Caixa traz cinco filmes de Clint Eastwood como ator e diretor

No fim dos anos 1960, Clint Eastwood estava no topo do mundo. A "Trilogia dos Dólares" —"Por um Punhado de Dólares" (1964), "Por uns Dólares a Mais" (1965) e "Três Homens em Conflito" (1966)—, dirigida pelo italiano Sergio Leone, havia tornado o ator um dos mais famosos e bem pagos de Hollywood. Mas ele queria mais que fama e dinheiro: queria liberdade criativa.

Foi nessa época que Clint decidiu fundar sua produtora, a Malpaso, para ter mais controle sobre os filmes que fazia. Nunca mais atuaria em um longa que não levasse o nome da Malpaso. E outros dois encontros marcariam sua carreira para sempre: o primeiro, com o compositor argentino Lalo Schifrin, que faria a trilha de vários de seus filmes nos anos 1970 e 1980; o segundo, com o veterano cineasta Don Siegel, com quem ele faria cinco filmes e que viraria uma espécie de mentor para ele.

AFP
Eastwood em cena de 'Por um punhado de dólares' (1964), de Sergio Leone
Eastwood em cena de 'Por um punhado de dólares' (1964), de Sergio Leone

Acaba de sair no Brasil uma caixa com cinco Blu-rays, "Coleção Clint Eastwood", que captura o ator/diretor no período entre 1968 e 1973, uma fase de transição em sua carreira, quando passou de astro do cinema a produtor e diretor.

O primeiro filme da caixa é "Meu Nome É Coogan" ("Coogan's Bluff", 1968), primeira colaboração entre Siegel e Eastwood. Este faz um xerife de uma pequena cidade rural do Arizona que vai a Nova York buscar um fugitivo da Justiça (o assustador Don Stroud), preso pela polícia nova-iorquina. Mas o bandido escapa, e o xerife precisa vasculhar a cinzenta metrópole atrás do meliante.

Depois vem "O Estranho que Nós Amamos" ("The Beguiled", 1971), outra colaboração com Siegel. Eastwood faz um soldado ferido na Guerra Civil americana que é resgatado por alunas de uma escola de meninas. É um filme estranho, um drama psicológico cheio de tensão sexual, não exatamente o que se poderia esperar de uma parceria entre dois dos maiores broncos do cinema de Hollywood.

"Perversa Paixão" ("Play Misty for Me", 1971) marca a estreia de Eastwood na direção, em um filme claramente inspirado pelo estilo cru e forte dos "thrillers" de Siegel. Clint faz um DJ de rádio que acaba perseguido por uma fã obsessiva. Foi um grande sucesso de bilheteria, e Clint foi elogiado por seu trabalho de diretor.

O segundo filme de Clint como diretor também está na caixa: é "O Estranho sem Nome" ("High Plains Drifter", 1973), em que ele praticamente reprisa o personagem Homem Sem Nome da trilogia de Leone, fazendo um caubói frio, sanguinário e lacônico nesse faroeste existencialista e sombrio, amado pelo público e odiado por John Wayne, que reclamou da visão cinzenta de Eastwood sobre o Velho Oeste.

O último filme da caixa é também o menos conhecido: "Interlúdio de Amor" ("Breezy", 1973), um drama romântico sobre o relacionamento entre uma adolescente (Kay Lenz) e um homem de meia-idade (William Holden). Eastwood dirigiu, mas o público, certamente esperando outro bangue-bangue sanguinolento, não entendeu, e o filme desapareceu rapidamente dos cinemas.

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Coleção Clint Eastwood ***
Artista: Clint Eastwood
Distribuidora: Universal Pictures (2014, R$ 149,90)

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CONEXÕES

Caixa: Trilogia do Homem Sem Nome ****
Reúne os três faroestes clássicos dirigidos por Sergio Leone e interpretados por Clint. Bangue-bangue
não fica muito melhor que isso.
Diretor: Sergio Leone
Distribuidor: Fox Filmes (R$ 89,90)

Os imperdoáveis ***
Em 1994, depois de mais de 30 anos atuando e dirigindo faroestes, Clint finalmente fez sua obra-prima, ladeado por um elenco de peso: Morgan Freeman, Gene Hackman e Richard Harris.
Diretor: Clint Eastwood
Distribuidor: Warner (R$ 19,90)

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DISCO

Nothing Has Changed ****
David Bowie (Warner Music, R$ 39,90)
Coletânea dupla com 39 músicas de Bowie —de seu primeiro sucesso, "Space Oddity" (1969), à nova e inédita "Sue (Or in a Season of Crime)". Não houve um artista no pop que radiografou os últimos 40 anos como Bowie.
Indispensável.

LIVRO

Eike Batista - Tudo ou Nada **
Malu Gaspar (Record, 2014, 546 págs., R$ 55)
Em trecho deste relato revoltante sobre a ascensão e queda de Eike Batista, um de seus assessores diz a outro: "Cuidado ao se aproximar de Eike. Ele é como o Sol: brilha muito, mas, se você chega perto demais, pode se queimar". Malu mostra como nem Eike resistiu a seu próprio brilho.

FILME

A Primeira Noite de um Homem ***
Mike Nichols (Universal, R$ 19,90)
Para homenagear Mike Nichols, morto recentemente, nada melhor que rever seu melhor filme, esta comédia clássica sobre a revolução sexual e o conflito de gerações. Um dos longas mais emblemáticos do fim dos anos 1960.

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