'Sinto que uma parte de mim morreu', diz mãe de menina desaparecida

O sono de Carmem Izabel, 48, não é o mesmo há quatro anos. Apesar dos calmantes, os pensamentos não param e a angústia aperta o peito.

Na semana passada, acordou com um grito de "mãe". Andou assustada pela casa, viu uma das filhas dormindo, lembrou que da outra não sabe nada.

Caçula de cinco irmãos, Larissa despareceu em 2011 aos 11 anos. Desde então, a técnica de enfermagem imprimiu milhares de cartazes, percorreu todas as regiões da cidade e recebeu ligações com pistas erradas sobre a menina desaparecida.

Gabriel Cabral/Folhapress
Carmem Izabel, 48, que tem uma filha desaparecida há quatro anos
Carmem Izabel, 48, que tem uma filha desaparecida há quatro anos

Uma das maiores dores de Carmem, se é possível listá-las, é não ver a filha crescer. Para ela, Larissa ainda é criança. Por isso, comprou uma boneca da princesa Elsa, do filme "Frozen", Barbies e máscaras de Halloween para comemorar o aniversário dela, em 31 de outubro.

As caixas, fechadas, estão em cima da cama, ao lado dos cartazes com fotos da filha e algumas roupas. Carmem conta a história de um casaco rosa, cheio de manchas, como se Larissa ainda o usasse. Ela faz o mesmo com um vestido verde e com livros infantis, alguns comprados depois do desaparecimento.

Guarda tudo no armário, junto aos vários pôsteres que mandou fazer. O primeiro, ainda em preto e branco, e com a palavra "desaparecida" escrita à mão. São registros para as duas. "Se eu não estiver mais aqui [quando ela voltar], ela vai achar que a mãe dela não fez nada? É para saber que não deixei de procurar."

A busca de Carmem não termina. Começou em 27 de abril de 2011 ao ligar para a diretora da escola. Eram 19h30, os ônibus escolares já tinham passado, mas a filha não chegou.

A procura continuou em delegacias e passeatas do Mães da Sé —organização que reúne familiares de desaparecidos. São Paulo é o Estado em que mais desaparecem pessoas: são cem novos casos todos os dias. Só no ano passado, foram 33 mil ocorrências.

A mãe da Larissa, uma entre tantas outras, não deixa de buscá-la nem no trajeto até o trabalho e imagina o que faria se a visse da janela do ônibus. "Pediria para o motorista parar. 'Para o ônibus, para'. Acho que teria um treco."

Na verdade, trecos já teve vários. Só de suspeitas de infarto foram seis. Mas isso não impede o coração de acelerar com o barulho do portão. "Não sei se consigo mais, nem física nem psicologicamente."

O diagnóstico médico é extenso: depressão, distúrbios do sono, espasmo coronariano, que pode causar um infarto fulminante a qualquer momento.
O de mãe se resume a uma frase: "Sinto que uma parte de mim morreu". A espera continua.

*

Para fornecer informações sobre Larissa e outras pessoas desaparecidas entre em contato com a Mães da Sé pelo telefone (11) 3337 3331 ou e-mail MaesdaSe@Globo.com.

Publicidade
Publicidade