Diretor de longa indicado a Slamdance diz que caos de SP favorece o cinema

"Desejo e vingança se unem quando um escultor rejeitado por sua mulher se propõe a responder sobre o que sente." Eis uma sinopse possível para "Asco".

O filme do paulistano Alexandre Paschoalini Campos, 31, foi o primeiro de um brasileiro indicado na categoria longa-metragem do festival Slamdance —neste ano, foram 11 obras de cinco países, além dos Estados Unidos.

Realizado em Park City, Utah, em paralelo ao icônico Sundance (que premiou a atriz brasileira Regina Casé ), o evento, que neste ano aconteceu entre os dias 23 e 29 de janeiro, garimpa novos talentos há 21 anos.

Lá surgiram, entre outros, Lena Dunham, da série "Girls", Steven Soderbergh ("Onze Homens e um Segredo") e Christopher Nolan ("Interestelar").

Os requisitos? Primeiro filme e orçamento abaixo de US$ 1 milhão (R$ 2,7 mi).

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Paschoalini, cujo trabalho (estrelado por Guto Nogueira, Sol Faganello e Acauã Sol) foi gravado em 30 dias, teve a estreia bem recebida pela mídia local, que classificou o longa como "surreal, visceral e visualmente impressionante".

Crescido entre Aclimação e Vila Mariana e "educado pela Cinemateca [Brasileira]", como diz, ele acumula produções da publicidade à arte.

É o caso dos vídeos "A Friend in Palestine" (veja ao final) e "Como Fazer Sucesso nas Agências" e da videoinstalação "CRU", que integrou a exposição "Made by... Feito por Brasileiros", em 2014, na Cidade Matarazzo.

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sãopaulo - Qual o valor do Slamdance?
Ale Paschoalini - Ele fica "a uma bola de neve de distância", como dizem, de Sundance, o maior festival independente dos EUA. Você pode chamar o Brad Pitt no tapete vermelho do outro lado da rua. É uma vitrine.

E como foi a experiência no festival?
Troquei ideia com o Adrian Belic, um documentarista que já ganhou o Sundance e foi indicado ao Oscar. Ele deu muitos toques e, assim como os outros organizadores, também cineastas, respondeu tudo com a maior humildade.
Também era comum ver estrelas como Jack Black e James Franco cruzando as ruas; o DJ Diplo assistiu "Asco" e elogiou pra caramba a trilha do Rafael Castro.
O mais curioso foi quando eu tinha acabado de sair de uma sessão, entrei no banheiro e eis que do meu lado aparece o Slash (ex-Guns N'Roses e Velvet Revolver) com seu segurança. "Asco" já tinha passado duas vezes, senão teria convidado o cara pra ver meu filme —depois de lavar as mãos, claro.

Como nasceu a ideia de "Asco"?
Estava andando de bicicleta e, num lampejo, vieram os diálogos inicial e final. Ela pergunta: "O que você está sentindo?", e a resposta dele pauta o filme. Só faltava ser um cineasta e fazer aquilo.

E como aprendeu a ser um cineasta?
Desde moleque eu via muito filme. Esperava todos dormirem para ter o controle remoto, fazia uns curtas com a família. Na faculdade [publicidade], um professor me incentivou a focar o cinema.

Por que filmar quase sem diálogos?
A falta de conversa ajuda a emular a solidão de quando um relacionamento acaba. Também incita o espectador a preencher ele mesmo aqueles vazios.

"Asco" foi filmado todo em SP?
Sim, só uma cena em Mairiporã. Foi uma desconstrução de minha São Paulo afetiva, com locais em que sempre pensei, mas sem identificar a cidade. Queria o universal, o atemporal. Por isso o preto e branco, uma ou outra frase em espanhol.

E houve apuros?
Uma vez, filmamos com uma arma em um quintal; um vizinho se assustou e de repente havia 16 policiais em casa. Em outra oportunidade, filmando uma cena de sequestro, mesmo tendo avisado antes os moradores da rua, os gritos da atriz assustaram e alguém chamou a polícia.

A cidade é fértil para o cinema?
É uma das mais cinematográficas que existem, com certeza. A desorganização e o caos de São Paulo multiplicam a possibilidade de quadros e de movimentos de câmera.

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