Conheça o personal de Sabrina Sato, Galisteu e Alessandra Ambrósio

São 5h30 e o homem com gel no cabelo jogado para trás, cara sisuda e porte de executivo sai de casa pisando forte pela rua da Consolação. Está em cima do horário de trabalho, em que deve ficar umas 15 horas, no mínimo.

Marcio Lui, 36, não é funcionário de um banco de investimentos ou de uma firma de advocacia: ele é o personal trainer que, com rigor militar, conquistou clientes como a apresentadora Adriane Galisteu, a atriz Thaila Ayala e a supermodelo Alessandra Ambrósio.

Ao chegar à academia Bodytech dos Jardins, onde ministra de 14 a 16 aulas por dia para um total de 53 alunos, Lui é cumprimentado pela mesma funcionária que mantém a lista de espera por uma aula com ele.

Atualmente, são 30 nomes enfileirados para pagar ao menos R$ 200 por 50 minutos de um misto de exercício aeróbico, musculação e ordens diretas e objetivas com repetições de cara de bravo para quem não as cumprir.

Nem mesmo as piadas de Sabrina Sato, 33, dobram o rigor das ordens. "Sou bom em comandar", diz ele, que fica mais baixo do que Sabrina, quando ela equilibra seu 1,69 m sobre saltos. O tom contido da fala de Lui, quase monótona, destoa da música "putz putz" da academia e de outros professores de educação física, que fazem o tipo "amigão".

O personal das estrelas não tolera atrasos, não se desloca até a casa de quase nenhum cliente para evitar trânsito e não gosta de conversa mole durante os exercícios.

Mas nem sempre foi assim. Doze anos atrás, Lui chegava a São Paulo com um diploma de faculdade conhecida só na região de sua cidade natal, Santos, a experiência de professor-assistente de natação e um ano e meio servindo na Marinha.

Enquanto dividia um apartamento no centro com amigos, montou uma empresa de ginástica laboral. Conseguiu clientes como a FedEx (gigante da correspondência expressa), para os quais passava exercícios para evitar lesões por esforço repetitivo e contornar as dores de quem trabalhava sentado.

Mas uma crise econômica em 2005 catabolizou a carreira: deu fim à firma e teve de aceitar o emprego de gerente de uma academia 24 horas na rua da Consolação, enquanto dava aulas particulares para presidentes de algumas das empresas para as quais trabalhou.

Foi quando conheceu Yan Acioli, que também é personal de Sabrina Sato (só que personal stylist, aquele que compra e escolhe roupas). "Ele me recomendou a ela e começamos a trabalhar para o Carnaval", conta Lui, referindo-se ao ano de 2008, quando Sato ainda era uma integrante do programa "Pânico", e não a apresentadora com o segundo melhor Ibope do horário.

AMIGO E CARRASCO

A ascensão da nipônica (e de seu corpo) serviu como cartão de visitas para outras famosas. Modelos como Fernanda Motta e atrizes como Kika Martinez e Barbara Paz vieram engrossar a clientela, composta "uns 90%" de mulheres.

Sua disposição para o trabalho também contou, ele acredita. "Ele é tão parceiro que às vezes malhamos juntos na madrugada, por causa dos meus horários. Ele também me coloca na linha quando exagero no fim de semana", diz Sabrina, 33.

Nas últimas semanas, as madrugadas dos dois andam cheias. Já estão pegando pesado no novo corpo que Sato desfilará nos sambódromos do Rio e de São Paulo. A apresentadora trará sob o fio-dental uma silhueta mais longilínea, promete. "Vamos malhar muito o bumbum, sem crescer demais." E as formas cavalares de Gracyanne Barbosa e outras rainhas de bateria? "Esquece. Já era."

Não que todas precisem perder músculo. Com Adriane Galisteu, 41, o caminho foi o inverso. "Sempre gostei de ser um pouco mais magra do que o normal", diz a loira, que atribui ao personal "a façanha de ter conseguido me fazer malhar um pouco, além de correr".

A frequência com que Lui treina Galisteu e seu marido, Alexandre Iódice, cresceu tanto que ele virou um amigo. O personal aparece até no retrato de Natal da família, sentado junto dela, do filho e do Papai Noel.

"O Marcio é um amigo incrível, muito talentoso. É um personal que, apesar de a gente ser muito amigo, pega no pé", diz Galisteu, que já passou férias com o professor em sua casa na praia. "A gente estava jogando cartas, se divertindo, mas daí dava a hora de fazer exercício e eu pegava firme mesmo. Alunos adoram isso, o fato de ter dois Marcios: o que se diverte e o que vai 'te matar'", diz.

