'Documentário de 1929 é o que melhor retrata SP', diz criador do É Tudo Verdade

Quando o "Globo Repórter" chegou à TV, em 1973, Amir Labaki tinha 10 anos. Naquele momento ele notou a existência de um "tipo diferente de cinema". Assistindo ao programa, conheceu Eduardo Coutinho, Gregório Bacic e outros cineastas que realizavam obras não ficcionais para a atração.

Décadas depois, entrou para a faculdade de cinema, tornou-se crítico e criou o É Tudo Verdade, o mais importante festival internacional de documentários do país.

Hoje, com 51 anos, ele realiza a 19ª edição do evento, que ocorre em três espaços da cidade —CCBB, Cine Livraria Cultura e Reserva Cultural. O festival vai até 13/4, reúne 77 filmes e é de graça.

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Rodrigo Dionisio/Frame/Folhapress
Amir Labaki, crítico de cinema, diretor e fundador do É Tudo Verdade, em seu escritório na Vila Madalena
Amir Labaki, diretor e fundador do Festival É Tudo Verdade, em seu escritório na Vila Madalena

sãopaulo - Qual é a importância do cinema documental?
Amir Labaki - É um modo de expressão que dá extrema liberdade ao seu autor. Por outro lado, o documentário me parece uma forma de abordagem pessoal sobre o que está acontecendo no mundo muito enriquecedora para quem assiste. Fora que ele também é um registro da nossa imagem que vai ser vista no futuro.

Quando surgiu seu interesse pelo documentário?
Desde menino, quando o "Globo Repórter" estreou, notei que existia um tipo diferente de cinema. Naquele período o programa era feito com obras independentes de cineastas como Eduardo Coutinho e Gregório Bacic, que produziam documentários para essa faixa semanal. Era incrível.

O documentário paulistano tem uma identidade própria?
Não. É difícil pensar em uma cara para o documentário realizado aqui, assim como imaginar uma face para a música ou para o teatro. São Paulo é uma cidade dinâmica e múltipla. E isso é espelhado em sua produção, que também é diversa, tanto nos temas quanto nos estilos.

Há alguma obra do gênero que melhor represente a cidade?
O "São Paulo, Sinfonia da Metrópole" (1929), de Adalberto Kemeny e Rudolf Rex Lustig, é o último grande documentário mudo feito aqui. Ele tem 85 anos e mesmo quase um século depois você ainda reconhece São Paulo.

Como ex-membro do Festival de Amsterdã, dá para comparar o evento holandês ao seu?
O IDFA [Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, na sigla em inglês] é o maior evento cinematográfico da Holanda e exibe quatro vezes mais filmes que o É Tudo Verdade. Em comum, ambos exibem novidades e lembram a história do gênero.

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