Diretora de viral sobre opressão diz que debocha do machismo

Com voz aborrecida, a policial lê o depoimento da vítima (um sujeito gordinho, na casa dos 40 anos): "Ela baixou minhas cuecas e beliscou meus testículos. Eu gritei. Então, ela tomou meu sexo na boca e mordeu..."

A cena dimensiona o ritmo perturbador de "Majorité Opprimée" (maioria oprimida), filme em que o protagonista é submetido a situações de opressão e violência enfrentadas por mulheres.

Dirigido por Eléonore Pourriat, 42, o curta francês 'viralizou' na rede desde que, em janeiro, ganhou versão com legendas em inglês. Em 30 dias, foi visto mais de 8 milhões de vezes —o original, produzido em 2010 e lançado há um ano, tem 600 mil visualizações.

Em entrevista à sãopaulo, a diretora fala sobre a concepção do filme, o novo feminismo e a força que a "ultradireita" está ganhando em seu país.

sãopaulo - Por que a inversão de papéis em 'Majorité Opprimée'?
Eléonore Pourriat - Estava de saco cheio do machismo, mas não queria um filme moralista. Fiz essa inversão para que o espectador masculino pudesse ter uma ideia do que uma mulher enfrenta a cada dia.

O cenário mudou hoje em relação a 2010, quando o filme foi produzido?
Em 2010, as mulheres não estavam tão ativas. Hoje, atitudes retrógradas estão de volta, e há uma urgente necessidade de que lutemos por nossos direitos. A ultradireita está crescendo na França. Há manifestações antigays, segregacionistas, racistas e antissemitas. A onda se levanta contra todas as minorias, inclusive as mulheres. Nossos direitos estão em perigo.

Você se considera feminista?
Sim, sou uma feminista, o que significa dizer que quero que homens e mulheres tenham direitos iguais. Claro que meu filme não é um mundo ideal. Não fantasio com homens sendo atacados.

No filme, uma mulher ameaça cortar as 'joias' do herói...
Tentei abordar o maior medo dos homens, o complexo de castração. Toda a lógica do filme é mostrar equivalências entre o que uma mulher experimenta e o que um homem poderia viver num mundo em que os papéis dos gêneros fossem diferentes. O clímax teria de ser tão assustador para os homens como o estupro é para as mulheres. Daí a ideia de colocar uma mulher mordendo sua genitália.

A que você atribui a grande repercussão on-line do curta?
A homofobia e a misoginia são universais, por isso o filme inspira tanta gente. É um raio de sol na escuridão porque debocha do absurdo que é o machismo.

Você já tem algo novo em mente?
Planejo produzir um mockumentary [falso documentário, em geral com tons de sátira] sobre depilação pubiana. Na França, rapazes forçam suas namoradas a se depilarem. É chocante.

ABAIXO, ASSISTA AO CURTA "MAJORITÉ OPPRIMÉE" COM LEGENDAS EM INGLÊS:

Vídeo

Publicidade
Publicidade