Crise da água

Na Guarapiranga, faixa de areia maior atrai banhistas e preocupa atletas

"A água subiu três metros nos últimos dias", comenta Alexandre Freitas, 52, enquanto olha para a Guarapiranga como se mirasse o mar. Homem bronzeado e de cabelos brancos, ele vende passeios de banana boat enquanto sua filha comanda um quiosque no parque Praia do Sol, que dá acesso à orla da represa, que registrou 47,8% da capacidade na quinta (29).

Com a seca, o caminho entre a areia e a água atinge 200 m, dez vezes mais que os 20 m de anos atrás. "Agora cabem mais pessoas. Isso aqui fica lotado, mas o povo gasta menos. Aumentou a farofada", analisa Alexandre. "Ano passado, tirava R$ 5.000 em um domingo movimentado. Hoje, ganho entre R$ 2.000 e R$ 3.000."

Em um final de semana de muito calor, o parque recebe 5.000 pessoas. "O acréscimo de visitantes está mais relacionado ao calor do que ao aumento da faixa de areia", informou em nota a Secretaria do Verde, que administra o parque.

ARRASTE PARA VER AS MUDANÇAS NA REPRESA

Silvia Zamboni/Folhapress
Yann Vadaru/Folhapress

"Quem vem para cá é a galera do subúrbio", conta Ricardo César, 39, motorista que aproveitou a tarde de terça (27) para passear com o filho Dener, 2.

A Praia do Sol lembra de fato uma praia, com a diferença de que a água é doce e bem turva. Há sol, vento e quiosques que, além de cederem guarda-sóis e cadeira, vendem cerveja, refrigerante e porções.

Na terça, cerca de 30 pessoas nadavam entre as marolinhas, cujas bordas traziam lixo em alguns pontos. Garotos se divertiam de bicicleta dentro d'água, rasa naquele ponto, para chegar a um banco de areia.

Silvana Helena, 68, aposentada, veio encontrar os netos que pescavam com varas de bambu, mas não conseguiram capturar nenhum peixe.

NAVEGAR IMPRECISO

Se o agito permanece na areia, a situação para quem navega é preocupante. Em dezembro, um campeonato de vela agendado teve de mudar de lugar. Parte dos atletas que treinam na represa de olho na Olimpíada foram para Ilhabela e São Sebastião, pois o baixo nível da água oferece risco.

"Surgiram bancos de areia na represa. Se um barco em alta velocidade se chocar com eles, ficará destruído. Temos embarcações que não são usadas há cinco meses", afirma Marcos Biekarck, gerente-geral do Yacht Club Santo Amaro —atletas do clube já conquistaram sete medalhas olímpicas.

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Outro problema é levar os barcos até a água. O Santo Amaro encontrou um caminho onde a areia estava mais alta e improvisou uma rampa. Já o CDC (Clube da Comunidade) Guarapiranga, mantido pela prefeitura, suspendeu suas atividades nos últimos três meses porque a rampa de 50 m não chegava mais até o molhado. "Perto dela tinha uma camada de lodo que não permitia levar os barcos de outras formas", explica Nancy Vicente, gestora do clube. A água já voltou a cobrir parte da rampa e o espaço começa a retomar as atividades, que incluem passeios de caiaque e aulas de vela.

Com a dificuldade de navegar, restaurantes da região têm perdido público. "As pessoas almoçam aqui depois de passear de barco. Tivemos meses ruins, mas agora melhorou", relata João Batista dos Santos, 35, dono do Mil Milhas.

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