Jassa da periferia de SP faz a cabeça de jovens com arrepiado à la Neymar

O nome de Marcos Oliveira da Silva, 31, é conhecido do Brás até Cotia. Craque em cabelos à la cantor Gusttavo Lima e Neymar, ele é um notório especialista no arrepiado, estilo adotado por jovens da periferia.

"Aqui é arrepiadinho, frisado, mais perifa mesmo", descreve o cabeleireiro Juliano Brito, 23, um dos muitos que aprenderam a profissão com o alagoano, cuja família mantém um império de beleza no Rio Pequeno (zona oeste).

Se não pertencem a algum de seus oito irmãos —que focam em outros nichos, como social e feminino—, os salões do bairro são tocados por seus ex-alunos.

Nos 12 anos em que atua na região, dezenas de aprendizes já passaram por suas mãos. São paulistanos ou pessoas de outros Estados que, em busca de emprego, batem à sua porta, na avenida Rio Pequeno.

Depois que chegam, ficam meses treinando com a tesoura e a chapinha —importante para os penteados, que custam de R$ 20 a R$ 70.

"Vi que o curso [de formação] era caro e comecei a pegar gente [para ensinar]. Foi pela profissão que Deus me deu o que tenho. Vim do Norte só com passagem de miséria", diz Marcos.

Ele calcula que quatro meses são suficientes para aprender o básico, depois é praticar para pegar o ritmo do salão. O cabeleireiro não para de cortar cabelos enquanto fala com a sãopaulo em uma manhã de sábado.

SEMPRE CHEIO

Além de sete cadeiras ocupadas por clientes, nove jovens aguardam sentados e mais quatro bebem cerveja do lado de fora enquanto esperam sua vez. São no mínimo cem cortes por dia, das 9h até o último sair.

Naquele sábado, a sala cheia de gente tinha um clima de bar, com todos falando juntos e fazendo piadas. Nem o chefe era poupado.

"Nasci perto de Palmeiras dos Índios. Onde nasci mesmo nem tem no mapa." A frase de Marcos é seguida por risadas de Delíade, que varre os tufos de cabelos. "Ih, nem tem no mapa!", e dá uma gargalhada.

O alagoano, casado e pai de uma menina, continua sua história. Aprendeu a profissão com os pais no sertão. Os irmãos mais velhos foram os primeiros a chegar ao Rio Pequeno, há 25 anos, onde prepararam o terreno para a família. Hoje a clientela está estabelecida e é fiel.

Há sete anos, Caio Nascimento, 21, vem toda semana refazer o arrepiado. "Fiquei sabendo por um amigo da quebrada. Venho no sábado porque é dia de rolê", diz o morador da comunidade São Remo (colada à USP).

O estudante Danilo dos Santos, 22, sai de Cotia para retocar o penteado. "Onde moro todo mundo vem aqui. Eles capricham." Santos diz que perto de sua casa ninguém corta como Maranhão, seu preferido.

Nascido Fernando Lima, Maranhão, 30, é um dos mais procurados pelos clientes. Ele chegou na cidade há seis anos para trabalhar. Conheceu o projeto por um amigo e até então "tinha preconceito, porque achava que cabeleireiro era tudo fresco".

Hoje, além de cortar no Grupo Marcos, tem seu próprio negócio e conseguiu trazer a família para São Paulo. "Profissão boa é a que dá dinheiro."

Trajetória parecida tem Juliano Brito, o Bahia. Ele era cliente de Marcos e diz que, de todos os salões da família Silva, aquele é o mais conhecido do bairro. O fato de estar sempre lotado não atrai só a atenção da comunidade.

É normal ver carros da polícia passando em frente ao lugar, com os olhares voltados para dentro. "É muita gente, muita muvuca, todo mundo com esse estilo. Mas o pessoal só quer cortar o cabelo mesmo", diz Bahia.

Grupo Marcos. Av. Rio Pequeno, 1.859, região oeste, tel.3719-2577

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