Na Vila Romana, borracheiro planta flores e pés de frutas na calçada

A casinha de paredes roxas que fica no número 1 da rua Tito é um mistério para muitos moradores da Vila Romana (zona oeste). Na calçada, pilhas de pneus, uma chave de roda e três macacos hidráulicos disputam espaço com roseiras floridas, pés de maracujá, um jasmim que sobe pela parede lateral e um jambeiro, que logo terá de ser transplantado pra não estragar o calçamento.

"Tem muita gente que para querendo comprar planta ou adubo", explica João Miranda Sobrinho, 51, dono do lugar que nasceu no Rio Grande do Norte e chegou a São Paulo aos 18 anos. "Eu digo que até posso dar uma muda ou um pouquinho de terra, mas explico que o nosso negócio aqui é mesmo consertar pneu."

O borracheiro, instalado ali há 25 anos, nunca foi entusiasta da natureza e começou a cultivar um canteirinho que fez meio por acaso, durante uma reforma, há mais de dez anos. Um dia, duas moças passaram e elogiaram a iniciativa: "Que legal, borracharia com jardim", uma falou pra outra.

O elogio calou fundo em seu João e desde aquele dia ele nunca mais parou. Aprendeu a plantar, a criar mudas e tomou gosto pela coisa, com apreço especial às roseiras. A iniciativa, no começo, causou certa estranheza nos empregados: "Acharam ridículo. Ridículo mesmo. Coisa de mulher", lembra seu João que, no entanto, não deu ouvidos. Foi adiante, sempre com uma mudinha nova, num processo lento, que se arrastou por anos: "A coisa aconteceu de forma bem sossegada, como se eu estivesse fazendo uma arte mesmo."

Aos poucos, a iniciativa começou a chamar a atenção, principalmente do público feminino. "As mulheres se sentem mais à vontade num ambiente bonito. E hoje mais da metade dos clientes vem só por conta da embalagem colorida, porque borracharia tem em todo canto", explica seu João enquanto exibe orgulhoso dois maracujás quase maduros.

O sucesso do empreendimento paisagístico foi tanto que o borracheiro resolveu expandir. Além do seu próprio jardim, passou a cuidar da pracinha em frente e tomou a liberdade de plantar um pé de manga na calçada do outro lado da rua: "No fim, quem vai ver isso tudo é a gente, não é a prefeitura, então a gente pode cuidar também", explica entre dois pés de roseira florida.

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