'Democracia virou lambança e roubalheira', diz candidato do PV

O vereador Gilberto Natalini, 62, estava quieto no canto dele na Câmara. Estava até o dia em que dirigentes do PV (Partido Verde) o chamaram para anunciar que ele seria o candidato da legenda ao governo. "Tomei um susto grande. Sei que a disputa eleitoral é uma coisa desumana."

Pediu um tempo para pensar, conversou com a família e amigos. No fim, aceitou a tarefa. E, pela primeira vez, o carioca concorrerá ao palácio dos Bandeirantes.

"Por que aceitei? Achei uma oportunidade boa de colocar para a sociedade a proposta de um governo sustentável", diz ele. "A sustentabilidade é um cantinho de qualquer governo."

Na pesquisa Datafolha mais recente, divulgada no último dia 15, ele registrava 1% das intenções de voto.

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sãopaulo - Com qual bairro ou cidade paulista o sr. se identifica?
Gilberto Natalini - Gosto muito da capital, mas há cidades do interior muito simpáticas, como Pirassununga. Sou muito fã do Estado.

O que mais o agrada no Estado?
É uma terra onde preguiça tem pouco espaço. Só não vai quem não quer. Sou filho de um peão de boiadeiro e me formei na Escola Paulista de Medicina, me elegi vereador e sou candidato ao governo.

E o que mais o irrita?
Me irrita o Estado com a melhor rede de saúde do Brasil ter uma fila para operar uma vesícula de 1 a 2 anos. E me irrita verificar que em periferias o crime organizado manda mais do que deveria.

Por que quer ser governador?
O PV achou por bem me chamar um dia e falar que lançaria um candidato ao governo e recaiu sobre mim a condição. Por que aceitei? Achei uma boa oportunidade de colocar para a sociedade a proposta de um governo sustentável.

Os protestos de junho de 2013 mudaram a sua forma de ver a política?
Não, porque sempre pensei dessa maneira. Na ditadura, arrisquei a vida em protestos, pichando muro com "abaixo a ditadura". Dei o melhor da minha juventude para conquistar a democracia e a transformam nessa lambança que está aí, nessa roubalheira. Então, os protestos lavaram a minha alma.

É a favor do uso de bala de borracha contra manifestantes?
Uma coisa é o povo na rua por um ideal. Outra são os provocadores. Quando entram os mascarados, o radicalismo, o quebra-quebra, acho que a polícia não tem de jogar bomba, tem de prender. Para que bala de borracha?

A polícia deve reprimir os "black blocs" ou deixá-los protestar do jeito deles?
Quebrar não é uma forma de protesto coisa nenhuma. Na ditadura não tínhamos liberdade para protestar e até se justificavam ações radicais. Hoje, há liberdade para fazer o protesto que quiser.

Como pretende combater o PCC?
Com as armas institucionais que a democracia possui. O crime organizado enraizou-se de tal maneira que tem a petulância de influir no Legislativo, no Executivo, no Judiciário. Tem olhos, braços e ouvidos nesses locais. É um problema da sociedade. Um governo que queira diminuir a influência desse tipo de organização tem de chamar a sociedade como um todo e dizer o que queremos.

Como se prepara para enfrentar uma eventual crise de escassez de água?
Tem de aproveitar o máximo da água. Isso significa a água estar limpa, não deixar assorearem as nascentes e protegê-las, recuperar rios, fazer mais reservatórios e não deixar a água tratada escoar pelos canos. Tem de puxar uma campanha educativa, incentivar o reúso e o aproveitamento da água da chuva.

O sr. acha a qualidade da água boa? Bebe água da torneira?
Tenho um filtro de barro, que é o melhor que tem. Ponho água da Sabesp e bebo dali. Vá à minha casa que você toma. Acho que a qualidade da água é boa.

A tarifa do transporte pode ser zero?
Olha, acho difícil. A não ser que a gente consiga uma forma de pagar. Não tenho conhecimento suficiente para dizer que fecho com a tarifa zero. Não sou contra, mas não posso dizer que a abraço.

O metrô é a única salvação para o trânsito em São Paulo? Quantos quilômetros pretende construir?
Se não houver uma conversa entre Estado, União e município para fazer avançar o transporte sobre trilhos, será muito difícil. O Estado sozinho tem dificuldade, é caro. E não fizemos os cálculos de quantos quilômetros poderiam ser feitos. O certo é que será prioridade do PV.

Qual o seu principal projeto para a rede pública de saúde?
Neste ano, foram destinados 12,4% do Tesouro para a Saúde. Queremos aumentar para 15%. E precisa fazer as redes estadual e municipais se conversarem. O doente é um só. Aí vem o ponto crucial: juntar o governador e os prefeitos e ir para cima do governo federal, que é o grande vilão.

Utiliza algum serviço público?
Não tenho convênio. Toda vez que fico doente sou atendido no SUS. Se defendo o sistema, como vou correr dele?

Quem foi o melhor governador de São Paulo?
O André Franco Montoro [1983-1987] foi extraordinário, de uma integridade enorme. Fez um governo supercriticado e, depois, acabou reconhecido.

E o pior?
Entre o Maluf [1979-1982] e o Fleury [1991-1994] não sei quem foi o pior. O Maluf foi altamente problemático. Do ponto de vista moral, foi um descalabro. O Fleury também foi uma coisa maluca.

Em que político o sr. se inspira?
Tenho um respeito profundo pelo Nelson Mandela. No Brasil, o Montoro, que teve uma postura firme na ditadura, fez um governo competente e não era ladrão.

Se eleito, qual será a marca do seu governo?
Uma mistura de conduta ética com inovação para a sustentabilidade. Toda ação do governo terá como pano de fundo a proteção ambiental.

O que não faltará no seu gabinete?
Firmeza nas decisões, trabalho em todos os gabinetes —o pessoal vai ter de rebolar— e espírito democrático.

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