Do 13º andar, Loyola Brandão vê São Paulo com ares de interior

"Eu não fico nesse lugar nem um minuto, parece um cemitério." Foi a primeira coisa que o escritor araraquense Ignácio de Loyola Brandão disse quando, com a mulher, entrou na sala do apartamento na rua João Moura, em Pinheiros.

Os últimos inquilinos do imóvel haviam pintado o chão de preto e as paredes de amarelo ovo. "Você esqueceu que eu sou arquiteta?", desafiou Márcia, sua mulher. E pôs a reforma em marcha.

VEJA CASAS DE ESCRITORES PAULISTANOS FAMOSOS

O apartamento, comprado em 1992 durante uma crise imobiliária que inflou as economias do escritor, tem história literária. Segundo Loyola Brandão, foi erguido no terreno onde ficava a casa da escritora Helena Silveira, pioneira da crítica de TV. Na negociação com a construtora, Helena ficou com a cobertura dúplex, que após sua morte seria alugada, descaracterizada e, posteriormente, vendida ao autor araraquarense.

A reforma transformou radicalmente o imóvel, tornando-o mais amplo e iluminado. No piso de cima, o escritor mantém sua mesa de trabalho cercada por cerca de 8.000 livros - uma biblioteca afetuosa, repleta de primeiras edições e exemplares autografados. Ao lado, um privilegiado terraço abriga pés de pitanga, jabuticaba e laranja champanhe.

Ali, no silêncio do 13° andar o autor vê uma cidade que, aos seus olhos, ainda guarda ares de interior. Loyola Brandão continua a ter conta na quitanda, no açougue e na banca de jornal e assiste às mudanças ao redor com serenidade. Ponto de vista curioso para alguém que criou a distópica São Paulo de "Não Verás País Nenhum".

"Quando eu escrevi o livro, eu queria chocar, mostrar uma cidade e um país que não queríamos para nós, para os nossos filhos. Hoje, não vejo a cidade assim", exclama aboletado em sua luminosa mesa de trabalho. "Se bem que se fizerem o shopping novo na esquina com a Teodoro Sampaio que estão prometendo, isso aqui vai virar um inferno de trânsito."

VEJA ONDE MORAM OS ESCRITORES PAULISTANOS

.

Publicidade
Publicidade