Candidato comunista diz ter levado tiro de bala borracha sem motivo

O concorrente do PCB ao governo paulista, Wagner Farias, 34, é sincero: não queria disputar o cargo. "Se pudesse não ter sido candidato, seria melhor. Mas fui escolhido para a tarefa em um processo interno."

Ex-funcionário de um posto de saúde em Guarulhos, na Grande São Paulo, o comunista verá o nome dele nas urnas pela primeira vez.

A estreia seria em 2010, quando Farias pretendia chegar ao palácios dos Bandeirantes como vice-governador. Mas ele perdeu o prazo para se filiar ao PCB e o pedido de registro da candidatura foi negado pela Justiça.

Na última pesquisa Datafolha, ele aparecia com 1% das intenções de voto.

sãopaulo - Com qual bairro da capital ou cidade paulista o sr. se identifica?
Wagner Farias - Eu me identifico muito com a capital. Moro aqui há 22 anos. Em relação ao bairro, tenho identidade com a Vila Matilde, apesar de morar no Cangaíba e ter a Penha como referência.

O que mais o agrada no Estado?
Há uma diversidade cultural e de possibilidades. É muito diferente de qualquer outro Estado. Sem falar que os setores mais importantes da classe trabalhadora estão aqui.

E o que mais o irrita?
A tendência conservadora do senso comum paulista chega a ser um pouco irritante. Por exemplo, o fato de o PSDB estar há mais de 20 anos [no governo]. Mas também é explicável. Se aqui está o núcleo da classe trabalhadora, também está o da burguesia.

Por que quer ser governador?
Na verdade, não fazia parte dos meus planos disputar esse cargo. No entanto, acho necessário ter um projeto alternativo para o governo.

Os protestos de junho de 2013 mudaram a sua forma de ver a política?
Não, porque apostamos nisso. Entendemos que uma mudança radical na sociedade passa pela ação direta da população, da classe trabalhadora, dos setores marginalizados. A estrutura de governo não dá conta de responder a isso. Apontamos como solução um sistema político baseado no poder popular.

É a favor do uso de bala de borracha contra manifestante?
De forma alguma. Estive em praticamente toda manifestação desde junho. Levei tiro de bala de borracha sem motivo. Manifestação não se lida com coerção, lida-se com a organização de demandas para a satisfação de necessidades.

A polícia deve reprimir os black blocs ou deixá-los protestar do jeito deles?
Temos críticas à tática. Primeiro, por achar que o Estado é só a PM, que é um aparelho de repressão, mas não representa o Estado, o inimigo. Não acreditamos que para ter transformações radicais a ação individual será o elemento propulsor.

Como pretende combater o PCC?
O combate tem de deixar de ter como foco o usuário e o [traficante] varejista. O usuário é caso de saúde pública, tem de ter políticas para o atendimento dele. O varejista descumpre a lei, porém tem de ser tratado com outros elementos que envolvem questões sociais.

Como se prepara para enfrentar uma eventual escassez de água?
A primeira coisa seria reestatizar a Sabesp, que tem boa parte de suas ações privatizadas. É um serviço essencial com um grupo privado como gestor. Não temos dúvida: o interesse principal dele não é o atendimento a população.

O sr. acha a qualidade da água boa? Bebe água da torneira?
Não só eu como todo o militante desta sede [do PCB] acaba bebendo. Tem o garrafão aqui. Mas, se tem água mineral, toma. Se não tem, toma da torneira. E é óbvio que a qualidade da água tem piorado. Usar água do volume morto é complicado para a saúde pública.

A tarifa do transporte pode ser zero?
Defendemos isso como plano de governo, o que passa por tirar os interesses privados do transporte, que passa pela reversão das privatizações. E temos convicção de onde tirar recursos: da dívida pública do Estado com a União. Isso seria resolvido com uma auditoria e a suspensão do pagamento da dívida.

O metrô é a única salvação para o trânsito em São Paulo? Quantos quilômetros pretende construir?
Não acredito que seja só o metrô, mas é necessário continuar investindo nele. Quantos quilômetros faremos? Não tenho como responder de imediato, pois precisaríamos repensar a estrutura de transporte público no Estado.

Qual o seu principal projeto para a rede pública de saúde?
Tem de agir na saúde primária, secundária e terciária. Tem de investir maciçamente nas unidades básicas de saúde, nas policlínicas e nos centros de tratamentos e hospitais. Precisaria melhorar a condição dos trabalhadores da área da saúde e acabar com essas parcerias com as organizações sociais.

Utiliza algum serviço público?
Claro. Não tenho convênio médico, não tenho automóvel. Utilizo metrô, ônibus, trens, posto de saúde e estudei a minha vida inteira em escola pública.

Quem foi o melhor governador de São Paulo?
Muita gente fala do André Franco Montoro [1983-1987]. Mas não vivi esse período, então não posso dizer que conheci o melhor governador de São Paulo.

E o pior?
Aí é uma lista grande. O Paulo Maluf [1979-1982] está nela, mas eu não tiraria os governos do PSDB da disputa. Há empate técnico.

Em que político o sr. se inspira?
Admiro o Gregório Bezerra, militante comunista preso no Estado Novo e em 1964. Ele foi arrastado por militares pelas ruas de Recife como exemplo para quem resistisse à ditadura.

Se eleito, qual será a marca do seu governo?
O poder popular.

O que não faltará no seu gabinete?
Militantes. Seria um gabinete aberto.

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