Aula de como preencher livros de colorir com artista plástico custa R$ 230

Quando Lucilia Pecego, 69, ganhou um livro de colorir de presente de Dia das Mães, pensou que seria um regalo daqueles que não saem da estante. Mas, poucas noites sem novela depois, estava viciada em "O Jardim Secreto", mais de 750 mil exemplares vendidos. Nas páginas brancas, podia extravasar os quase nove anos de curso de artes.

Chegando à aula, o assunto também pintou na conversa com um colega. Foi aí que o engenheiro civil Carlos de Almeida, 54, se levantou e propôs ao professor Walter Miranda: "Por que não uma aula de pintura focada em livros de colorir?"

Em 6 e 7 de agosto, o professor e presidente da Apap (Associação Profissional de Artistas Plásticos de São Paulo) ministra seis horas de aulas ensinando aos pupilos como técnicas de pintura podem aprimorar o desfrute (e os resultados) da coqueluche editorial -mais da metade dos best-sellers do mês são de traços para se preencher.

"São aulas bem básicas, mas que dão parâmetros para as pessoas melhorarem a produção, além de despertar nelas um ímpeto de produzir mais", diz Walter no salão repleto de plantas e de luz do sol onde ministra suas aulas, no Sacomã, região sul.

A primeira parte do curso, que vai das 14h às 17h, será teórica, abordando conceitos como equilíbrio de cores. "Vou ensinar o que é uma cor primária, uma secundária, uma cor quente, uma fria. O equilíbrio delas", afirma o professor Miranda.

Na segunda parte, os até 50 alunos esperados colocarão em prática a caixa de lápis de cor e as imagens em fotocópia que ganharão de brinde com os R$ 230 da inscrição. "Todos vão aprender a preencher uma mandala uniformemente, além de exercícios de mudança de tom."

Em seguida, o professor vai "avaliar a proposta do livro que cada um trouxe de casa". Quem não tiver um pode comprar na livraria Martins Fontes da avenida Paulista, onde se dá o curso. Para exemplificar a análise, ele aponta para a imagem de duas sereias e diz: "De que cor eu pintaria os rabos delas? E por quê?".

A resposta não está na intuição na maioria das vezes, ele explica. "Ela nem sempre funciona. É bom ter um repertório."

CAÇA-NÍQUEL?

Alguns colegas artistas veem falta de harmonia na empreitada. "É deprimente! Me desculpe, mas não quero ter meu nome colocado nem perto dessas páginas, que são um grande caça-níquel", diz outro professor de renome.

"Há preconceito do meio artístico com esse assunto. Mas nem todos que pintam um livro querem ser artistas. Querem uma forma de passar o tempo, de ter uma alegria de produzir", diz o professor Miranda, que também faz planos de lançar um livro sobre o mesmo tema.

Na última terça-feira (14), a aposentada Lucilia levou o livro de colorir e a neta, Júlia, 8, para o curso. "Eu gosto de pintar. É gostosa essa aula", disse a menina, enquanto coloria de amarelo-ovo e laranja a cabeça de um estegossauro.

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