Confira três casas na árvore de pequenos Tarzans paulistanos

Se não fosse pelo escorregador ou pela escada lateral que leva ao topo da árvore, seria difícil notar que a construção camuflada é uma casinha.

Rústica ou de design arrojado, a casa na árvore conquista espaço no quintal de paulistanos. "Ela promove um resgate do mundo virtual, do videogame e do tablet", diz Ricardo Brunelli, fundador da Casa na Árvore. Nos últimos dois anos, a empresa paranaense, que existe há 13 anos, viu seu público se transformar. Hoje, quase 80% dos projetos são para crianças.

A fascinação pelo tema é tanta que até a criadora da saga Harry Potter, a britânica J. K. Rowling, encomendou à empresa Blue Forest uma réplica dos chalés de Hogwarts (do livro) para seus filhos em sua casa na Escócia.

Os proprietários podem não ser os adultos, mas, na maioria dos casos, o desejo de ter uma casinha parte deles. A professora aposentada Maria Angela Delamain Tilkian, 62, adquiriu a sua primeira há sete anos, após o nascimento do neto Gabriel. A residência da avó, em Campinas (SP), tornou-se o ponto de encontro da criançada.

O engenheiro de alimentos Stanly Gutierrez, 49, usou a ideia para ensinar à filha lições de sustentabilidade: "Reutilizei materiais na construção, que é ecológica." A seguir, conheça três casinhas da cidade e seus donos.

CABANA NA SERRA

No começo, eram apenas tábuas de pínus cortadas e alguns pedaços de corda. Até que, no ano passado, toda aquela madeira ganhou forma.

O marceneiro Edvan Garrido, da Di Casinhas, transformou o material numa cabana de 3 m² para Lucca, 5. Na empresa, uma casa desse modelo custa a partir de R$ 3.200.

Aventureiro e com o espírito de explorador, o menino passa as tardes em contato com a natureza no quintal de sua casa, na Serra da Cantareira, zona norte. A mãe, a publicitária Helida Lima, 38, explica que a casa na árvore fez parte de sua infância, vivida em São José do Rio Preto (SP), e por isso quis dar ao filho o mesmo presente.

Lucca conta que, na inauguração, todos os convidados de sua festa —e isso inclui a avó— foram obrigados a descer pelo escorregador, como uma espécie de "batismo" do novo lar.

Para visitar o local, o pequeno morador prepara sua mochila com os utensílios necessários para a expedição: toalha para o piquenique, binóculos, lanterna e guloseimas. Ao chegar ao refúgio, aconselha os adultos: "Vocês sobem por ali", apontando a escada. "Eu vou por aqui, que é mais difícil", diz, enquanto escala a rampa.

Na companhia do primo Vitor, 2, a brincadeira acontece a 1,5 m do chão. A casa tem alguns móveis, mas o lanche é improvisado sobre a toalha. A mãe aparece com bolo, frutas e suco. "Já estava na hora", dispara o garoto.

CLUBE DA LULUZINHA

Após enfrentar uma infestação de abelhas e o vaivém de uma reforma no quintal, a antiga casinha térrea de madeira de Stella, 12, não resistiu à destruição. Sua mãe, Maria Eduarda Pessoa de Queiroz Baumer, 37, decidiu procurar outra habitação para a filha quando, num shopping, se deparou com uma criação da Casa na Árvore.

Os modelos da empresa, que podem ser equipados com mirante e sótão, custam a partir de R$ 30 mil.

Com a intenção de também agradar aos filhos de 2 e 4 anos, a empresária encomendou um modelo para sua casa, no Cidade Jardim, zona sul. O que ela não esperava é que a filha mais velha se tornasse a dona oficial do lugar.

Ela já convidou as amigas para usufruírem das acomodações de seu novo esconderijo. "A gente levou alguns colchões e lanternas, compramos comida no supermercado e assistimos a filmes e séries pelo computador."

Para garantir o assunto, outro item na bagagem são os livros. "Estou lendo este para a escola", diz, segurando "Capitães de Areia", de Jorge Amado.

A casa de 6 m², com sótão, é suspensa a dois metros do solo por pilares de eucalipto. O resto da estrutura foi confeccionado com madeira de tauari, que recebeu tratamento para resistir a intempéries. O acesso ao andar superior é dado pela escada ou pelas paredes de escalagem. Para descer, escorregador ou cano de bombeiro.

CASINHA "ECO-FRIENDLY"

Quando o pai, Stanly, desenhou a casa para a filha, Nathalia, 13, nenhum luxo como banheiro, ar-condicionado ou acesso à internet entrou no projeto. Com exceção do escorregador e de outros pequenos acabamentos, a moradia de 6 m² foi construída com os materiais que sobraram da reforma da casa da família, há quatro anos.

A casinha é rodeada por árvores nativas da Lapa, zona oeste, que estão no local desde 1940. Tudo parece combinar com a proposta ecológica, até o dia a dia da moradora, que mostra como faz a compostagem de alimentos e a captação de água da chuva.

"Sempre quis uma casa na árvore. Ajudei na construção, na pintura", diz Nathalia, responsável também pela decoração com mandalas e quadros.

O pai explica que a estrutura é erguida com toras de madeira, reutilizadas de antigos postes da Eletropaulo. Além disso, foram acrescentados cano de bombeiro, cesta, escorregador, ponte e parede de escalagem para a dona e seus seis primos se divertirem.

A herdeira será Maria Gabriela, de apenas cinco meses. A irmã mais velha conta como pretende incluir o bebê nas brincadeiras. "É como se estivéssemos na floresta, essa é a nossa toca do Tarzan", brinca.

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