Grafites voltam para o muro do túnel da avenida Rebouças no fim de semana

Os grafiteiros de São Paulo têm motivo para comemorar neste fim de semana. No sábado (dia 1), um grupo de estudantes da Faculdade de Medicina da USP começa a "zerar" o muro que eles "atropelaram" no final de setembro.

Traduzindo o jargão das ruas: os estudante vão pintar o muro de branco ("zerar") para que os artistas possam refazer suas obras, que foram apagadas ("atropeladas") para dar lugar ao anúncio da festa "Show Medicina".

"É uma vitória para a cultura da arte urbana, que obteve direitos que até então eram ignorados", diz o artista Binho Ribeiro, curador do mural realizado por 40 artistas durante o "Festival de Direitos Humanos: Cidadania nas Ruas", evento promovido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), em dezembro de 2013.

Na ocasião, os dois lados do túnel Roberto Melhem, que dá acesso às avenidas Paulista, Rebouças e Doutor Arnaldo, receberam trabalhos de artistas como Binho, Bonga, Snek, Minhau, Crânio, Eco, Tinho e Bieto.

No final de setembro deste ano, no entanto, um dos lados do muro foi apagado por um grupo de estudantes da Faculdade de Medicina da USP para dar lugar ao anúncio da 72a "Show Medicina", que acontece anualmente.

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Anúncio de festa de estudantes da Faculdade de Medicina da USP, no túnel da avenida Rebouças, onde havia um mural foi feito por diversos artistas com apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo
Anúncio de festa de estudantes da Faculdade de Medicina da USP, no túnel da avenida Rebouças, onde havia um mural foi feito por diversos artistas com apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo

A atitude dos estudantes causou indignação nas redes sociais. Em nota em sua página no Facebook, a Coordenadoria de Políticas para a Juventude da Prefeitura de São Paulo fez uma crítica à apropriação do muro.

"A pintura dos estudantes não tinha a ver com o espírito de trazer a arte de rua como uma arte de todos. Era a divulgação de uma festa, de um evento privado", afirma o coordenador Gabriel Medina.

Em outubro, a coordenadoria fez contato com os estudantes, que queriam fazer uma reparação do erro e conseguiu reunir representantes de ambos os lados para conversar e chegar a um acordo.

Ficou então decidido que os alunos arcariam com a despesa de R$ 50 mil, valor gasto pela prefeitura para realizar o mural, além de preparar a parede para que os grafiteiros refizessem as pinturas.

Também foi combinada uma ação social dos estudantes com a população de baixa renda no bairro do Glicério, que ainda não tem data marcada.

"Não queríamos apenas a reparação financeira, mas contribuir com a sensibilização na formação dos médicos e trazer a discussão para a cidade. O Glicério foi escolhido por ser a periferia dentro do centro", afirma Medina.

Segundo ele, a coordenadoria vai mediar o evento que prevê atendimento médico para a comunidade e grafites.

Falta de sensibilidade

"Entendemos a gravidade de nossa atitude, e lamentamos toda a repercussão advinda de nossa ação, que expôs de forma indecorosa os integrantes de nossa instituição e da Faculdade de Medicina da USP como um todo", afirmaram os organizadores do "Show Medicina" em nota no Facebook, no dia 8 de outubro.

No mesmo texto, eles pediram desculpas e explicaram que a pintura de divulgação da festa é feita anualmente desde 1991 "e nunca foi realizada com intenção arrogante ou desrespeitosa".

Os alunos também reconheceram a "falta de sensibilidade" em identificar nos grafites o "esforço artístico coletivo, associado à um projeto de apropriação cultural dos espaços urbanos".

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