'Caos é no Iraque', diz subprefeito sobre Carnaval na Vila Madalena

O arquiteto Angelo Filardo morou próximo à rua Aspicuelta, na zona oeste de São Paulo, no início da década de 1980, quando a vida noturna na Vila Madalena inexistia. "Era bem sossegado."

Em janeiro de 2013, ele se tornou subprefeito de Pinheiros e passou a participar da organização do Carnaval na região. Em fevereiro daquele ano, um bloco atraiu 25 mil foliões para as estreitas ruas Fidalgas e Purpurina. "Foi a primeira percepção de que algo precisava ser feito."

Uma Copa e outros dois Carnavais vieram, problemas se repetem e a prefeitura mantém a procura por uma fórmula para atender aos blocos, foliões, moradores e comerciantes.

*

sãopaulo - Como foram os preparativos para o Carnaval na Vila Madalena em 2015?
Angelo Filardo - Trabalhamos desde agosto para estabelecer infraestrutura. O que percebemos no Carnaval é que a situação era parecida com a da Copa e poderia ser aplicada a mesma infraestrutura, o que acabou acontecendo no fim de semana dos dias 21 e 22. É possível realizar o Carnaval com algum tipo de infraestrutura para fazer frente à noite azeda que se instala na Vila e que tem dinâmica própria.

Azeda como?
Vai piorando o ambiente. Quem sai da Vila às 21h sai com uma ótima impressão do bairro, das pessoas, do evento em si. Mas, ao longo da noite, instala-se um ambiente que não é de boa diversão. A partir de uma certa hora, vira uma bebedeira a céu aberto, tem carro com som alto. É isso que a infraestrutura dos dias 21 e 22 procurou evitar. Se houver um esforço para conter esse evento não organizado, para ele não se prolongar até altas horas, a Vila conseguirá conviver com a vocação natural de um bairro onde as coisas acontecem, onde existe uma certa alegria urbana.

O padrão Copa não deveria ter sido adotado no fim de janeiro?
Àquela altura, não. Mas nos dias 7 e 8 de fevereiro, sim. No próprio Carnaval, sim. Qual é a diferença entre a infraestrutura nos dias 21 e 22 e nos anteriores? O bloqueio e o controle de acesso. As demais providências, como policiamento, limpeza, banheiros e horários determinados, estavam implantadas.

Por que não houve o padrão antes?
Houve um erro de avaliação nosso, do pessoal que estava organizando. A percepção é que o gradeamento seria uma medida excessiva em face da natureza do evento e que talvez houvesse algum conflito com a dinâmica dos blocos. Olhando para trás, seria possível conciliar, sim.

O que mais poderia ter sido feito?
Tem um jeito zen de pensar: aconteceu o que de melhor poderia ter acontecido. Estava todo mundo empenhado, e erros de avaliação acontecem. Poderíamos ter implantado o padrão Copa desde o dia 7, o que teria resultado em um processo mais organizado. E faltou um elemento que não faltará nos próximos Carnavais: o transporte público 24 horas.

Por que não são resolvidos os problemas que se repetem na Vila?
Nesse Carnaval, houve um espalhamento significativo na cidade, em número de pessoas e de blocos. O crescimento na Vila foi pequeno. Houve 36 desfiles. Descentralizar é uma das principais ideias que temos a oferecer. Impedir os eventos é uma medida um pouco distante.

Não existe essa possibilidade?
Há blocos que não têm raízes naquele bairro. São esquemas empresariais que poderiam ocorrer em espaços mais adequados. Dialogar com eles é melhor.

E limitar o número de blocos na Vila?
Quando crescem, os blocos estão saindo espontaneamente da Vila. O Vou de Táxi percebeu que cresceria, conversou conosco e mudou o desfile da rua Fidalga para a Faria Lima. De última hora, mudou e escapamos do que vocês chamam de caos na Vila. Deus queira que a gente nunca veja de verdade o que é o caos nem na Vila nem em outro lugar. E não temos problemas de conversar com os blocos, precisamos é lidar com o fenômeno da festa de rua, com aquele aglomerado que chega à Aspicuelta independentemente de haver desfiles.

O total de 36 desfiles é adequado?
Ainda vamos ter de avaliar os problemas que aconteceram, mas não dá para falar de crescimento. Podemos avaliar quais desses blocos que estão lá hoje poderiam conversar conosco para procurar outros lugares, pois estão grandes demais para a Vila. E há uma questão sobre os horários: queremos adiantar um pouco os desfiles noturnos.

Como solucionar as queixas em relação ao número de banheiros?
O diabo está nos detalhes. Querem banheiros químicos, mas não em frente ao seu comércio, à sua casa. Tínhamos problemas na distribuição dos banheiros. Havia um número razoável e melhoramos a sinalização para indicar onde estavam. E havia o problema de alguém não querer usá-lo, pois acha que cheira mal. Aí, fica cheirando mal o bairro.

O sr. mencionou a questão de chamarem de "caos" o Carnaval na Vila. Não houve caos em algum momento? Foi tudo bem organizado?
Caos é no Iraque, era na Bósnia-Herzegóvina. As pessoas não têm noção do que é caos. Melhoramos neste ano um problema que já foi grave: a dificuldade para o morador chegar em casa, de não receber socorro em emergências. Não me entenda mal. Não estou dizendo que tudo estava bem. Digo que um mínimo de civilização permanece. Passadas algumas horas, tudo volta ao normal.

Publicidade
Publicidade