A recepcionista Fabiana Soares, 38, já pagou a um bufê infantil pela festa de seu filho, mas ainda não agendou a data da festa. Fernando Soares, na verdade, ainda é muito novo para comemorar um aniversário. Prestes a completar dois meses de idade, ele vive desde que nasceu na UTI neonatal do Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas.
Fernando nasceu com um quadro de gastrosquise, uma má-formação congênita caracterizada por um defeito na parede abdominal da criança, o que faz com que órgãos como o estômago e o intestino saiam por uma abertura. Fabiana descobriu o problema com cinco meses de gestação, em uma consulta para descobrir o sexo do bebê. "Fiquei sem chão, chorei muito durante os dois primeiros dias e entrei em desespero quando fui procurar sobre essa condição na internet."
"Foi uma gravidez cercada de muita pressão", conta Fabiana. "Eu precisava checar o tempo inteiro se o bebê estava se mexendo." Fernando nasceu com menos de sete meses de gestação, em um parto de emergência. "Ele não estava respirando", conta a mãe. "Mas graças a Deus ele nasceu berrando e chorando bastante. Foi o primeiro alívio."
Alguns outros se seguiram. Após passar por duas cirurgias e vencer uma infecção com apenas nove dias de vida, o pior parece já ter ficado para trás. "Tento dar o máximo para ele, um dia por vez", diz Fabiana, que pega o metrô para visitar o filho todos os dias (só faltou em um "porque tive que fazer a certidão de nascimento do Fernando").
"A rotina aqui é terrível, porque criamos um vínculo forte com as outras mães, e alguns bebês acabam não resistindo. É uma coisa que ninguém quer ver. Você só quer levar o seu filho embora daqui."
Fernando não tem previsão de alta por enquanto. Mas Fabiana já tem planos para o que fazer quando o dia finalmente chegar e sua espera terminar. "A primeira coisa é, se o médico autorizar, levá-lo até Aparecida para agradecer." Depois, é claro, ainda tem a festa, já devidamente quitada e aguardando a definição da data. Sem pressa. "A gente espera, a gente é paciente."