Cada volta no relógio marcava uma nova pior hora da vida da empresária D., 56. E a viagem desde a casa de praia durou quase quatro, as quais ela passou sentada ao lado do filho na ambulância. Sedado, o rapaz na casa dos 30 anos só acordou chegando ao destino, por volta das 18h: uma clínica para tratamento de dependentes de drogas no interior de São Paulo.
Foi em dezembro de 2014, e ele não sabia que aquilo iria acontecer. "A internação é o momento mais difícil. Vim refletindo por que tinha chegado até ali"¦ Mas, ainda não tenho respostas", diz a empresária, que preferiu não se identificar.
A paulista conta que sua família, de classe média, sempre foi bem estruturada. Aos 21 anos, deixaram o filho cursar faculdade na capital paulista. "Mas no fim ele já quase não ia às aulas. As vindas para casa também diminuíram, e a gente sentia ele sempre inconstante... Foi muito difícil, porque ele sempre negou o uso [de drogas]."
Da descoberta da dependência à internação, foram dez anos de uso de "maconha, skank, haxixe e um pouco de cocaína", conta a empresária.
"Como ele morava em São Paulo, a gente só tinha os fins de semana juntos. Mas nem todos. E quando ele vinha [para o interior], pintava que não usava... E a gente não quer enxergar. No fundo, a gente mascara as coisas. É duro assumir que seu filho é drogado." A decisão foi tomada entre ela, o marido e a outra filha. "Nesses casos, quanto menos opinião de fora, melhor."
A previsão é de mais alguns meses de tratamento. Ela diz visitar o filho todos os fins de semana.
Mas ainda dói. "Você está bloqueando uma pessoa da sociedade, até se questiona se tem esse direito." Seu alívio é saber que, mesmo passando o Dia das Mães nessa situação, ele está respondendo bem à terapia.
"Foram muitos anos de dependência química. Agora, acho que tem que ser dado o tempo certo de recuperação. É claro que existe a expectativa. Todo dia eu quero que ele saia o quanto antes, o melhor possível... Ficar longe dele dói muito. Mas estou vivendo um dia de cada vez."