Nem todos se adaptam ao carinho bruto. É o caso de uma socialite de 34 anos que, dois anos atrás, figurou em sua lista de clientes por dois meses. "Várias amigas estavam fazendo aula com ele. Fui também, mas não quero pagar para falarem firme demais comigo. Não é culpa dele, o método só não funcionou para mim", diz ela, que pede para ter seu nome preservado em sigilo. Hoje, é auxiliada na academia "pelo funcionário que estiver lá, sem muito papo, e muito menos ordem".

O apresentador Gominho, 25 anos e peso que às vezes chega a 130 kg, tampouco sabe se é aluno ou ex-aluno do militar da maromba. "Cheguei a fazer um mês de aula com ele em 2014, mas fui pro Rio trabalhar e ele foi para Londres. Então parei."

O motivo do rompimento, admite Gominho, é uma preguiça maior que o rigor militar. "Ele me pegava pela orelha. Marcava às 8h30, batia em casa, que é do lado do apartamento dele, com tudo. É um incentivo bom. Mas, se nem assim consegui, acho difícil."

Editoria de Arte/Revista sãopaulo

Da relação aluno-professor pelo menos restou uma amizade. "Ele é engraçado com esse jeitão. Eu ia falar que ele é mal-humorado, mas não vou, senão ele fica puto", brinca.

O estilista Sergio K, 30, passou por seis treinadores antes de chegar a Lui. "Adoro porque ele não tenta ser psicólogo, não fica falando demais e é mal-humorado como eu."

Amigos dizem que a única coisa que deixa o professor feliz é trabalhar. O trabalho em doses anabolizadas serve para economizar dinheiro para realizar em 2015 o sonho da casa própria, mas também "para aproveitar a boa fase". "Eu sei que daqui a uns anos vem um outro melhor que treina uma mulher com um corpo mais maravilhoso. E tudo bem."

Foi o que aconteceu com Silvinho Cabral, que zelou pelos músculos de Sabrina por mais de três anos, antes de Lui. "Com a Sabrina, eu não tinha agenda, hora marcada. Tinha de ficar à mercê. No dia a dia, me ligava à uma da manhã."

A exposição também tem outro lado, afirma Cabral: há uma pressão maior do que os 120 kg usados por uma panicat para fazer agachamento. "Imagine ser conhecido como o cara que quebrou o joelho da Sabrina. Não aguentei a pressão, preferi abdicar da cliente."

Mas botar famosos para suar funciona bem como marketing, afirma Lui, que tem mais de 30 mil seguidores no Instagram graças aos notórios alunos —e escalou o irmão para conseguir cuidar do tanto de mensagem que recebe nas redes sociais.

O primeiro encontro com novas clientes, para se conhecer tomando água com gás ou suco verde, ele define como "uma ida ao açougue". "Elas dizem que querem ter as partes das famosas. Uma quer a barriga da Galisteu, outra a bunda da Sabrina."

FILÉ COM FRITAS E PICADINHO

Outros querem só conciliar um corpo perfeito com fritura. Em novembro do ano passado, o professsor foi para Londres fazer um intensivão com Alessandra Ambrósio. A supermodelo precisava estar com um corpo além do inacreditável que ela já carrega no dia a dia: iria desfilar um sutiã cravejado de pedras preciosas de US$ 2 milhões (coisa de R$ 5,5 milhões) para a Victoria's Secret.

O período londrino, com cerca de três horas diárias de maromba, misturou musculação e exercícios aeróbicos que permitissem a Ambrósio comer batata frita horas antes de entrar na passarela, como ela ostentou numa rede social —veículos como o diário inglês "Express" e o "PerezHilton", um dos blogs de fofoca mais lidos do mundo, estamparam o rosto de Lui como o homem responsável pelo corpo da modelo que não teme fritura.

"Uma vida só regrada não vale", diz o ex-militar. "Todo mundo tem direito a um 'dia do lixo' na semana, para fazer algo de que goste." No caso dele, um drinque e o picadinho do Charlô Bistrô, nos Jardins, já contam como desbunde. "Gosto de regras."

No último semestre, ele se colocou outra: relaxar os músculos (e cérebro) a cada duas semanas: "Vou à praia e nado. Tenho saudade de nadar", diz ele, às 17h de uma quarta-feira quente, com mais seis horas de suor adiante.

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