centavo. A Tulipa é moradora do Baixo Augusta, a Alessandra até pouco tempo morava ali", afirma o produtor.

Ele diz que a parceria com o Quizomba deve continuar nas oficinas musicais que o bloco oferece na quadra da escola de samba Pérola Negra, na Vila Madalena (zona oeste).

"A bateria foi organizada assim porque eles têm um esquema legal. Queremos agora transformar esse modus operandi para termos estrutura própria. Não vai ser difícil porque já temos um grande puxador [o cantor Wilson Simoninha]."

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