Para entrar em um dos tradicionais clubes de São Paulo —e ter acesso a piscinas, quadras, academia e festas— é preciso comprar um título que pode custar alguns milhares de reais. No entanto, é possível encontrar esses documentos por valores mais baixos em sites como Mercado Livre, OLX e Bom Negócio.
Nessas páginas, a sãopaulo levantou mais de 30 ofertas de sete agremiações diferentes, como Esperia, Palmeiras e Paulistano. Quem coloca os títulos à venda são associados que desistiram de frequentar esses espaços por terem se mudado, trocado de clube, perdido o interesse ou querem levantar dinheiro.
A administradora Roberta (ela pediu para ocultar o sobrenome) colocou dois títulos do Harmonia à venda por R$ 35 mil cada um, ambos herança de família. Foram quatro meses para encontrar um comprador no site OLX.
Roberta também é sócia do Paulistano, onde papéis são anunciados por até R$ 140 mil. A alta é explicada pela escassez, já que o clube só aceita novos sócios que comprarem um título já existente.
Além do documento, a entidade exige que o interessado tenha a indicação de sete pessoas que já frequentam o clube e ainda pague uma taxa de transferência de R$ 500 mil. A mensalidade mais cara custa R$ 618.
Comprar por esses sites pode gerar economia. O publicitário Nicolas Imperialos, 52, colocou à venda seu título do São Paulo, cuja sede é integrada ao estádio do Morumbi, por R$ 10 mil. Um título novo comprado direto do clube sai quatro vezes mais caro. "Me mudei e, pela localização, ficou inviável seguir frequentando", afirma Imperialos.
As instituições não veem problemas na prática, desde que os interessados atendam a requisitos como apresentar vários documentos e não possuir antecedentes criminais. Para minimizar prejuízos, elas cobram taxa de transferência. No caso do São Paulo, esse valor é de R$ 20 mil.
Mesmo com a taxa, a economia na compra virtual chega a R$ 10 mil. "Caso haja pendências no título, o novo usuário precisa quitá-las", ressalva Osvaldo de Abreu, vice-presidente financeiro do clube tricolor.
Algumas ofertas têm regras diferentes. "Os títulos remidos, que não exigem mensalidade, só podem ser vendidos uma vez", explica Rodolfo Cetertick, presidente do Juventus, que possui 50 mil sócios. "Eram 130 mil na década de 1970, mas as pessoas passaram a comprar casa na praia e o número foi diminuindo. Hoje, passam o feriado parados na estrada."
Um dos que puxaram o carro do Juventus foi o administrador Henrique Chajetas, que oferece um título remido por R$ 7.500. "Passei a ir ao Esperia, tenho mais amigos lá", conta.
Para Armando Maria, presidente do Esperia, a venda pela internet é apenas uma nova forma de uma prática antiga. "Na década de 1980, um senhor ficava com um Chevette parado na frente do clube, ostentando a placa: 'vendem-se títulos'. Nesses sites de hoje, vendem até a sogra", brinca.