Fanzines voltam a rodar e retratam comércio, pessoas e atitudes de SP

Os fanzines, livretos caseiros de baixa tiragem que foram febre nos anos 1990, estão de volta.

Sem o estilo sujão e as folhas xerocadas de seus antecessores, eles vêm seduzindo artistas independentes que desejam botar suas ideias no papel —que está mais nobre, colorido e com diferentes formatos.

A mania é tanta que os livretos já foram apontados como "o novo grafite". A frase, publicada em uma rede social, pode até ser exagerada, mas resume a escalada de eventos que reúnem essas publicações e que têm se espalhado pela cidade.

Só no último final de semana, uma loja de discos e dois centros culturais da capital realizaram encontros para quem faz e para quem aprecia esses livrinhos.

Entre uma profusão de títulos, é possível identificar alguns que retratam lugares escondidos da cidade ou que apresentam percepções sobre as idiossincrasias paulistanas.

Foi o que fez o casal Adriana Terra, 29, e MZK, 45. Das diversas publicações que criaram juntos, uma retrata pontos que passariam despercebidos no centro da cidade.

Em "Pequenos Picos", que teve cem exemplares impressos, um alfaiate que faz o que bem entende com suas encomendas e uma loja de vestidos de noiva que se parecem com roupas de cigana aparecem em relatos curtos e ilustrados. "Queríamos destacar uma placa bonita, uma peculiaridade da fachada. E também o fator humano: um lugar cujo atendimento é peculiar", diz Adriana.

Na Liberdade, também na região central, uma série de restaurantes japoneses foi catalogada por um outro casal. Amantes da culinária e da cultura oriental, o jornalista Flávio Seixlack, 29, e a produtora Clara Canepa, 27, decidiram selecionar os registros fotográficos mais legais de seus restaurantes preferidos para o zine "Irasshaimase" (ou "seja bem-vindo", na saudação em japonês).

"A ideia não era fazer um guia com os melhores lugares —até porque não temos essa capacidade, conhecimento ou sequer pretensão—, mas eleger aqueles que nos marcaram ou que sempre valem a visita", diz Flávio.

As 40 primeiras cópias foram todas vendidas, a R$ 15 cada uma, durante a Feira Plana, evento de publicações independentes realizado em março, no MIS, pelo segundo ano consecutivo. A nova leva pode ser adquirida on-line.

MODOS E MODAS

As observações do ilustrador mineiro Rodrigo Terra, 29, sobre o comportamento de alguns amigos e colegas foram transformadas em quadrinhos na publicação "Tempos Modernos". Estão ali a mania de comida gourmet e os nomes das crianças modernas que serão tão modernas quanto os pais. "Comecei a série meio que para tirar sarro de pessoas que querem muito ser diferentes, mas no fim das contas são bem parecidas entre si", explica.

Outro autor, o analista de internet Denis Fujito, 29, foi atrás de passageiros estilosos dentro dos ônibus e do metrô de São Paulo. Assim, idosos classudos e jovens diferentões fotografados enquanto utilizavam o transporte público acabaram impressos nas páginas de seu "Bustyle".

"O estilo do paulistano é muito igual e me chamava a atenção o que destoava", conta. Dos 40 exemplares, ele diz que vendeu "pouco". "Mas isso não faz diferença. Faço porque acho legal."

ONDE ENCONTRAR

bazarzumbi.com
kaputlivros.com
facebook.com/pingadopres

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