Teatro Mágico fala de novo CD, com menos violão e maquiagem

Como todo ato, O Teatro Mágico é diferente visto no camarim. Quando recebem a sãopaulo no estúdio em que gravaram "O Grão do Corpo", disco que lançam em meados de abril, os três integrantes principais da trupe estão de cara limpa.

E é assim que devem se manter no palco: "A gente quer diminuir a maquiagem", diz o vocalista e fundador Fernando Anitelli, 30.

Fernando é quem comanda o projeto de 11 anos, que já teve "mais de 30" pessoas em sua composição, mas, na verdade, é gerenciada por ele e pelo irmão, Gustavo.

Desde 2011, o músico Daniel Santiago, que tem formação erudita, foi chamado para produzir o som do Teatro e ganhou poder dentro da banda, que tem quase um milhão de seguidores nas redes sociais.

O novo trabalho d'O Teatro Mágico será apresentado em 27 de abril (domingo), às 18h, no Espaço das Américas, em São Paulo, primeira cidade a receber a turnê do grupo, que passará também pelo Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte.

O som de vocês está bem diferente nesse disco. Foi uma mudança pensada?
Daniel Santiago - A ideia era meio que enxugar, enxugar, enxugar. Tirar os exageros e chegar à essência. Levou dois anos para ser bolado e só sete dias para gravar.

E chegaram? Como?
Daniel Santiago - Para mim, sim. A instrumentação agora tem características mais urbanas. Timbres mais ácidos. Mais teclado. A guitarra tem outro lugar, que antigamente era mais do violão. O som das bandas em geral está ficando mais internacionalizado. Mas a gente manteve uma coisa brasileira.

O que mantiveram de brasileiro?
Daniel Santiago - Nesse disco, por exemplo, tem muita percussão de candomblé.

Vocês são independentes, prensam, distribuem e vendem os próprios discos. Pensaram em, com o sucesso, assinar com uma gravadora?
Gustavo Anitelli - As gravadoras não têm muito mais o que oferecer. Eu até fiz o meu mestrado sobre isso, sobre quem está ganhando dinheiro com música hoje em dia. Ganhamos muito dinheiro com direito autoral e propriedade intelectual da marca, vendendo mochila, pen drive.

De onde veio o nome do CD, "O Grão do Corpo"?
Fernando Anitelli - Faísca é o grão de um incêndio. Nós somos o grão da sociedade. A sociedade é o grão de uma nação. Por isso a simbologia do grão.

Há uma música que parece se referir às manifestações de junho. Vocês trocaram os grandes temas por coisas mais pragmáticas?
Fernando Anitelli - As letras falam de questões do cotidiano, pode ser interpretado assim. Mas o que parece falar de uma manifestação na rua pode ser também sobre um relacionamento. É um exercício para a gente compor dessa maneira. Não queríamos repetir o que já tínhamos feito. Seria um sentimento de "eu não estou evoluindo".

Qual é o público do Teatro Mágico hoje?

Gustavo Anitelli - A maioria do nosso público, por pesquisa de Facebook, envelheceu. O público de 13 a 18 anos é de 6%. Muito pequeno. Daí de 18 a 24 são 30%, e 25 a 35 são quase 50%. Foi um momento importante envelhecer, porque a gente envelheceu também. É uma relação dual. Se eles não gostam, vêm e dizem que não gostaram. Se curtem, dizem que é do caralho. Fizemos uma pesquisa das comunidades de Facebook mais ligadas com o nosso perfil. Das 50 primeiras, não tem nenhuma internacional. A enorme maioria tá no campo MPB pop: o primeiro é Lenine, depois tem Djavan, Maria Gadú... A gente não vem da elite MPBsística.

Fernando Anitelli - Tem de tudo. Vai do oito ao 88. Tem criança que gosta de se pintar. Outro dia vi uma criança de uns quatro anos gritando "A poesia prevalece!". Eu fui saber o que era prevalecer com 14 anos. Tem de tudo, família comparece, casal homossexual, o cara que curte reggae, o outro com cara de mau. É bacana ver o amadurecimento nos comentários. As pessoas sabem analisar, dizem: que incrível, o primeiro álbum queria dizer isso, o segundo aquilo. Elas pensam em cima do trabalho. Outro dia vi um

Algum fã mais antigo foi contra as mudanças?
Fernando Anitelli - Já ouvi 'Vocês perderam a inocência!'. Pô, graças a Deus! É saudável, faz a possibilidade de dialogar com esse público.

Já espera críticas pelas mudanças, tanto de som quanto de temas?
Fernando Anitelli - Lançar uma coisa nova tem sempre a galera dizendo "Cadê o mais do mesmo?" A nossa essência é nossa constante mutação. Isso não muda. Estilo de música, pode cada álbum ter um. Fazer o novo de novo, abrir mão e tentar se refazer, a gente continua sem medo.

E o circo, entra onde?
Fernando Anitelli - Quando a gente fala circo pensa em nariz vermelho, sapato comprido e alguém fazendo o Bozo. A gente não usa mais a palavra circo, usa performance. Tem dança, tem mágica, tem muita coisa.

O Marcelo Sommer, estilista renomado, está cuidando do visual de vocês. De onde veio a parceria?
Fernando Anitelli - A cada álbum mudávamos figurino, cenário e maquiagem. O Marcelo Sommer surgiu e tem um trabalho fabuloso, que já envolveu o universo circense. Misturou o clássico com o streetwear. Tem a coisa do pós-punk, das roupas rasgadas. Uma bermuda que parece uma saia, uma jaqueta bem cortada. Eu adorei o que a gente fez até agora.

Vão continuar pintando a cara?
Fernando Anitelli - A maquiagem foi uma experimentação. A gente quer diminuir a maquiagem. O próprio figurino não é o clássico. É o clássico meio fodido, a camisa que pegou fogo.

Quando mostram ao público as novas canções?
Temos cinco seis apresentações antes do lançamento. Vamos testando música nova, os trechos de performance e as músicas, Uma delas é em Ribeirão Preto [no interior de SP], que também foi uma das primeiras a ouvir o último disco. É um lugar bom para lançar. Acho que não faríamos em cidades maiores, como São Paulo ou Porto Alegre.

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