Odores de esgoto, comida, ervas e tapetes se misturam no centro de SP

No coração da cidade, a intensidade de aromas é proporcional ao número de lojas, pedestres e carros nas ruas. "Nessa região, o cheiro vem em ondas. Cada rua tem uma concentração de estabelecimentos com produtos específicos e parecidos que dão personalidade ao lugar", diz o osmólogo Fernando Amaral. "Aqui você consegue se localizar pelos aromas."

Para melhorar a percepção olfativa, ele indica cheirar grão de café ou mesmo tomar uma xícara da bebida. "Encostar o nariz na própria pele ou na manga da roupa também ajuda."

Rua 25 de Março
No final da rua, perto do parque Dom Pedro 2º, predomina o cheiro de tapete e de tecido misturado aos aromas de incenso e madeira de lojas como a Katmandu, que tem objetos e móveis vindos da Ásia e da África

Zona cerealista
Nas ruas Santa Rosa, Mercúrio e outras na redondeza, o cheiro de ervas como louro, alecrim e erva-doce sai de grandes caixas e tonéis para se juntar ao rastro do alho que se amontoa em diversas bancas nas portas das lojas

Mercadão
R. da Cantareira, 306, Luz
Na entrada, o cheiro de esgoto e comida podre se misturam. De uma das portas, é possível sentir o tremoço. Lá dentro, cheiro de feira, coco, jaca, peixe, azeitona e outras frutas

Rua Florêncio de Abreu
A fumaça do churrasquinho e o cheirinho de esfirra de carne se misturam à ferrugem e ao odor de borracha das lojas de ferramentas

Praça Júlio Prestes
O cheiro do esgoto predomina e, no dia da visita, ele era tão forte que chegou a incomodar

Rua Boa Vista
Estreita e muito movimentada, a via é uma mistura dos perfumes das pessoas, da fumaça dos cigarros e daquela que sai das inúmeras motos e carros por ali

Ladeira Porto Geral
Em meio ao mar de gente no local, o aroma sentido vai de produto de cabelo e suor a sabão e fedor de bueiro

Olfato consumado
Se nas ruas os cheiros se confundem e por vezes são quase incontroláveis, nas lojas e nos centros comerciais cada aroma é minuciosamente pensado.

De acordo com a perfumista Fátima Farkas, autora do livro "Marketing Olfativo" (ed. Senac, R$ 53,80, págs. 178), o projeto de identidade olfativa de uma marca precisa levar em conta dados como a faixa etária, o estilo, o sexo e o poder aquisitivo dos consumidores.

"Os homens brasileiros, por exemplo, apreciam aromas leves, com notas de fundo de madeira, couro e musgo", explica. Lojas de sapatos chegam a usar essências de couro para reforçar a presença dos produtos. "O que norteia o brasileiro é o aroma cítrico. Na Europa, as fragrâncias são adocicadas e pesadas porque os odores no inverno são mais incômodos", diz Farkas.

Fernando Amaral, 45, formado na Suíça em osmologia (ciência que estuda os cheiros), desenvolve essências até para construtoras venderem apartamentos. "Colocamos cheiro de bolo na cozinha, sabonete no banheiro e algodão no quarto. Assim o cérebro reconhece o ambiente como familiar", diz ele. O desenvolvimento de uma essência custa, em média, R$ 15 mil, incluindo a difusão da fragrância.

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OUTRAS REGIÕES

Zona leste tem praça com aroma de cachorro-quente e shopping com cheiro de chá

Zona oeste tem parques com bichos e clima de cidade do interior

Zona norte tem frescor de árvores e cheiro de biscoito

Zona sul é mistura de cheiro de bichos, plantas, restaurantes e lojas

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