Leis não são solução para melhorar cidades, afirma urbanista

Ciro Pirondi, urbanista e diretor da Escola da Cidade, questiona a existência dos planos de zoneamento, como o que está em discussão na Câmara Municipal de São Paulo.

A proposta de revisão da lei de zoneamento , que determina o que pode ou não ser feito em cada quarteirão da cidade, prevê aumentar o número de residências e comércios ao longo de avenidas que possuem corredores de ônibus e estações de metrô. O assunto será debatido em audiências públicas nos próximos meses.

Para ele, as cidades precisam primeiro ser estudadas de acordo com suas dinâmicas e espaços reais. Confira trechos da entrevista.

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sãopaulo - Como avalia a proposta de adensar bairros verticalizados como Higienópolis e Moema?
Ciro Pirondi - O adensamento pelo adensamento vai só complicar uma situação que já é difícil. Ele precisa vir acompanhado de melhorias na estrutura existente, especialmente na parte de transportes e na qualidade das calçadas. No Copan moram 5.000 pessoas e 9.000 passam por suas galerias. Na hora de pico, há um problema sério de circulação ali embaixo.

O adensamento pode resolver os problemas de mobilidade?
Não creio. Não se trata de uma conta direta. A cicatriz urbana que o automóvel gerou só vai se reverter se o desenho da cidade for refeito como um todo. No entanto, iniciativas como o uso misto [prédios com residências e comércio] são bem-vindas.

O zoneamento é capaz de gerar mudanças profundas na cidade?
Há supervalorização do Plano Diretor e do zoneamento. Se realmente resolvesse, teríamos cidades maravilhosas. Nova York não faz um plano assim desde 1969 e é muito melhor estruturada que a nossa.

O que fazer então?
A gente codifica a cidade em leis e papeis pintados e depois tenta construí-la. As cidades que deram certo no mundo se focaram em estudos e desenhos sobre como seu espaço se configura na prática. Não basta dizer que aqui vai ter uma casa e ali será feito um prédio.

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