Crise da água

Com quedas de árvores, paulistanos pedem cortes de 'fábricas de água'

As tempestades que atingiram São Paulo neste ano fizeram os moradores da rua João Andrade, em Pirituba (zona norte), reforçar um pedido à prefeitura: o corte de duas árvores próximas às casas.

O medo de que tempestades derrubem as árvores, assim como ocorreu com outras mil neste ano, tem tirado o sono dos paulistanos.

Pedidos de podas e remoções atingiram 12 mil em 2015. Em todo ano passado, foram 52 mil, uma média de 4.300 por mês.

Giovanni Bello/Folhapress
Poda de árvore na rua Martim Francisco, em Higienópolis na quarta-feira (4)
Poda de árvore na rua Martim Francisco, em Higienópolis na quarta-feira (4)

Os cortes diminuem a vegetação quando a cidade mais precisa dessas "fábricas de água", que aumentam a umidade do ar, amenizam o calor e atraem as chuvas.

De acordo com o biológo Marcos Buckeridge, da USP, o conjunto de 650 mil árvores nas ruas solta, por segundo, vapor equivalente a 15% da vazão do rio Pinheiros no mesmo período.

Ainda assim a quantidade de verde está abaixo da ideal. O padrão internacional é de 12 m² de área verde por habitante. São Paulo tem entre 2 e 3 m², considerando apenas os parques e praças.

DIAGNÓSTICO

Para o engenheiro agrônomo Joaquim Cavalcanti, os problemas provocados pelas quedas geraram uma "propaganda negativa".

"Surge o medo do desconhecido. É necessário ensinar a comunidade para não ocorrer pânico."

Concluir que uma árvore está doente exige mais do que uma olhada rápida. Troncos inclinados ou de aparência seca nem sempre significam uma queda iminente.

Buckeridge diz que uma análise aprofundada precisa de imagens de ultrassom para ver se o interior do tronco está danificado.

"Mesmo para mim é difícil identificar se vai cair. Estão pedindo 'eutanásias'. É preciso cuidado."

Ainda há poucas normas técnicas sobre esses procedimentos e não existe uma específica para o diagnóstico da saúde do vegetal.

Para especialistas, a prefeitura deve melhorar a manutenção das árvores e planejar a arborização a fim de evitar tempos extremos.

Enquanto isso, os paulistanos da João Andrade temem suas moradoras antigas, que estão lá há 40 anos e podem sumir em breve. Duas a menos na cidade de pedra.

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