Em show dedicado ao pai, André Abujamra vira bruxo e até levita

André Abujamra diz que não faz show, faz espetáculo. É porque, para ele, não adianta só chegar no palco e cantar, tem que ter algo a mais, um cuidado, um roteiro com começo, meio e fim.

E assim será o lançamento de "O Homem Bruxa", seu quarto disco solo, neste domingo (17), no Auditório Ibirapuera —os 800 ingressos estão esgotados.

Logo no início, será projetado um vídeo curto e poético de seu pai, o ator e diretor Antônio Abujamra (1932-2015), que morreu no fim de abril.

"O seu tataraneto terá o brilho do seu olhar", diz o artista em um dos trechos gravados, inéditos. O espetáculo já era dedicado ao pai, mas agora ganhou um ar especial. "Foi muito premonitório. Fiz o vídeo bem pouco antes de ele morrer. Cheguei e disse: 'Pai, lê isso pra mim'. Ele botou o bonezinho e fez."

Edubarcellos/Fotocontexto/Divulgação
O músico André Abujamra, que lança o disco "O Homem Bruxa"
O músico André Abujamra, que lança o disco "O Homem Bruxa"

A apresentação —que terá 55 minutos, promete— vai mesclar músicas, vídeos e cenas de filmes. André estará sozinho no palco e, além de cantar, tocará todos os instrumentos, incluindo guitarra, conga, baixo, bateria e piano. "Vai ser uma loucura", diz. E vai mesmo, porque ele garante que vai até levitar.

Sobre o novo CD, André brinca: "Todo mundo pergunta por que 'O Homem Bruxa'? Porque eu quero. O meu pai é o Ravengar, eu faço o que eu quiser". Ravengar era um bruxo interpretado por seu pai na novela "Que Rei Sou Eu?" (1989), da Globo.

O multiartista —que completou 50 anos na última sexta (15)— bancou o show do próprio bolso. "Foi caro, e eu vou fazendo sem patrocínio mesmo. Cara, eu não sei captar dinheiro, eu não tenho talento para isso." Para amenizar os gastos, ele abriu pela primeira vez um financiamento coletivo no Catarse. Até 25/5, quem quiser pode entrar no site, colaborar e ganhar vários brindes.

Uma dica para quem for ao espetáculo: depois que terminar, Abujamra vai aparecer lá no hall do auditório "vestindo" um apetrecho gigante feito especialmente para ele, onde irá tocar vários instrumentos a partir do movimento sincronizado de mãos e pés. Neste "bis diferente", os fãs vão ouvir algumas músicas conhecidas de seu repertório.

Abaixo, leia a entrevista com o artista, que também faz parte das bandas Karnak e Os Mulheres Negras e já morou nos Estados Unidos e no México —mas diz que sua paixão mesmo é por Santa Cecília.

*

sãopaulo - Quanto do seu pai tem neste show?
André Abujamra - Depois que o meu pai morreu, esse show potencializou essa coisa de homenagem. Tudo que eu observava nele estou colocando no espetáculo. Movimento corporal, jeito de falar, jeito de fazer. Mas claro que com a minha comicidade. Meu pai não gostava muito de comédia. Ele era engraçado, mas era outro tipo. Era uma comicidade mais ácida. A minha é mais erê.

Sua liberdade é maior em cena?
Posso fazer qualquer coisa. Nunca pude tocar bateria porque não toco bem, mas tocarei, pois o show é meu. Meu pai um dia falou: "A vida é sua, estrague-a como quiser". Sempre fiz o que quis.

Você é engraçado em muitas músicas.
O paulistano tem bom humor?
O paulista é um bicho muito sociável. A gente é enlouquecido, workaholic, mas é bem sociável comparado a outros lugares do Brasil.

Eu tenho um problema muito sério com minha música, porque às vezes eu falo coisas muito profundas e as pessoas dão risada. Talvez seja o jeito com que eu fale. Mas minhas composições são totalmente profundas. Talvez isso eu tenha puxado do meu pai. É que eu sou bem-humorado, mas às vezes eu digo coisas terríveis, tristíssimas, e as pessoas dão risada, porque eu falo de um jeito leve. Não sei se isso tem a ver com São Paulo, mas tem a ver comigo.

Que lugar mais gosta em São Paulo?
Moro num lugar que amo, Santa Cecília. Ando ali e conheço todo mundo. Nasci lá. A cidade toda é perigosa. Já morei em Higienópolis, Lapa, rodei São Paulo. Tinha mais medo de morar em Curitiba.

Você vai levitar mesmo no show?
Eu vou flutuar de verdade, juro. Por isso que o show está caro. Vai ser no fim. Eu faço essa brincadeira de levitação há muitos anos, olha [ele se levanta e faz pra eu ver; é, parece mesmo levitar um pouco]. Aí eu falei: "Eu quero levitar de verdade". Mas não posso contar como vai ser. Vou levantar 1,20 metro.

O seu show tem sempre roteiro, é como um espetáculo mesmo, né?
Eu não acho que um show é você subir no palco e você tocar um instrumento. Acho que o show é um espetáculo. E eu trabalho com cinema, com música eletrônica, com música punk, então eu botei tudo no show, e me autodirigi, toquei todos os instrumentos.

É um exercício difícil, porque eu tenho que me disciplinar muito. Eu não sou muito disciplinado. Mas eu tive que construir, que amarrar tudo. Eu gosto de ver um espetáculo que tenha um começo, um meio e um fim. Eu sou muito chato comigo, eu acho que estou conseguindo fazer uma coisa legal.

A música "50" é sobre sua idade?
É uma oração sobre os 50 anos, o pensamento de que você com 50 não está na metade da sua vida, você está menos da metade, porque se você viver 100 você está vivendo pra caralho, né. Então eu acho que já passei da metade.

Você se diverte muito no palco?
Escuto muita gente falando "não vejo a hora de me aposentar". Isso é uma coisa que nem passa pela minha cabeça. Nunca vou me aposentar. Aos 90 anos, quero estar fazendo umas loucuras por aí. Dez da noite tocando gaita, sei lá. Eu preciso disso. Eu me sinto muito feliz.

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