'A Copa não faz diferença para nós', diz representante de artistas de rua de SP

Muitos Michael Jacksons, Elvis e outras figuras já fizeram sucesso e sumiram ao longo dos 25 anos em que Emerson Pinzindin toca flauta transversal na avenida Paulista.

Só em frente ao Conjunto Nacional ele está há 19 anos. Depois de tanto tempo vivendo de caixinha, o artista resolveu se unir a colegas para organizar a categoria. Há seis meses, tiraram do papel a Associação dos Artistas de Rua do Estado de São Paulo e, no mês passado, conseguiram derrubar a necessidade de cadastro para se apresentarem na cidade. No dia 23/5, o prefeito Fernando Haddad assinou um decreto revogando a regra.

"Queriam saber quem, quando, onde, mas não ia funcionar. Tem gente que está ali um dia e no outro não está. Isso acabaria com nossa liberdade", advoga Pinzindin.

Lucas Saad/Folhapress
Emerson Pinzindin, presidente da Associação dos Artistas de Rua de São Paulo
Emerson Pinzindin, presidente da Associação dos Artistas de Rua de São Paulo

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sãopaulo - São Paulo é uma cidade amigável para o artista de rua?
Emerson Pinzindin - Sim, é uma cidade receptiva, mas o espaço público em si tem problemas: a Paulista, por exemplo, não tem lugar para sentar, não tem árvore, não foi pensada para tanta gente que a utiliza para o lazer. Mas o paulistano em geral gosta e incentiva, coloca dinheiro na caixinha, compra o CD. Tem gente que até quer contratar o artista para se apresentar na sua casa.

Como é a relação dos artistas com o poder público?
Já foi pior. Há alguns anos a prefeitura queria acabar com os camelôs e acabaram proibindo também manifestações artísticas. Hoje, muitos guardas e policiais ainda não conhecem a nova lei, então a gente aconselha os artistas a terem sempre o decreto [que libera as apresentações na rua] em mãos.

Porque tantos artistas escolhem se apresentar na Paulista?
Circula um pessoal por aqui que compreende melhor nosso trabalho e o retorno financeiro é bom. Aqui, um determinado tipo de arte consegue subsistir. Eu toco flauta transversal, outro toca saxofone, outro, clarineta.

Em lugares concorridos, às vezes há disputa de artistas pelo ponto. Como lidar com isso?
É certo que ninguém é dono da rua, mas tem uma certa ética. Afinal, se a pessoa está ali há algum tempo, precisa respeitar. Sempre dá para conversar e chegar a um consenso. Se eu costumo tocar aqui, a pessoa pode tocar a alguns metros de distância. Tem gente que está tocando e chega um outro com o amplificador no último volume.

E na Copa, dá para faturar mais?
Existia um certo receio de que fossem dificultar nosso trabalho. Mas existe um compromisso da prefeitura de não impedir nosso trabalho durante a Copa. Agora, quanto ao público, não faz diferença. O gringo vem para o Brasil com uma imagem distorcida e preconceituosa. Eles não consomem meu produto, eles não conversam comigo, eu não existo pra eles.

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