Britânico toca releitura de Vivaldi com orquestra alemã na Sala São Paulo

O britânico Daniel Hope, que se apresenta na terça (6) e na quarta (7) na Sala São Paulo, gosta de experimentar.

"A vida é muito curta, e há muita música para tocar", diz o violinista, cujo álbum "Spheres" (2013) é inspirado em uma teoria de Pitágoras introduzida a ele pelo astrônomo Carl Sagan.

Com repertórios diferentes para cada data, a surpresa fica para a segunda noite, quando será executada a releitura de "As Quatro Estações", de Vivaldi, idealizada pelo compositor Max Richter.

"Ele [Ricther] disse que queria reinterpretá-la. Explicou que era bombardeado com aquela música em todo lugar, e que, de tanto ouvi-la, seu cérebro simplesmente a ignorava. Achei um conceito interessante", lembra. "Era algo que eu não queria perder."

Os ingressos, que custam de R$ 80 a R$ 250, já podem ser comprados no site www.ingressorapido.com.br

Leia abaixo uma entrevista com Hope.

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Harald Hoffmann
O violinista britânico Daniel Hope faz duas apresentações na Sala São Paulo ao lado da orquestra Arte del Mondo. No repertório de um dos concertos está uma releitura de "As Quatro Estações", de Vivaldi, idealizada pelo compositor Max Ritcher
O britânico Daniel Hope faz duas apresentações na Sala São Paulo ao lado da orquestra Arte del Mondo.

sãopaulo - Quando e como você se iniciou na música?
Daniel Hope - Quando eu tinha quatro anos de idade. Cresci, por acaso, na casa do Yehudi Menuhin [celebrado violinista do século 20], cercado por músicos maravilhosos que iam dele a Rostropovich, de Ravi Shankar a Stéphane Grapelli. Até que um dia disse aos meus pais que eu precisava tocar violino. Foi assim.

Qual foi a sua relação com o Yehudi Menuhin?
Meus pais fugiram da África do Sul. Meu pai era um escritor e ativista contra o apartheid. Foram a Londres, mas eventualmente acabou o dinheiro. Então minha mãe foi procurar emprego, e aconteceu de ela conseguir um trabalho de secretária do Yehudi Menuhin. Era para ter durado seis meses, mas acabou se estendendo por 26 anos. O Menuhin se tornou uma grande influência sobre toda a minha família, e brincava que era o meu "avô musical". E é assim que gosto de recordá-lo.

Qual você considera ser o seu aspecto mais característico no que diz respeito à sua carreira musical e ao jeito de levá-la?
Eu me sinto muito sortudo por poder ser um músico. Por interpretar os maiores trabalhos musicais de antigos e novos compositores. Meus valores continuam os mesmos desde que eu iniciei no meio profissional, há 25 anos: trabalhar bastante duro, nunca esquecer que a mensagem que você está transmitindo é a do compositor –e não a sua–, e abrir seus ouvidos o máximo possível, para todo tipo de música.

O resto é planejamento e preparação. A música define meu dia do momento em que eu acordo à hora em que fecho meus olhos. O violino me dá a chance de compartilhar pensamentos e emoções dos maiores compositores que já viveram. Minhas escolhas sempre são baseadas na minha crença de que há ótima música por aí que deve ser comunicada de algum jeito.

Falando de "Spheres", o seu álbum mais recente, baseado em uma teoria de Pitágoras. Qual é exatamente essa influência?
Quando eu era criança, a única coisa que me cativava tanto quanto a música era o céu noturno. Aos oito anos, comprei meu primeiro telescópio. A partir daí comecei a passar horas contemplando a lua e as estrelas. Quando cheguei à adolescência, o Yehudi Menuhin, que na altura trabalhava no projeto "The Music of Man", me apresentou ao astrônomo Carl Sagan. Foi o Sagan que abriu meus olhos para a magnitude do universo, e para a noção de Pitágoras de "música das esferas". Nesse álbum, minha ideia foi a de reunir música e tempo, incluindo trabalhos de compositores de diferentes séculos, que podem geralmente não ser encontrados na mesma 'galáxia', mas ainda assim são unidos pela antiquíssima questão: existe algo lá fora?

Por que fazer uma releitura de "As Quatro Estações", de Vivaldi?
O Max Ricther [compositor da versão] me procurou há dois anos e me disse que queria recompor "As Quatro Estações". Minha primeira pergunta foi: o que há de errado com a original? Ao que ele me explicou que se sentia bombardeado com aquela música a todo lugar que ia. Que aquela peça já havia sido tocada tantas vezes que o cérebro dele simplesmente a ignorava, por isso tinha decidido recompô-la. Eu achei um conceito interessante. Era algo que eu não queria perder.

Há alguma outra coisa que queira dizer?
Eu já toquei seis vezes na Sala São Paulo. É uma das minhas salas favoritas em todo o mundo. A audiência brasileira é incrível –tão entusiasmada, tão apaixonada. Mal posso esperar para voltar lá.

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