Elogiada por Madonna, Simone Siss desenha temas femininos nas ruas

Ao encontrar um antigo amuleto egípcio, uma professora de ciências se transforma na Poderosa Ísis, que voa com a agilidade dos falcões e corre com a velocidade das gazelas. A heroína da série de televisão dos anos 1970 é uma das inspirações da artista plástica Simone Sapienza Siss, 41.

Clássicos do cinema, histórias em quadrinhos e mulheres poderosas são alguns temas recorrentes no trabalho da paulistana, que neste mês expõe na Mono Galeria Individual (rua Cardeal Arcoverde, 2.926, Pinheiros). "Joanas Too Dark" reúne obras com temática feminina que já foram grafitadas pela cidade.

"Falo de mulheres fortes que de algum jeito conseguiram realizar aquilo que queriam", diz ela, que pode juntar numa mesma imagem George Sand (pseudônimo da escritora francesa Amandine), Clarice Lispector e o canibal Hannibal Lecter.

Um grafite gigante do rosto da heroína Poderosa Ísis chama atenção em seu ateliê no Limão, na zona norte. Depois de morar por dez anos em Atibaia (a 64 km da capital), ela voltou há oito meses para a região onde nasceu.

"A cidade está fervilhando", diz, sobre a atual cena paulistana. Mas, curiosamente, foi em Atibaia que ela entrou em contato com a arte de rua, em uma oficina de estêncil (técnica que utiliza telas vazadas para aplicação de tinta) com os artistas Matias Picón e Celso Gitahy, em 2010.

MADONNA E DONA NECA

Desde então, ficou conhecida pelos seus grafites. A imagem da Mulher Maravilha segurando duas latas de tinta spray, com a sigla TPM - Tô Pixando Muro, tornou-se uma das marcas dela, que, em 2012, teve uma obra escolhida pela cantora pop
Madonna para estampar a capa do single "Superstar". O trabalho foi selecionado em um concurso no Museu da Imagem e do Som que reuniu 30 grafiteiros (Siss e a artista V eram as únicas mulheres da seleção).

"Se não tem escrita, não terminei o trabalho", afirma. Quase todas as suas obras são acompanhadas por frases. No estêncil da atriz Marieta Falconetti, tirado de fotos do filme "A Paixão de Joana D'Arc" (1928), de Carl Theodor Dreyer, a artista
escreve: "E Deus, é Joana ou João?".

A linguagem textual também é o foco do projeto "Extervenção - Bota Tudo Pra Fora". Desde o começo de 2014, Siss escreve e fotografa uma frase por dia. A ideia é continuar até 31 de dezembro. As palavras aparecem em diversos lugares, na areia da praia ou em blocos de concreto na rua: "Eu lavo a louça se você enxugar minhas lágrimas" (24/9), "Sou Geni e desvio das minhas próprias pedras" (19/6) e "Moro mesmo dentro de mim" (12/2).

Esse humor crítico e poético talvez seja herança de sua avó Antônia, conhecida como dona Neca. "Aos 95, ela é sempre a última a sair das festas", diz Siss, que fez um enorme estêncil reverenciando a avó, no qual a simpática matriarca segura numa mão a bengala e na outra uma lata de spray.

Certa vez, a artista estava preparando um estêncil com Rhett Butler (Clark Gable em "E o Vento Levou...") abraçado com a escrava Mammy (Hattie McDowell, primeira negra premiada com um Oscar). Um taxista que passava perguntou: "O que você está fazendo?". "Mudando o final do filme", ela respondeu.

Publicidade
Publicidade